Desafios e oportunidades do mercado de arte no Brasil, que movimenta R$ 2,9 bi

Exportações crescem 24% na comparação anual. Estados Unidos e Reino Unido respondem por 77% das compras

Anna Scudeller - DC News
03/Mar/2025
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Desafios e oportunidades do mercado de arte no Brasil, que movimenta R$ 2,9 bi

Há duas informações recentes que ajudam a ler o mercado de arte brasileiro. Nenhuma delas é positiva. O primeiro ponto negativo é que as cifras movimentadas no país (cerca de US$ 580 milhões) correspondem a apenas 0,9% do mercado global de arte, estimado em US$ 65 bilhões. É proporcionalmente menos que a metade da participação do PIB do Brasil (2%) em relação ao PIB global.

O segundo ponto negativo é o próprio atraso e a dificuldade na coleta desses dados. Os números mais recentes referem-se a 2023, foram compilados e analisados em 2024 e divulgados apenas em 2025 – fazem parte da 7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil 2024.

Ainda assim, paradoxalmente há uma boa notícia no horizonte. Por quê? Porque, como se conclui na pesquisa, o cenário também apresenta oportunidades promissoras. “O crescente interesse por práticas sustentáveis e a valorização da diversidade cultural no mercado internacional abrem caminhos para que a arte brasileira alcance maior relevância.”

Apesar de trazer dados de 2023, a pesquisa é passo obrigatório para a evolução do mercado de arte. Foi o primeiro levantamento desde 2018 e revela o quanto é preciso avançar nesse segmento. “Este relatório é parte desse esforço contínuo”, afirmou Fernando Ticoulat, diretor-executivo da Act Arte, que realizou a pesquisa, encomendada pela Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

“A pesquisa oferece uma análise detalhada sobre as atividades, o comércio, e as percepções do mercado de arte no Brasil, com especial atenção à internacionalização e à profissionalização do setor”, afirmou Ticoulat. E traz dados promissores. Enquanto o valor do mercado global registrou queda de 4%, entre 2022 e 2023, no Brasil houve alta de 21%, atingindo os R$ 2,9 bilhões.

Outra constatação promissora é uma ascendente internacionalização. Embora o negócio dependa majoritariamente de compradores locais, que respondem por 77% do movimento das galerias, as exportações ganharam fôlego e aumentaram 24% em 2023. Cinco países correspondem a 90% dessas vendas: Estados Unidos (56%), Reino Unido (21%), França (7%), Suíça (4%) e Bélgica (2%). E 61% do que foi exportado refere-se somente a pinturas. O foco no mercado internacional foi um dos temas centrais da pesquisa. Victoria Zuffo, presidente da Abact, diz que a intenção é oferecer uma análise técnica e estratégica que oriente ações de internacionalização. “Fortalecendo a competitividade das galerias brasileiras em mercados globais”, afirmou Victoria.

CONCENTRAÇÃO

No mercado interno, um dos obstáculos é a concentração das galerias. Entre as participantes da pesquisa, 82% estão sediadas em duas cidades: Rio de Janeiro e São Paulo – esta, sozinha, concentra 68%. Apesar disso, aqui também cabe uma leitura positiva para um futuro próximo. Na pesquisa de 2018 (a última antes da edição de 2023), apenas seis galerias afirmaram ter operações com filiais em outras cidades, tanto no Brasil quanto no exterior. No levantamento mais recente, esse número subiu para 23. O número total de filiais delas alcançou 42, das quais seis no exterior.

No âmbito interno, reflete uma estratégia de mão dupla: tanto de galerias sediadas no eixo Rio-São Paulo que abriram filiais em outras cidades para se aproximar de novos públicos, quanto galerias de outras cidades e regiões que decidiram estabelecer filiais no eixo Rio-São Paulo, buscando maior inserção e visibilidade nos principais polos de mercado. Segundo os autores da pesquisa, “a diversificação regional, caso se confirme, poderá indicar novas oportunidades de expansão e fortalecimento do mercado de arte em outras regiões do Brasil”.

A 7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil 2024 teve a participação de 76 galerias (pesquisa quantitativa) e 45 pessoas-chave do mercado de arte contemporânea, como galeristas, colecionadores, curadores e representantes de feiras (na parte qualitativa). Além das informações primárias fornecidas diretamente pelas galerias, a pesquisa também utilizou dados secundários de fontes como o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Ministério da Fazenda, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Para dimensionar o mercado de arte no Brasil, a análise considerou três pilares: consumo interno, exportações e resultados de leilões. Não foram incluídas transações entre pessoas físicas. Embora se estime que representem um volume expressivo em valor, não são rastreáveis e ficaram fora do escopo dos dados. Por fim, os autores desse extenso documento de 87 páginas levantaram os principais entraves para o avanço do setor – desde burocracia excessiva a custos logísticos elevados, da concentração geográfica do setor à falta de políticas públicas consistentes.

“Essas questões, além de frearem o crescimento do mercado, dificultam sua integração com as dinâmicas globais.” Para destravá-las, eles elencam dez desses obstáculos e apresentam um pacote de recomendações a cada um deles. O resultado é um documento obrigatório para o setor da arte brasileira.

 

IMAGEM: Freepik

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