Dois petardos no caminho final do PT
O ex-tesoureiro João Vaccari Netto pensa em delação premiada, enquanto José Dirceu propõe um inédito "acordo de leniência" para abrir os segredos do partido

Pode parecer coisa pequena, já que hoje o Partido dos Trabalhadores é apenas uma sigla da oposição. Mas há no horizonte revelações pesadas sobre a recente história da corrupção na política, com dois roteiros revelados neste fim de semana.
O primeiro saiu na revista Veja de sábado (11/06). Ela informou que o ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, preso desde abril do ano passado e já condenado a 26 anos de prisão – e com dois outros processos em andamento – decidiu fazer delação premiada.
O segundo saiu na Folha de S. Paulo desta segunda-feira (13/06). Trata-se da intenção de José Dirceu, preso inicialmente pelo Mensalão e depois novamente pela Lava Jato, de propor ao Ministério Público um “acordo de leniência” que, em lugar de envolver empreiteiras, envolveria o próprio PT.
O caso de Vaccari é o mais bombástico por comprometer tudo o que aconteceu de financeiramente errado em seu partido nas últimas campanhas eleitorais. Ele foi o agenciador discreto de mais de R$ 1 bilhão e conhece os dutos que unem o PT e aliados aos cofres de grandes prestadoras de serviço às estatais.
Cuidar das finanças de um partido com antigas ambições políticas que supunham muito dinheiro é algo que já levou à cadeia o mais conhecido predecessor de Vaccari, Delúbio Soares,
Segundo a Veja, a intenção de Vaccari alarmou em Brasília a cúpula petista, que despachou para Curitiba, onde ele está preso, o líder do partido na Câmara, deputado Afonso Florence (BA), que voltou com uma versão curiosa e tranquilizadora.
Disse que Vaccari se dispunha a uma “explosão controlada”, que, por mais que destruísse Dilma Rousseff – carta virtualmente fora do baralho – provocaria efeitos semelhantes em Michel Temer, o presidente interino da República.
Resta saber se o Ministério Público concorda com essa seletividade de informações. Seria algo inédito na Lava Jato, desencadeada em 2014.
Vaccari é coadjuvante no outro grande roteiro da semana, que envolve em primeiro plano José Dirceu. A ideia de transpor a um partido político o instituto do acordo de leniência – que beneficia apenas as empresas, para que elas possam voltar a fazer negócios com o governo, depois de revelarem tudo o que sabem de podre e pagarem multas altíssimas.
Os justiceiros de Curitiba acreditam que a ideia não faz por enquanto muito sentido. Mas Dirceu é assessorado por seu advogado, Roberto Podval, considerado um profissional sério e competente entre os criminalistas.
Estamos então nesse pé, com essas bombas de efeito retardado, mas nenhuma destruição de imediato.
Enquanto isso, há notícias ruins para os roteiristas do retorno de Dilma, que deve ser julgada definitivamente pelo Senado nos primeiros dias de agosto.
Uma delas diz respeito aos chamados senadores “indecisos”, que votaram pelo impeachment em 11 de maio e que poderiam decidir em sentido contrário na votação definitiva.
Do grupo faz parte Cristovam Buarque, o único político sério, que exige em troca uma autocrítica da presidente afastada e convocação antecipada de eleições, algo que não depende dela e é pouco verossímil.
Os demais são Romário, Omar Aziz, Acir Gurgacz, Benedito de Lira, Edison Lobão e Roberto Rocha. Estão todos atrás de recompensas, como uma das diretorias de Furnas. no caso do ex-jogador de futebol e hoje senador pelo PSB fluminense.
Pois bem, a notícia ruim para eles todos está no fato de o Tribunal de Contas da União (TCU), depois de rejeitar as contas de 2014 da presidente, agora está às vésperas de rejeitar as contas de 2015, justamente aquelas que estiveram na berlinda durante o processo de impeachment.
É a confirmação das pedaladas fiscais. Dilma pedalou R$ 49,6 bilhões, por meio de bancos públicos e da edição de Medidas Provisórias que aumentaram os gastos do governo, sem que os critérios jurídicos necessários para que elas fossem publicadas.
Com a informação, de nível bem mais técnico que político, esses senadores não poderão evocar estarem acometidos de dúvidas. A não ser que se transfiram de mala e cuia para o bloco dos 22 votos que negaram em maio o afastamento da presidente. É algo que tem um alto preço eleitoral.
Um lembrete. Existem 81 senadores, e são necessários 54 votos para o afastamento definitivo de Dilma. O presidente interino Michel Temer trabalha com a existência, a seu favor, de 58 a 60 votos.
É uma contagem que se torna mais sólida conforme informações – como as do TCU – vão se somando ao roteiro.
FOTO: Agência Brasil