É incrível: Lula agora acusa a Lava Jato pela morte de sua mulher

A acusação é leviana em termos médicos. Marisa Letícia era hipertensa e sofreu um aneurisma fatal. Esse não é o único ataque à Lava Jato. Segundo o ministro Luiz Fux, do STF, o Congresso se movimenta para enfraquecer a operação iniciada em Curitiba

João Batista Natali
28/Ago/2017
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É incrível: Lula agora acusa a Lava Jato pela morte de sua mulher

Embora não tenha pé, nem cabeça, a retórica de Luís Inácio Lula da Silva atingiu nesta segunda-feira (28/08) o cúmulo do atrevimento ao atribuir aos procuradores da Lava Jato a morte de sua mulher.

Maria Leticia morreu em 3 de fevereiro de um acidente vascular cerebral (AVC). Ela sofreu a ruptura de um aneurisma no cérebro, provocado pela hipertensão associada ao tabagismo.

Na época, discursando durante o velório dela, Lula afirmou que a esposa estava triste “por conta da canalhice e da maldade do que fizeram com ela”. Disse também esperar que “os facínoras tenham um dia a humildade de pedir desculpas”.

Ele foi bem mais longe nesta segunda-feira, em entrevista a uma emissora de rádio de Currais Novos (RN).

 “Esses meninos da Operação Lava Jato têm responsabilidade na morte dela. Acho que têm. Você não pode dedicar uma vida inteira a cuidar dos filhos, a fazer política de solidariedade, e de repente ser taxada de corrupta da forma mais banal possível, da forma mais cretina possível. Não tem explicação. Esses meninos criaram uma mentira, fizeram Power Point da mentira, e agora não sabem como sair da história.”

ATIBAIA E TRIPLEX DO GUARUJÁ

Marisa Letícia era ré em dois processos, ao lado do marido. O primeiro se refere ao apartamento do Guarujá, e no qual, depois que ela morreu, Lula foi condenado a nove anos e seis meses.

O segundo processo é o do sítio de Atibaia, onde a própria Marisa Letícia intermediou pessoalmente, com a OAS, uma ampliação e reforma, no final de 2010, para fazer uma surpresa ao marido, que pouco depois encerraria seu mandato de presidente em Brasília.

O sítio, cuja propriedade Lula sempre negou, foi frequentado por ele e por toda a família durante 113 finais de semana – a contabilidade é possível a partir de diárias pagas à escolta da Polícia Federal a que um ex-presidente tem direito – antes que a mídia abordasse o assunto.

Detalhe: encontra-se ainda em Atibaia a adega com os vinhos que Lula ganhou de presente, quando ocupava o Palácio do Planalto.

O caso do sítio ainda está para ser julgado pelo juiz Sérgio Moro.

Os ataques de Lula à Lava Jato coincidem com a publicação de entrevista do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, e que deverá substituir Gilmar Mendes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Ele disse ao jornal O Globo que o Congresso se movimenta para enfraquecer a operação iniciada em Curitiba.

Disse haver um paralelo com o que ocorreu na Itália nos anos 1980, quando deputados e senadores “fulminaram” os resultados positivos da Operação Mãos Limpas, que na época desintegrou o sistema partidário italian.

Um dos indícios, que Fux não citou, foi o encaixe no projeto de reforma política de um mandato de dez anos para os ministros de tribunais superiores. Ou seja, tiraria deles a vitaliciedade.

ATAQUES À LAVA JATO

De certo modo, a Lava Jato está sendo alvejada por muitos ângulos simultaneamente. E Lula, na condição de réu, afirma estar sendo perseguido pelos membros do Ministério Público e pelo Judiciário.

O que agora corre é uma auto-vitimização, que é bem mais que uma liberdade poética que Lula assume com a verdade. Acusa “as elites” de procurarem aniquilar a herança política do PT.

E no início de sua viagem cometeu uma barbaridade factual imperdoável. Disse – o que é verdade – que Tiradentes apenas se tornou herói nacional após a Proclamação da República.

Mas disse que foi “a elite de São Paulo” que o condenou à morte, quando em verdade a sentença partiu de Lisboa, da rainha Maria 1ª, antes que a família real chegasse ao Brasil. São Paulo não tinha elite ao final do século 18 e era uma cidade irrelevante, mesmo em termos econômicos.

O ex-presidente começou no último dia 17, pela Bahia, uma turnê de 20 dias pelo Nordeste, na qual, ao subir em palanques, procura em linguagem agressiva e simples fornecer sua versão particular da história.

Eis alguns exemplos de afirmações que têm, apesar de tudo, uma boa receptividade das plateias formadas por simpatizantes:

“Bolsonaro é o resultado do analfabetismo político no Brasíl” – entrevista a uma emissora pública da Bahia.

“Quando resolvi ser candidato a presidente, o Nordeste tinha menos universidades que as outras regiões do país” – discurso em Itabaiana (SE), e com afirmação desmentida pela Agência Lupa.

“Talvez eu tenha cometido erros no governo”, discurso (SE).

“Esse pais tem jeito. Não nasceu para ser a m.... que é”. Discurso em Feira de Santana (BA).

Sobre Dória: Ele faz tipo um cara de novela. Tem um papel a cumprir. Vou atacar de Messi (atacante do Barcelona). Tô apanhando que nem cachorro vira-lata, e quando esses caras veem uma pesquisa, eu tô na frente”. Entrevista à rádio Metrópole (BA).

Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

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