Como a Petrobras se reinventou
Em palestra na ACSP, Pedro Parente, presidente da estatal, afirma que, apesar da queda internacional dos preços do óleo cru, sua lucratividade e valor de mercado cresceram
Aqui vão alguns números sobre o processo que ressuscitou a Petrobras a partir de maio de 2016. Em 2013, com o barril do petróleo quotado a US$ 109, a empresa lucrou R$ 63 bilhões. Em setembro passadom com o barril valendo em torno de US$ 50, o lucro saltou para R$ 89 bilhões.
Vejamos as dívidas. No final do governo anterior, elas atingiam US$ 130 bilhões. Representavam 5,3 vezes a geração operacional de caixa. Nas demais empresas petrolíferas mundiais a proporção era de 1,6. A dívida ainda é hoje ainda bem alta. Mas decresceu para R$ 90 bilhões.
E nesse mesmo período, desde o impeachment de Dilma Rousseff, o valor de mercado da Petrobras subiu de US$ 140 bilhões para US$ 200 bilhões, em que pese a variação cambial que torna a comparação imperfeita. O dólar agora vale menos.
As informações são de Pedro Parente, presidente da estatal, em palestra, nesta segunda-feira (17/11), na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Ele foi o convidado o Conselho Político e Social (Cops) da entidade, coordenado pelo ex-senador Jorge Konder Bornhausen, e pelo Conselho de Economia (Coe), que tem a coordenação do economista Roberto Macedo.
Os trabalhos foram abertos e encerrados por Alencar Burti, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais de São Paulo (Facesp).
BONS RESULTADOS, SEM POLEMIZAR
Pedro Parente não polemizou com as gestões anteriores e nem sequer citou os nomes dos presidentes da República eleitos pelo Partido dos Trabalhadores e pelos que o antecederam na direção da estatal.
Afirmou, no entanto, ter assumido a empresa num "ponto dramático", em que ela -insistiu -em nenhum momento foi cúmplice da corrupção que quase a destruiu. "Ela foi vítima", e os 16 ou 17 executivos que caíram nas malhas da Lava Jato, alguns deles cumprindo pena de prisão, segundo Parente nada tinham a ver com a cultura interna da Petrobras.
Aos malfeitos de alguns diretores, afirmou, somava-se "um período prolongado de preços abaixo da paridade internacional". Traduzindo em linguagem menos eufêmica, Dilma tentou segurar artificialmente a inflação, por meio da venda de combustíveis a um preço mais baixo que a Petrobras pagava em suas importações.
Com isso, o endividamento da empresa equivalia a 70% da dívida do que todos os Estados da Federação deviam em conjunto. A Petrobras havia se transforado na maior devedora do país, perdendo apenas para o governo federal.
Para controlar e reduzir a ainda alta dívida líquida da empresa,Parente explicou que a Petrobras trabalha com quatro pilares fundamentais: preços competitivos, eficiência nos investimentos (investir menos e produzir mais), redução de custos e programa de parcerias, e desinvestimentos da companhia.
Para garantir a execução desse programa, a estatal introduziu um novo sistema de gestão com desdobramento de metas da presidência até o nível da operação.
A ideia é arrecadar US$ 21 bilhões com desinvestimentos até o final de 2018. “Estamos vendendo nossa distribuição no Paraguai, gasodutos no Norte e Nordeste, unidades fertilizantes e ativos na África”, disse, citando ainda o IPO da BR Distribuidora e a venda de participações em 71 campos terrestres e 31 campos de água rasa.
Além disso, a empresa está estabelecendo parcerias com companhias mundiais, como a Total, gigante do setor petroquímico com grande conhecimento nos campos da costa oeste da África, cuja geologia é idêntica à dos campos onde opera a Petrobras. Assim, espera-se que a estatal brasileira reduza seus riscos exploratórios no Atlântico.
NO FUTURO
Independentemente das heranças, o quadro é hoje inédito para as empresas que trabalham com gás e petróleo. Isso porque pesquisam-se novas fontes de energia, e a Europa já fixou data para a proibição de automóveis com motores a combustão.
Há alguns anos, disse Parente, a previsão era de que o pico para o consumo de petróleo ocorreria entre 2040 e 2050. Há um ano e meio o pico foi antecipado para entre 2030 e 2040, e agora alguns projetam que ele acontecerá por volta de 2020.
Mas isso não significa que a Petrobras vai cruzar os braços, justamente porque o ciclo de exploração do petróleo é bastante longo.
Entre a licitação de uma área e sua entrada em operação, são dez anos. E depois mais 30 anos para que os investimentos sejam amortizados.
Assim, ao questionar sobre o tipo de energia que ainda produzirá, a Petrobras responderia que sua ênfase é o óleo e o gás. Razão pela qual ela vem se retirando de setores como petroquímica e fertilizantes.
A ênfase no gás se justifica pelo fato de ele ser um combustível "de transição", porque, embora não-renovável, polui bem menos que outros hidrocarbonetos.
Paralelamente, com relação ao petróleo a estatal mira no pré-sal, por ter reunido tecnologia para essa forma de exploração, com um custo de produção abaixo dos US$ 40 o barril.
O Campo Iracema do Sul, por exemplo, já está atuando a 5.300 metros, e há ainda mais 2 mil metros de profundidade suplementar para explorar.
A propósito, disse Pedro Parente, a Bacia de Santos (que não é exclusiva ao território Paulista) e as demais perfurações no litoral do Estado farão com que São Paulo se torne em breve o segundo maior produtor do país.
A companhia aplica 80% de seus lucros na exploração e produção. Dessa percentagem, 60% estão no pré-sal.
GOVERNANÇA
Parente destacou as mudanças de governança na Petrobras, como a alteração na forma em que executivos são nomeados, a investigação da vida pregressa dos funcionários e a exigência de conhecimento compatível com a função.
Mudanças no processo decisório da companhia e implementação de um canal de denúncia independente com garantia de anonimato também foram citados pelo presidente da estatal.
“Vimos claramente que a empresa saiu das páginas policiais e voltou às páginas de negócio, da onde nunca deveria ter saído. Estamos felizes em ver que a Petrobras recupera sua saúde financeira e sua reputação”, disse.
A Petrobras tinha funcionários em excesso? Seu presidente não diz. Mas revela que dos 78 mil colaboradores em 2015, a empresa tem hoje 62,5 mil -uma redução de 20%.
Assista no vídeo abaixo à íntegra da palestra
FOTO: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil e Danielle Pessanha/ACSP