É melhor fechar as portas ou pedir recuperação judicial?

Dados da Serasa Experian mostram que PMEs lideram os pedidos. Mas se for problema estrutural da empresa, nem sempre é necessário recorrer à Justiça. Saiba como evitar

Redação DC
29/Set/2015
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É melhor fechar as portas ou pedir recuperação judicial?

Olhar o fluxo de caixa para o passado e projetá-lo para a frente. Renegociar com fornecedores e bancos. Achar um sócio do mesmo ramo para unir forças. Ou, em último caso: pagar as dívidas,e baixar as portas até a economia voltar ao normal.  

Pequenas e médias empresas são maioria entre as que utilizam a recuperação judicial para evitar a falência.  Porém, acionar a Justiça para negociar com credores não é necessariamente o melhor recurso para amenizar problemas estruturais. 

Com a economia fraca, o número de pedidos de recuperação judicial deve bater recorde em 2015, de acordo com dados da Serasa Experian.

Até agosto passado, somavam 766 --o maior valor acumulado para o mês desde 2005, quando a lei que instituiu o recurso entrou em vigor. Este ano, pequenas empresas entraram com 393 dos pedidos, enquanto as médias, com 228.

“Em termos absolutos, o número de pequenas empresas é maior porque, no Brasil, elas são a maioria dos CNPJs ativos”, disse Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, ao jornal O Estado de São Paulo.

Pelos dados de agosto da Receita Federal, há mais de 16 milhões de CNPJs ativas no País, sendo 12,8 milhões de pequeno porte e 584,4 mil de microempresas.

Aplicar as estratégias citadas acima – principalmente em tempos de crise – e antecipar problemas do ponto de vista administrativo é melhor do que chegar ao extremo de procurar a Justiça, afirma Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

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“Se a empresa pede recuperação, pode se atrapalhar e ficar com o nome meio negativado”, diz. E exemplifica: no caso de uma loja, é melhor liquidar o estoque, pagar fornecedores e dívidas como o aluguel, e simplesmente cerrar as portas.  

“Só não dá para ficar no mercado perdendo dinheiro. É parar, e voltar em outra hora melhor”, completa o economista. 

Apesar de estar em expansão, a procura pelo mecanismo entre os pequenos negócios ainda é baixa. Muitos adotam a “estratégia do avestruz”,  ao simplesmente baixar as portas, afirma Bruno Quick, gerente do Sebrae. 

“A lei no Brasil favorece muito o credor, pois a dívida nunca prescreve”, destaca. Para o analista Gabriel Rizza, também do Sebrae, regras mais claras, simples e previsíveis dariam mais segurança jurídica para as empresas endividadas.

CUIDADO COM A CONCORDATA 

Para evitar um pedido de recuperação judicial, um planejamento de longo prazo –com duração entre cinco e dez anos– uma avaliação detalhada e periódica das condições da empresa são essenciais.

O exame, porém, varia para cada tipo de negócio e depende do quanto a empresa está endividada. 

“Muitas empresas apenas jogam mais para frente a amargura de um processo de falência”, disse Paulo Funchal, sócio da divisão de Fusões e Aquisições da consultoria Grant Thornton, ao Estadão.

Espécie de termômetro para as pequenas e médias empresas, o caixa pode ajudar a elaborar estratégias de negócio, de acordo com Alfieri, da ACSP. 

“O fluxo de caixa precisa projetar ascendência. Se as retas (que apontam a entrada e a saída de recursos) indicam que vão se cruzar, é um sinal negativo. Se o movimento cai, é melhor parar de operar antes de entrar no vermelho”.  

Utilizar dados de tributação enviados à Receita para fazer um raio X de sua situação é a sugestão de Ulisses Brondi, sócio da consultoria Asis. “Como é preciso guardar esses dados por pelo menos cinco anos, é possível fazer um panorama”, afirmou ao jornal.

Outra possibilidade, também citada por Alfieri, é mudar de ramo. Ou procurar um sócio: segundo afirma Funchal, da Grant Thornton, mesmo com as complicações no cenário econômico, empresas brasileiras ainda atraem investidores estrangeiros que olham para o longo prazo.

Mas, e quando se cogita uma concordata? O economista da ACSP diz que estatísticas apontam que PMEs não costumam recorrer ao crédito em caso de problemas. Operam de forma puramente comercial, e assim vão levando. 

O complicado é quando realmente precisam recorrer a bancos, entram no vermelho e só resta a concordata. “São dois anos para se recuperar, e nem sempre dá certo. Pode até se transformar em falência”, afirma Alfieri. 

Foto: Fátima Fernandes/Arquivo DC 

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