Dicas para planejar o seu sabático
O planejamento deve ser feito com um ano de antecedência e o valor a ser economizado depende do local e da duração da pausa
Ao tomar coragem para fazer o sabático, é preciso iniciar um planejamento, que inclua a "venda" da ideia para parceiros de trabalho e familiares. Com isso, já é possível começar uma poupança e a recomendação é que isso ocorra com antecedência mínima de um ano. O valor a ser economizado depende do projeto. Há quem queira ficar no Brasil ou botar a mochila nas costas e conhecer o mundo.
O objetivo decide orçamento e tempo. Herbert Steinberg, autor do livro Sabático Um Tempo para Crescer, diz que não há duração certa: a pausa pode ser de três meses, seis meses, um ano. O importante é criar condições para realizar planos que ficaram anos na gaveta.
No Brasil ou no exterior?
O professor de finanças Samy Dana, da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, diz que é preciso colocar no papel quanto será gasto.
"Quando se vai para fora, os gastos são maiores. O que se gasta aqui não é boa medida para o custo do sabático no exterior."
Ele recomenda uma planilha para que se calcule o valor da poupança mensal. A reserva deve ser feita em um ano ou mais em renda fixa, alternativa conservadora, pois o recurso não pode ter o risco de encolher.
O professor do Laboratório de Finanças da Fundação Instituto de Administração Keyler Carvalho Rocha afirma que o ideal é distribuir os recursos em várias aplicações. Uma parte pode ficar na poupança e outra em fundos DI (caso o valor de entrada permita taxa de administração menor que 0,5%).
Outra opção é o Certificado de Depósito Bancário (CDB), mas nesse caso é bom prestar atenção ao prazo de resgate, já que há Imposto de Renda (IR), e também ao retorno oferecido. Ele cita, ainda, Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito Agropecuário (LCA), isentas de IR, e títulos do Tesouro Nacional disponíveis no sistema Tesouro Direto.
Difícil, mas não impossível, é financiar o sabático com um patrocínio. Mais uma alternativa é tentar negociar licença remunerada na empresa. Steinberg conta que tirou um sabático em 1999, quando fez o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Na época, conseguiu patrocínio para bancar a experiência. Se o patrocínio ou a licença remunerada estiverem fora de cogitação, o autor sugere ocupar a casa de campo de um amigo em troca de manutenção, se uma temporada em um lugar assim for parte do projeto. O livro tem outras dicas, como vender ou alugar o imóvel em que mora durante a pausa. Outra é trabalhar como courier (mensageiro).
Mais uma saída interessante é trabalhar em dois empregos por alguns meses antes de sair para o sabático. Quanto mais for possível poupar para realizar essa pausa, melhor.
SABÁTICO NÃO É FÉRIAS
De forma geral, o sabático é uma palavra associada a reflexão e renovação, mas não se deve confundi-lo com férias. "Ele deve ter um propósito, com começo meio e fim", diz Herbert Steinberg, autor do livro Sabático Um Tempo para Crescer.
Steinberg lembra que o espírito é justamente a coragem de perceber o novo. No livro, o autor recomenda a quem está em dúvida se fazer as seguintes perguntas antes de tomar a decisão: qual é o meu grau de satisfação com o trabalho atual? O que faço é conflitante com desejos e valores? Preciso parar para colocar as ideias em ordem? Ele ressalta que o sabático não deve ser uma resposta para crises de idade ou outros problemas, como depressão ou ansiedade, que devem ser tratados no consultório.
A psicoterapeuta e coaching Marie-Josette Brauer afirma que a decisão é muito difícil porque não se sabe o que vai acontecer. "No consultório eu sempre pergunto: por que você quer tirar o sabático? Para quê? Estudar o quê? trabalhar com o quê? O que não pode é tirar um ano para fazer nada. A pessoa precisa ter um objetivo, nem que seja um sonho pessoal", afirma.
É preciso avaliar a situação, os motivos e competências e fazer um balanço do que pode ser feito com elas no futuro. Na opinião de Marie-Josette, o sabático deve ser um período para realizar um sonho, aprender uma língua, andar de bicicleta ou ir para o exterior, entre outros. E isso pode não ser fácil, já que muitos sonhos ficam submersos pela rotina. "É como se eles fossem cobertos por camadas de areia, de maneira lenta, até se formar uma duna. Depois de algum tempo você não os localiza mais. O importante é quebrar padrões sólidos e emperrados para repensar as coisas de outro modo", explica a terapeuta.
É comum também a coaching ouvir de pacientes a desculpa de que o mundo está em crise e deixar o emprego agora aumentaria o risco de não conseguir outro ao fim do período. "A pessoa não percebe que pode perder o trabalho no dia seguinte. Na verdade, o que acontece mesmo é uma acomodação que encobre a falta de coragem. O bom e velho depois eu vejo, depois eu penso", explica.
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