Como essa executiva fez dobrar o número de diretoras no Reino Unido

Em vez de apelar ao feminismo ou a quotas, a britânica Helena Morrissey (na foto, rodeada de colegas executivos) convenceu mais de uma centena de presidentes de conselhos de empresas que diversidade produz inovação e aumenta os lucros

The New York Times
15/Fev/2015
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Como essa executiva fez dobrar o número de diretoras no Reino Unido

Por Jenny Anderson
Se você sugerir a Helena Morrissey que ela é a versão britânica de Sheryl Sandberg, ela irá sorrir educadamente. "Acredito que deva me sentir lisonjeada", disse Helena, administradora de investimentos de 48 anos, em seu escritório na City, o histórico bairro financeiro de Londres. "Mas estou fazendo meu próprio trabalho."

A exemplo de Sheryl, a executiva do Facebook, Helena se tornou o rosto do progresso feminino nas empresas em seu país. Quatro anos atrás, ela fundou o Clube dos 30 Por Cento, organização que busca aumentar a representação das mulheres na diretoria até aquele número.

Contudo, ela optou por uma abordagem bem diferente das de outras mulheres. Sheryl pediu que as mulheres se afirmem e achem patrocinadores que as ajudem a progredir na carreira. Países como Noruega e França têm cotas definidas por lei para a porcentagem de mulheres presentes em conselhos de administração. Em vez disso, Helena centrou seu foco nos homens mais poderosos da Grã-Bretanha.

Trabalhando nos bastidores, ela convenceu 120 dos principais presidentes de conselho administrativo de que eles têm o mesmo objetivo: diretorias mais diversificadas que resultarão em maiores lucros para a empresa.

A abordagem produziu resultados notáveis. Desde 2010, a porcentagem de mulheres nas principais diretorias britânicas praticamente dobrou, somando 23 por cento, enquanto nos Estados Unidos, a cifra se arrastou alguns pontos, atingindo 17 por cento.

"Lá existe uma notoriedade e uma visibilidade inexistentes aqui", afirmou Brande Stellings, vice-presidente de serviços para conselhos corporativos na Catalyst, entidade sem fins lucrativos dedicada a aumentar as oportunidades das mulheres no EUA.

EXECUTIVA E MÃE

O fato de Helena receber o crédito pela conquista desses resultados enquanto criava nove filhos – com idades variando entre cinco e 23 anos – poderia tê-la tornado o alvo da ira em um país que nem sempre celebra o sucesso. Ou pode ter estimulado o debate a respeito da questão de se uma mulher pode ou não ter tudo. Não aconteceu nem uma coisa nem outra.

"Ela é uma exceção, não uma regra", disse seu marido, Richard, de 51 anos, que é budista, ex-jornalista e cuida das crianças em casa.
Grupos como o Catalyst nos Estados Unidos têm trabalhado para colocar mais mulheres em cargos com poder. Porém, o progresso no país tem sido glacial, tornando ainda mais atraentes os métodos e resultados do Clube dos 30 Por Cento.

"Se de alguma forma fosse possível forjar ou reproduzir o sucesso que ela teve num período tão curto, nós estaríamos fazendo um bom trabalho para a comunidade empresarial daqui", disse Peter Grauer, presidente da empresa jornalística Bloomberg LP e presidente fundador da divisão norte-americana do Clube dos 30 Por Cento, aberta no ano passado.

A abordagem do Clube é diferente e bastante influenciada por Helena, cujo enfoque refinado esconde uma determinação inflexível.
"Meu estilo não é dizer aos outros o que eles devem fazer, mas apresentar um caminho atraente", ela disse. E sem seguir o rumo negativo. Por exemplo, ela não cita os nomes de quem não entrou no Clube dos 30 Por Cento em seus primeiros dias. Igualmente, a executiva apoia todos que querem promover a mudança em vez de ficar reclamando a falta dela.

"Vejo tanto confronto e negatividade e não acho que isso resulte em muita coisa", ela declarou. Helena é fã de Sheryl e a elogia por iniciar um diálogo importante. "As mulheres precisam intervir, mas não acho que a questão seja mudar as mulheres ou mudar o sistema. Não é binário."

Helena é inflexível ao afirmar que o grupo não está promovendo uma causa feminista ou ligada à diversidade, mas uma questão empresarial. Ela cita pesquisa da McKinsey, Catalyst e Credit Suisse como prova de que conselhos administrativos diversos dão lucros maiores aos acionistas porque diretorias homogêneas geralmente produzem pouco pensamento inovador a respeito dos clientes, riscos ou resultados. Sem coincidência, uma representação de 30 por cento é o nível no qual psicólogos organizacionais concordam que a voz de uma minoria possa ser ouvida.

Tendo isso em mente, ela incentivou homens a liderarem a iniciativa e, assim que ingressarem na diretoria, empregá-los para recrutar outros. Quando Helena tentava conseguir apoio para o grupo, decidiu enviar uma mensagem a cada presidente do conselho de administração das empresas no índice FTSE 350 da Bolsa de Valores de Londres, em ordem alfabética.

Quando chegou à letra H, mensagens pouco amistosas dos que começavam com a letra A começaram a chegar. Ela logo viu que havia um jeito melhor. "É melhor fazer os presidentes se recrutarem do que me usar", ela contou.

A tentativa sem pressão parece ser eficaz na Grã-Bretanha, onde regras complexas de confronto parecem impregnar todos os níveis da sociedade.

LEIA MAIS: O que falta para as mulheres reinarem nos negócios?

"Acho que Helena teve um sucesso singular na defesa pacífica ao conseguir que as pessoas com poder produzam a mudança, acreditando que elas querem fazer a alteração", disse Robert Gillespie, da diretoria do Royal Bank of Scotland, com passagens pela Evercore e UBS.

CONTRA AS COTAS

Helena é veementemente contra qualquer cota imposta pelo governo, afastando-se da tendência em voga em boa parte da Europa, mas cita o grupo-alvo que busca alcançar: 30 por cento das diretorias compostas por mulheres até 2015. Ela disse acreditar que o grupo chegará a 27 por cento até o final do ano, e mais se se concentrar nos dez por cento de diretores não executivos que detém postos há mais de nove anos.

O movimento também tem detratores. Um presidente lhe disse que ela iria destruir os negócios; outros se perguntam por que ela não atua mais por categorias mais amplas da diversidade, como raça ou sexualidade. Além disso, o número de mulheres com papéis executivos de alto escalão na Grã-Bretanha continua baixo.

Mesmo assim, o Clube dos 30 Por Cento cresceu, com grupos em Hong Kong, África do Sul, Irlanda, Estados Unidos e planos para Canadá e Austrália.

 

HELENA MORRISSEY: O ROSTO DO AVANÇO FEMININO NAS EMPRESAS/FOTOS: ANDREW TESTA

Talvez o maior ativo do Clube seja sua capacidade de tentar novas abordagens. Sabendo que as diretorias procuravam empresas de colocação de executivos para formar listas, ele conseguiu o apoio de algumas dessas firmas. Ao saber que mulheres em estágio intermediário da carreira queriam orientação, mas nem sempre dentro das próprias organizações, o clube criou um grupo de aconselhamento em que uma advogada pode ser orientada por uma gerente de ativos, pois ela pode não querer falar com o chefe sobre buscar um equilíbrio entre filhos e trabalho ou de tirar folga para cuidar de um pai idoso.

Helena começou o ano levando a mensagem do grupo às escolas. Associando-se a outra organização beneficente, Speakers for Schools, o Clube dos 30 Por Cento cobre algumas escolas britânicas, com seus presidentes de conselho explicando aos alunos como a diversidade beneficia os negócios.

No dia 26 de janeiro, Douglas Flint, presidente do HSBC, deu conselhos a 400 estudantes de ensino médio na zona leste londrina.
O executivo contou que quando promove um homem, a reação costuma ser: "Por que demorou tanto? Faz tempo que estou pronto". Mulheres, por sua vez, se perguntam se têm a qualificação necessária. "Não sejam modestas demais", ele disse à plateia, incorporando as ideias de Sheryl Sandberg.

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