Centro de SP ganha academia boutique 24h. Conheça os detalhes do negócio

É preciso ter coragem, ou muito tino empreendedor, para investir em um negócio 24 horas no centro histórico da Capital paulista, uma região conhecida por “esvaziar” após às 18 horas. Mas essa foi a aposta de Fábio Fernandes com a Cluster Set, academia boutique inaugurada no início deste mês na Praça do Patriarca.

Ocupando um prédio inteiro de três andares bem ao lado da antiga loja da Marisa, futuras instalações da rede de perfumarias Princesa, como adiantou o Diário do Comércio, a nova academia do Centro de São Paulo terá salão de beleza, barbeiro, lavanderia, sauna, cafeteria, atendimento médico, nutricionista, dentista, personal trainer e um espaço gastronômico no terraço com cardápio fitness, pizza, churrascaria e comida havaiana. Por enquanto, apenas a parte de musculação está funcionando. Os outros serviços devem ser inaugurados no início de março.

Nada é sublocado. Todos os serviços oferecidos pela Cluster têm o controle de Fernandes, que investiu cerca de R$ 1 milhão para estruturar o negócio e espera atrair 1.500 alunos, 500 deles vindos de outra academia do empresário, na Rua XV de Novembro, também no centro histórico, que fechou quando inaugurou a nova unidade. Com foco em clientes das classes B e C, os planos oferecidos terão preços a partir de R$ 250. A expectativa é faturar R$ 500 mil por mês.

 

O empresário vê potencial para funcionar 24 horas no Centro, mesmo sabendo que após o horário comercial grande parte dos funcionários dos escritórios e do comércio local inicia o retorno para os bairros, já que a região central há muito tempo perdeu o perfil domiciliar. Para Fernandes, como há planos da Prefeitura para reativar o Centro, a expectativa é que outros negócios sigam seus passos e ofereçam serviços por um período mais longo para manter o consumidor noturno no local.

“Em São Paulo, tudo o que você quiser, você encontra 24 horas: balada, restaurante. Por que não uma academia?”, diz o empresário, lembrando que o centro antigo passou por mudanças nos últimos anos, principalmente em relação à segurança, o que ajuda a manter consumidores e empresas ativos por mais tempo na região.

Sua expectativa é capturar clientes-trabalhadores antes do expediente ou depois dele, especialmente pela proximidade da academia de três estações do Metrô. Ela fica a cerca de 400 metros das estações Sé, São Bento e Vale do Anhangabaú. Além disso, o negócio é ponto de passagem de locais que atraem um grande fluxo de pessoas, como o Shopping Light e a futura loja Princesa. “Com esses empreendimentos próximos a nós, vamos conseguir renovar uma parte importante do Centro que estava apagada”, diz.

Fernandes também quer utilizar todo o potencial da Cluster para suprir algumas carências que identificou no Centro. Ele vai abrir o terraço do prédio onde está instalado, que possui cerca de 300 metros, para eventos, como aniversário e festas. Durante a semana, o espaço estará aberto para os clientes assistirem a partidas de futebol na tv, entre outros eventos esportivos.

Além disso, está nos planos do empresário a realização de passeio de bicicleta pela região central, fazendo com que esses consumidores passem pelo restaurante da academia, transformando o local em um ponto de encontro para esportistas.

Sobre as dificuldades encontradas para abrir um negócio no Centro, ele diz que um dos problemas foi a locação do imóvel. Segundo Fernandes, mesmo havendo muitos espaços vazios no Centro, alguns proprietários não estão abertos a negociações.

 

O MODELO DE NEGÓCIO

O conceito da academia boutique, segundo Fernandes, é oferecer uma experiência personalizada aos clientes. Diferentemente das academias low cost, que segundo ele “dominaram o mercado fitness nos últimos anos com a proposta de oferecer um local de qualidade, mas sem o atendimento exclusivo dos professores”, a academia boutique busca levar um atendimento premium para os clientes. 

“Por 12 anos as academias trabalharam com o básico, mas os alunos enjoaram disso, eles querem um cuidado extra”, diz.

Além da saúde física, uma preocupação do consumidor atual é a saúde mental, e é nesse ponto que a academia boutique entra. De acordo com uma pesquisa realizada pela L.E.K Consulting com seis mil entrevistados, 75% deles passaram a cuidar mais da saúde após a pandemia. Neste contexto, segundo Fernandes, sua proposta é oferecer um espaço terapêutico que favoreça a socialização.

“Se você olhar o público das academias, 15% buscam melhorar o corpo, enquanto 85% estão ali para ter um tempo de descanso, uma terapia indireta”, diz.

Concorrendo com algumas academias low cost presentes na região, como a que funciona dentro do Shopping Light, Fernandes não enxerga esses espaços como uma ameaça por terem foco em um público mais jovem, enquanto a Cluster Set busca pessoas acima dos 30 anos, que estão mais preocupadas com o atendimento e valorizam espaços personalizados.

 

IMAGENS: Rebeca Ribeiro/DC