Com economia aquecida e inflação resiliente, Selic sobe para 10,75%
Aumento do Copom foi de 0,25%, em linha com as projeções do mercado financeiro, e pode ter alterado o balanço dos riscos inflacionários em direção a uma política monetária mais conservadora, sinalizam os economistas da ACSP
*Com informações do Estadão Conteúdo
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou, na noite da última quarta-feira (18) a taxa Selic em 0,25% e chega a 10,75%, como já apontava a edição mais recente do Boletim Focus.
A decisão veio em linha com a grande maioria dos analistas de mercado, e levou em consideração diversos fatores que poderão aumentar o avanço dos riscos da inflação.
Esta também é a primeira alta de juros no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um ferrenho crítico do aumento das taxas. O último aumento da taxa havia sido em 3 de agosto de 2022.
A possibilidade de uma alta gradual, neste que parece ser o início de um ciclo de aperto monetário, havia sido cogitada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Para o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a decisão de aumentar a Selic levou em consideração a inflação resiliente, acima da meta anual, num contexto de atividade econômica e mercado de trabalho ainda aquecidos”.
Na mesma linha, expectativas inflacionárias desancoradas, e o aumento da incerteza no campo fiscal, que contribui para manter o câmbio elevado, parece haver alterado o balanço de riscos da inflação na direção de uma política monetária mais conservadora.
“Esse aumento gradual pode ter sido influenciado tanto pela deflação do IPCA em agosto, quanto pela redução dos juros básicos norte-americanos (em 0,5%), que poderia mitigar, pelo menos em parte, a depreciação cambial”, completa.
Em todo caso, também será importante considerar o comunicado após a divulgação da resolução do Copom, para avaliar se a decisão foi unânime e de se há sinalização sobre o ritmo do novo ciclo de alta dos juros básicos.
JURO REAL
Com a decisão de alta de 0,25 ponto de hoje, o juro real - descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses - do Brasil está em 7,33%, segundo levantamento do site MoneyYou. O país está atrás apenas da Rússia (9,05%). A média das 40 economias pesquisadas é de 0,63%.
Segundo o BC, o juro neutro brasileiro, que não acelera nem alivia a inflação, é de 4,75%. Na tarde de hoje, o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, cortou os juros em 0,50 ponto, para o intervalo de 4,75% a 5% ao ano.
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