Calçadão Urbanoide: quintal gastronômico da Paulista
Com uma variedade de restaurantes, bares e fast food, o local serve de passagem entre a rua Augusta e a Frei Caneca e reúne cerca de dez mil pessoas aos finais de semana. O diferente faz sucesso por lá

Em meio às opções gastronômicas da rua Augusta, o Calçadão Urbanoide se destaca pelo ambiente ‘futurista-retrô’, à la Blade Runner, repleto de neons coloridos e grafites. O local, que já foi um estacionamento, hoje funciona como uma passagem ligando a Augusta à Frei Caneca, um caminho cercado por bares e restaurantes.
O negócio, idealizado por Beto Pratti, ao lado de três sócios, surgiu em 2014 com o objetivo de ser um “centro turístico culinário”. No início, o espaço recebia food trucks, que estacionavam por lá para atender os clientes. Mais tarde, os veículos foram substituídos por pontos fixos, instalados em contêineres, que fez o local ganhar a característica de beco.
Nesse processo, o espaço ganhou elementos que o deixaram ‘instagramável’, com as luzes coloridas, frases nas paredes, boneco de extraterrestre. Isso contribuiu para que ganhasse dimensão nas redes sociais. Hoje, o Calçadão Urbanoide recebe cerca de dez mil pessoas aos finais de semana.
Os clientes têm 20 opções de restaurantes, bares e fast food à disposição. Praticamente todos os espaços estão ocupados, apenas três contêineres estão vagos. “Nós não locamos para segmentos semelhantes. Como já temos bares, por exemplo, os espaços vagos não serão locados para quem vende bebida alcoólica”, diz Gabriela Pratti, responsável por gerenciar o Calçadão.
O aluguel do box mais barato custa em torno de R$ 6 mil. Gabriela diz que quanto mais específico e diferenciado for o produto do expositor, maior a chance de conseguir se instalar no Urbanoide. “O diferente sempre se destaca aqui”, diz.
De fato. Entre tantas opções, há contêiner de comida indiana, japonesa, paraense, hambúrgueres e crepes ‘diferentões’, com formatos ousados, que rendem muita publicidade indireta ao local pelas fotos compartilhadas nas redes sociais.
Os nomes dos boxes também chamam atenção. Um deles é o restaurante sírio Mr. Bean Laden. “É uma brincadeira. As pessoas sempre falam que árabe é terrorista, quisemos tornar isso algo engraçado”, diz Ayham Nahhas, dono do restaurante.

Um dos primeiros a ocupar o Calçadão, Nahhas conheceu o local logo após chegar da Síria, a convite de um amigo. “O Calçadão é o quintal do bairro, porque só tem prédios em volta e as pessoas da vizinhança vêm aqui para comer”, diz.
Os pratos do Mr. Bean Laden custam entre R$ 30 e R$ 150 e servem até sete pessoas. Com as vendas em alta, Nahhas pretende abrir outra unidade do restaurante ainda no primeiro trimestre deste ano, atrás da estação Santa Cruz do Metrô.
Na ladeira do Calçadão Urbanoide, o Ganesha, restaurante de comida indiana, prepara os pratos na frente dos clientes. É conhecido por ser um local de alimentação saudável e é também um dos primeiros estabelecimentos abertos no espaço.
Rogério Dionísio, 46, dono do Ganesha, diz que aprendeu a cozinhar na graduação de gastronomia e, a convite de Beto Pratti, resolveu abrir o restaurante no Calçadão. Hoje, dez anos depois, ele enxerga o local como um sucesso, que conseguiu atravessar várias crises. “Antes, o espaço era muito amador, não tinha tanta estrutura, mas foi se atualizando e se tornou algo confortável para os clientes”, conta.
Seus pratos possuem opções com frutos do mar, proteína animal e versões veganas. Eles custam entre R$ 40 e R$ 50. “Os estrangeiros acabam comprando mais que os brasileiros por ser algo diferente daquilo que estão acostumados”, diz Dionísio, que também comenta que o prato mais pedido é o Lorde Ganesha, que leva camarão.
Nos dez anos em que atende no Calçadão Urbanoide, Dionísio fidelizou muitos clientes. “Tem um casal que se conheceu aqui e hoje traz o filho para comer no meu restaurante.”

OPORTUNIDADE
Após deixar o programa “Pesadelo na Cozinha”, Marco Ungaro, 33, tinha R$ 20 mil no bolso e decidiu usar o dinheiro para abrir um restaurante que mistura comida texana, francesa e oriental. Com a ideia na cabeça, conseguiu locar um espaço no Calçadão.
Nos primeiros três meses, ele conta que precisou fazer de tudo, do atendimento aos clientes ao preparo dos hambúrgueres. Sua meta era vender 100 lanches por semana, mas logo estava vendendo entre 100 e 200 por dia. Assim, percebeu o potencial do local como um polo de atração de consumidores.
“Quando cheguei ao Calçadão, o antigo dono do espaço vendia costela, mas eu queria fazer mais que apenas um lanche simples de costela. Então, pensei em criar um lanche focado em costela, mas no estilo da comida texana”, diz Ungaro.
Depois de alguns meses, ele abriu seu segundo estabelecimento, também no Calçadão Urbanoide, onde vende hambúrgueres maiores, com 150 gramas de carne.
“Passam, em média, seis mil pessoas por dia pelos meus espaços. O Calçadão está sempre cheio, com grande rotatividade nas mesas. Não é um local onde as pessoas ficam horas”, comenta Ungaro, que descreve o Calçadão como um “food park gourmet”.
Para abrir a segunda loja, Ungaro investiu R$ 350 mil apenas na instalação do contêiner, que ele mesmo encomendou. Com faturamento bruto de R$ 55 mil por semana com os dois restaurantes, ele pretende abrir uma nova unidade em Bauru, no interior de São Paulo, e, futuramente, mais um ponto no Calçadão, com hambúrgueres de outros estilos.
INUSITADO
Apaixonados pelo Calçadão Urbanoide, Gigi Silva, ao lado do marido Marco Afonso, sempre frequentou o espaço com a esperança de abrir um empreendimento por lá, o que conseguiu em 2021.
Inspirada na proposta do local de priorizar o diferente, Gigi decidiu investir em crepes eróticos, que conheceu durante uma viagem à França. E assim abriu a Assanhadxs, um fenômeno gastronômico do Calçadão que atrai celebridades, como a cantora Anitta, e é seguido por mais de 60 mil pessoas nas redes sociais.
Para fabricar os crepes de formato peculiar, o casal teve que importar equipamentos, mas valeu o investimento. “Foi um completo sucesso. Chegamos a ter três horas de fila, mas agora agilizamos o processo. Ainda assim, tem dias em que os clientes esperam uma hora na fila”, diz Gigi, que transformou a fila em digital para não atrapalhar os outros empreendimentos do local.
A receita dos crepes é de Afonso, que usa massas de waffle ou de bolo. Chegar ao ponto ideal do produto demorou cerca de dois meses. Hoje, a loja vende cerca de 200 crepes salgados e doces por dia, ao preço de R$ 45, para pessoas de diferentes idades, mas, para menores de 18 anos, o crepe é vendido apenas se o cliente estiver ao lado de um responsável.
Formada em pedagogia, Gigi compartilha que o atendimento aos clientes é feito de uma maneira educativa, como uma forma de quebrar tabus em relação aos órgãos genitais.
Apesar do sucesso, Gigi relata que ainda encontra muito preconceito na internet em relação aos produtos, com pessoas que tentam denunciar seu perfil nas redes sociais, ou usam palavras negativas nas publicações, mas ela não enxerga como algo que afete o negócio.
“É um negócio diverso, atendemos jovens, famílias que passeiam no dia de domingo no Calçadão e pessoas dos clubes da Augusta”, diz.
SERVIÇO
Calçadão Urbanoide
Onde: entradas pela rua Augusta, 1291, ou pela rua Frei Caneca, 1024.
Funcionamento: quarta e quinta, das 16h às 23h; sexta, das 16h à 1h; sábado; das 12h à 1h; e domingo, das 12h às 23h.
IMAGENS: Rebeca Ribeiro/DC