Da graxa ao luxo

Nascido na Zona Leste de São Paulo, Gerson Higuchi sujou as mãos de graxa na borracharia do pai. Hoje, é um dos mais famosos cozinheiros do país e acaba de inaugurar um restaurante no emergente Jardim Anália Franco

Wladimir Miranda
01/Ago/2019
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Da graxa ao luxo

O chef Gerson Higuchi já cozinhou para o rei Gustavo XVI, da Suécia. Foi o responsável pelo coquetel de boas-vindas e jantar para o príncipe Albert ll de Mônaco no Palácio dos Bandeirantes. Foi dele a responsabilidade por inúmeros brunchs realizados no Mosteiro de São Bento. Fala, também com indisfarçável orgulho, das personalidades que usufruíram de seu cardápio na Arena Fonte Nova, em Salvador, durante a Copa do Mundo realizada no Brasil, em 2014.

O evento, de trinta dias, foi eleito o melhor de todos os realizados em estádios brasileiros na competição. 3.500 pessoas passaram pelo camarote que comandou. Entre as personalidades, estavam a chanceler alemã Angela Merkel, o astro português Cristiano Ronaldo, os brasileiros Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho e o atacante francês Benzema, do Real Madrid.

O currículo de Gerson Nobuyuki Higuchi inclui ainda o trabalho “de muito aprendizado” na rede Blue Tree Hotels/Villa Blue Tree/Noah Gastronomia, no Grupo Madero, de Junior Durski, no Bos BBQ e no Cadilac Burger, no bairro da Mooca que ajudou a fundar e por onde recebeu diversos prêmios da mídia especializada.

Gerson é formado em gastronomia pela Universidade Anhembi Morumbi e em Administração de Empresas pela Universidade São Judas Tadeu. Garante que fez 47 cursos de especialização, a maioria deles no Sebrae, Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas.

O currículo extenso e a ânsia por empreender, que herdou dos pais, o impulsionaram a inaugurar, há duas semanas, a Aple Wood Steaks & Bar, na rua Eleonora Cintra, 484, no emergente Jardim Anália Franco, no Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo, bem em frente ao Clube Recreativo Ceret.

“Somos especialistas em encantar. Os nossos hambúrgueres são produzidos diariamente. Os nossos molhos e a maionese são feitos artesanalmente”, diz Gerson, que faz questão de lembrar que já recebeu elogios de Chieko Aoki, empresária nipo-brasileira, fundadora e presidente da Rede Blue Tree Hotels.

E ela sabe o que diz, pois, em dez anos, transformou a rede em uma das maiores cadeias hoteleiras do país.

A impressão que se tem ao passar em frente à Apple Wood Steaks Bar é que se trata de um estabelecimento pequeno e sem nenhum conforto. E não é o que se vê em seu interior. São dois ambientes extremamente agradáveis.

No térreo, as mesas foram colocadas distantes umas das outras, o que contribui para criar um clima de intimidade e apropriado para casais.

A parte superior propicia uma vista agradável do bairro e especialmente de tudo que acontece no Ceret. É adequado para um animado happy hour.

Embora relutante para falar sobre números, Gerson diz que investiu R$ 700 mil para colocar o empreendimento para funcionar. A estimativa de faturamento, para daqui três meses “quando terminar a fase de maturação”, é de R$ 500 mil mensais.

No cardápio, saladas, bovinos (picadinho carioca, servido com carne, legumes de molho de vinho, arroz, feijão, couve refogada, farofa crocante e mini pastel, a R$ 34,00 o prato), parmegiana de carne, polpettone alla wood, open flame, com preços que variam de R$ 31,00 a R$ 39,00.

“Coloquei aqui todo o conhecimento que adquiri na minha vida”, afirma ele, que já tem propostas de franquias para a Apple Wood.

“Quando a marca estiver registrada e o ponto consolidado, vou aceitar as propostas para franquias. Só não sei ainda quanto será o preço da franquia. O tempo dirá. Também penso em abrir outra casa, em Moema”, avisa.

A próxima atração da casa será a carta de vinhos. Mas o bom conhecedor da bebida já encontra lá uma variedade de importados. De Portugal, Espanha, Itália e os melhores da América do Sul, como os chilenos e os argentinos. Gerson se considera expert em networking. E é graças aos contatos que fez quando foi chef na Blue Tree Hotels e em todos os eventos que comandou que ele hoje não encontra obstáculos para poder servir os melhores vinhos e as melhores carnes existentes no mercado.

“Networking é tudo. Fiz vínculos com vários fornecedores. E é graças a eles que eu consegui ótimos produtos para a minha casa”, discursa ele, enquanto bebe um legítimo vinho português Paulo Laureano, com preços que variam de R$ 70,00 a R$ 400,00.

Ele conta que as pessoas estranham como um filho de japoneses como ele foi escolher montar um restaurante especializado em carnes e não um restaurante japonês. Gerson explica: “Tudo aqui é influência do tempo em que morei nos Estados Unidos”, afirma ele, nascido em São Miguel Paulista.

E foi lá, na Zona Leste de São Paulo que Gerson teve as primeiras lições do pai, dono de uma borracharia que, mais tarde, por sugestão dele, Gerson, transformou-se em uma conceituada loja de artigos automotivos.

A empresa, que hoje funciona em Itaquera, também na Zona Leste, foi onde ele deu os primeiros passos no empreendedorismo.

“Eu ajudava o meu pai na oficina. Mas quando eu fiz 18 anos, ele disse que eu tinha de ir trabalhar para os outros, para aprender a se virar na vida”, conta, rindo.

O primeiro emprego foi na fábrica de canetas Piloto, a versão brasileira da japonesa Pilot Pen Corporation.

“Na Piloto, eu limpava os banheiros dos funcionários. Meu pai sempre disse que o trabalho dignifica o homem. E eu acredito. Aprendi muita coisa naquele emprego”, prega.

Lição de vida aprendida, Gerson retornou ao trabalho com o pai. Não era mais uma borracharia. Havia se transformado em um centro automotivo, com serviços como alinhamentos de rodas, injeção eletrônica, entre outros.

Conflitos familiares, porém, acabaram afastando Gerson da empresa do pai e do irmão. Foi neste período que ele decidiu estudar. Fez cursos de administração de empresas e posteriormente de gastronomia.

Ou seja, solidificou o caminho que o levou à rede Blue Tree e lhe deu condições de ser o chef de cozinha que é hoje.
“Fui da graxa ao luxo”, brinca.

IMAGEM E VÍDEO: William Chaussê/Diário do Comércio

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