Há uma frase famosa entre nós, economistas, segundo a qual a taxa de câmbio, por causa de sua imprevisibilidade, seria uma invenção de Deus para nos humilhar.
Já presenciei, inclusive, cena em que um renomado economista perdeu completamente as estribeiras após ser questionado seguidamente pela plateia a respeito de sua previsão para o
dólar dali a um ano, pergunta que ele simplesmente se recusava a responder com precisão em suas apresentações de cenário econômico – limitava-se a apontar tendências.
Lembro da frase e da cena sempre que me procuram com a indigesta pergunta: “Vitor, vou viajar daqui a tantos meses. Você acha que eu compro dólar agora ou é melhor esperar?”
A aflição, não completamente sem razão diante da
alta volatilidade do câmbio nos últimos tempos, também carrega um quê de irracionalidade.
Não faz muito tempo, quando a moeda americana estava cotada na casa dos R$ 3,3, um amigo me ligou desesperado enquanto dirigia a caminho de uma casa de câmbio. “Vitor, preciso de uns mil dólares, mas a moeda está em queda. Será que eu não deveria esperar mais um pouco?”
Especialistas costumam recomendar a compra gradual de dólares até a viagem, de modo a minimizar o impacto da oscilação da moeda. Eu tendo a ser um pouco mais radical e sugerir a compra imediata. “Se a cotação cair muito, digamos, para R$ 3, você perderá o quê, R$ 300?”
Sim, concordo, R$ 300 não é dinheiro que se jogue fora, especialmente diante da atual crise.
Entretanto, viagem de férias para
fora do país é algo que se faz, quando muito, uma vez ao ano. É provável que, ao longo de um ano todo, sem perceber, você desperdice uma quantia muito maior.
Quer economizar? Que tal, por exemplo, reduzir temporariamente de R$ 33 para R$ 25 o gasto médio com as refeições fora de casa? Se você almoça fora todo dia, em menos de dois meses, considerando apenas os dias úteis, terá economizado os mesmos R$ 300.
Ou que tal poupar e fugir dos financiamentos? O brasileiro paga uma taxa de juros média de 4% ao mês. Caso compre no crediário um celular no valor de R$ 1.200 em 12 parcelas, você gastará mais de R$ 300 em juros.
Que tal, ainda, trocar seu cartão de crédito e sua conta corrente por opções digitais, sem tarifas? Ou deixar o carro em casa um ou outro dia da semana e economizar no combustível, que ficou bem mais caro após o aumento dos impostos?
Tudo isso para dizer que talvez seja mais interessante concentrar esforços em economias que estão sob seu controle do que se afligir com variáveis difíceis de prever – e cujo impacto no orçamento, caso não haja uma mudança abrupta no cenário, não deverá ser tão grande (no caso de uma compra de mil dólares, uma variação de R$ 0,10 na cotação representará perdas ou ganhos de apenas R$ 100).
A cotação do dólar é influenciada por uma série de variáveis como o preço das commodities exportadas pelo Brasil, o diferencial entre a nossa taxa de juros e a taxa norte-americana, o fluxo cambial e o risco-país – este, por sua vez, sujeito ao ambiente político, ainda bastante conturbado.
Quem, por exemplo, além do próprio Joesley, poderia prever a fatídica delação e seu
impacto na taxa de câmbio?
Ah, e apenas para concluir minha história, vejam só que ironia: meu amigo foi multado por falar no celular – comigo – enquanto dirigia. Saldo: R$ 293,47 e 7 pontos na carteira.
Os gastos no exterior também podem ser realizados no cartão
Além de moeda em espécie, você também pode utilizar o
cartão de crédito internacional e o cartão pré-pago para realizar compras no exterior, cada modalidade com vantagens e riscos que devem ser ponderados no planejamento da viagem.
Utilizar o cartão de crédito, por exemplo, é uma opção mais segura do que a moeda em espécie.
Porém, além de ser mais cara – a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é de 6,38% no caso das compras com cartão de crédito no exterior, contra apenas 1,1% sobre a compra de moeda em espécie –, ela deixa o custo da viagem sujeito a uma eventual alta da taxa de câmbio.
No entanto, desde o final do ano passado o consumidor pode escolher entre pagar as compras feitas com cartão no exterior pela taxa de câmbio do dia da compra ou da data de fechamento da fatura, o que pode diminuir o risco associado à oscilação da moeda – até então, valia apenas o câmbio do dia de fechamento da fatura.
A opção, porém, está condicionada à oferta pelo emissor do cartão e à aceitação do cliente.
Além disso, gastos no cartão de crédito podem gerar pontos no programa de fidelidade, a serem utilizados, quem sabe, na aquisição das passagens aéreas da próxima viagem.
O cartão pré-pago, por fim, é uma opção tão segura quanto o cartão de crédito, está sujeito ao mesmo IOF de 6,38%, mas não deixa o consumidor exposto ao risco de uma alta da taxa de câmbio – nem ao ganho decorrente de uma eventual baixa da cotação.
Por outro lado, a modalidade pode envolver tarifas de aquisição e os gastos não são convertidos em pontos, ao contrário do cartão de crédito.
IMAGEM: Thinkstock