Ciclofaixa, ratos, assaltos: o comércio sofre na Praça da Árvore
Ciclofaixa (foto), moradores em situação de rua, lixo e ratos no que antes era um canteiro. São inúmeras as reclamações dos comerciantes das proximidades da praça, que na década de 1950 era um bosque

Uma ciclofaixa, não utilizada por ciclistas, prejudica, há mais de um ano, o movimento do comércio na Avenida Bosque da Saúde, na Zona Sul paulistana.
O espaço para bicicletas, construído na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad, começa na Av. Abrão de Moraes e vai até as proximidades da estação do metrô Praça da Árvore.
Nenhum ciclista utilizou a ciclovia nos dias em que a reportagem do Diário do Comércio esteve na região.
A ciclofaixa ocupa o espaço onde antes funcionava a zona azul, que permitia que os clientes estacionassem seus carros para fazer compras nos estabelecimentos comerciais em toda a Av. Bosque da Saúde.
Com poucos e caros estacionamentos nas proximidades, os consumidores desapareceram.
O resultado da fuga dos clientes pode ser notado por quem passa pela rua. São inúmeras as placas de aluga-se e vende-se.
Sem movimento, muitos lojistas resolveram fechar seus negócios. A saída para estes comerciantes é migrar para regiões com mais facilidades para os clientes.
Domiciano Ribeiro Neto, dono da Estação do Vinho, restaurante de comida nordestina, viu o movimento do seu negócio cair muito desde a implantação da faixa exclusiva para as bicicletas.
“Muitos clientes que vinham aqui antigamente pararam de vir. Dizem que não têm lugar para estacionar. Eu concordo com eles. Não dá para vir, gastar no restaurante e ainda pagar estacionamento, que não é barato. Além de caros, temos só dois estacionamentos nas redondezas”, disse Domiciano, pernambucano de Caruaru e há 23 anos em São Paulo.
Angelo dos Santos Oliveira, um dos sócios da Oliveiras Barbeshop, também mostra indignação com a ciclofaixa.
“Ninguém entendeu como a prefeitura pode ter acabado com a zona azul e implantado uma ciclofaixa que não tem ciclistas para usá-la. É um absurdo”, afirma.
A ciclofaixa é um problema, mas não é o único que os comerciantes da Av. Bosque da Saúde são obrigados a enfrentar.
Do outro lado da via, há um ponto de ônibus que, de tanto movimento, até parece um terminal, nos mesmos moldes do que existe na Praça da Bandeira, no centro, por exemplo.
Em alguns momentos, com vários coletivos parados, não sobra espaço para os carros. E quem quer atravessar a rua também sofre, pois não existe faixa para pedestres no local.
A 100 metros do restaurante Estação do Vinho e do ponto de ônibus que mais se assemelha a um terminal, a situação é ainda mais complicada e pode ser prejudicial à saúde, de moradores e comerciantes.
Na esquina da Bosque da Saúde com a Rua Caramuru, o que no passado era zona azul, a prefeitura, também na gestão passada, fez um canteiro. A ideia, louvável por sinal, hoje é criticada por moradores e comerciantes.
A questão é que o canteiro virou depósito de lixo. E com o lixo, incluindo restos de comida, vieram os ratos. Os roedores – muitos bem alimentados, enormes, sarados, “marombados”, como dizem os comerciantes locais, invadem as lojas próximas, levando o pânico para donos e clientes.
A presença dos ratões é mais um motivo para afugentar os consumidores das lojas da região.
“Dia destes apareceu um rato ao lado do caixa”, contou Guilherme de Souza Maia, da loja de móveis que fica bem em frente ao canteiro, que foi transformado em depósito de lixo.
Oficialmente, nos arquivos da Secretaria de habitação da Prefeitura paulistana, a Praça da Árvore não existe. Não com este nome. Trata-se, portanto, de nome popular.
Roberto Lutfi, proprietário da Sedanaya, loja de roupas e acessórios femininos do bairro, e conselheiro da ACSP, tem em seu estabelecimento uma foto da década de 1950, com Adhemar de Barros, então prefeito de São Paulo.
Na época, havia ali um bosque, que não existe mais. O cenário atual da praça é desolador. Foi tomada por moradores em situação de rua.
Os bancos estão quebrados. A sujeira está espalhada por toda a sua extensão. Não há árvores. O consumo de drogas ali é um dos problemas que mais afetam moradores, comerciantes e os usuários do metrô.
Os lojistas também reclamam da falta de segurança. São muitos os casos de estabelecimentos assaltados nos últimos meses. O assunto é tratado com precaução. E medo.
O proprietário de uma tapeçaria na Av. Jabaquara, nas proximidades da Praça da Árvore, foi vítima de assalto há 15 dias. O roubo foi à noite, com o estabelecimento fechado. O prejuízo foi de R$ 50 mil. Temendo represália, ele não quis ser fotografado.
O QUE DIZ A PREFEITURA
A assessoria do prefeito regional da Vila Mariana, Benê Mascarenhas, responsável pela região, informou que, em relação ao lixo que tomou conta do canteiro da esquina da Rua Caramuru com a Av. Bosque da Saúde, a responsabilidade é dos próprios comerciantes.
“Se o lixo for colocado fora do horário estipulado – mais de duas horas antes do horário previsto para o caminhão de lixo passar -, a lei prevê multa.”, disse a assessoria [os horários podem ser verificados aqui], concluindo que a prefeitura irá solicitar fiscalização no local para checar se há descumprimento da lei.
MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA
A regional informa também que em relação aos moradores em situação de rua da Praça da Árvore, a equipe do Serviço Especializado de Abordagem Social – SEAS -, vinculado à Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social – Smads -, monitora os grupos de pessoas em situação de rua regularmente e oferece os serviços de acolhimento da prefeitura.
“A resistência dos moradores, no entanto, é grande e a maioria recusa a ajuda. O que cabe às prefeituras regionais são os serviços de zeladoria, conforme decreto que pode ser conferido aqui”
CICLOFAIXA
A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transporte, informa que começou um plano de revitalização e revisão das ciclovias e ciclofaixas, com o objetivo de garantir a convivência, com segurança, entre bicicletas e os demais veículos em São Paulo.
Afirma também que tem realizado um amplo debate com ciclistas, comunidade local e com representantes das prefeituras regionais para buscar as melhores alternativas.
“O resultado desse diálogo é o que definirá o projeto a ser adotado em cada ponto da cidade”.
FOTOS: Wladimir Miranda/Diário do Comércio e Divulgação
ARTE: Guto Camargo