Brasil é estratégico para garantir segurança alimentar global
Segundo especialistas da EY, com a elevação da temperatura mundial, que tem prejudicado a produção em diversos países, o Brasil, como principal exportador, tem papel estabilizador no mercado de alimentos
A agricultura brasileira tem um papel estratégico para garantir com sustentabilidade a segurança alimentar do mundo. Essa foi uma das conclusões do Brazil Climate Summit, realizado na Universidade de Columbia, durante a Semana do Clima em Nova York.
“O país tem implementado práticas agrícolas sustentáveis, como o plantio direto, que conserva o solo e a água, e o manejo integrado de pragas, que minimiza o uso de químicos, para mitigar os impactos ambientais sem comprometer a viabilidade agrícola a longo prazo”, destaca Ricardo Assumpção, CSO da EY e líder de ESG e Sustentabilidade, que palestrou no evento.
A produtividade alta da agricultura brasileira vem sendo demonstrada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Em estudo divulgado neste ano, a entidade constatou que a agricultura do país é a mais produtiva do mundo – à frente de países como Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, China, Itália, Canadá e Bélgica.
Como resultado da alta produtividade, o Brasil poupou da destinação agrícola quase metade do seu território com uso de tecnologias na produção entre 1990 e 2020. A Espanha, segunda colocada, ficou bem atrás, tendo poupado 20,4%, seguida dos EUA, com 8,9%.
Ainda segundo o Ipea, ao considerar a produtividade total dos fatores (PTF), ou seja, produzir mais com menos recursos ou insumos, houve aumento de cerca de 400% nesse indicador para a agricultura do país entre 1975 e 2020. Nesse período, o crescimento médio da PTF foi de 3,3% ao ano, o que fez do Brasil um dos países que mais cresceram da década de 1970 para frente. A partir dos anos 2000, passou a liderar a produtividade mundial – entre 2000 e 2019, enquanto a PTF brasileira avançou cerca de 3,2% ao ano, o mesmo indicador, em escala global, ficou em torno de 1,7%.
Essa alta produtividade contribui para a sustentabilidade da agricultura e é resultado de políticas tecnológicas bem-sucedidas lideradas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
“Em um contexto de elevação da temperatura global, o Brasil, como principal exportador, desempenha papel estabilizador no mercado alimentar, fornecendo a países que enfrentam limitações na produção de certas culturas por causa do seu clima ou das restrições de espaço para terra cultivável”, explica Ricardo.
Elevação ainda maior da temperatura global - Esse cenário de adversidade do clima pode ficar ainda mais grave nos próximos anos, de acordo com estudo do World Resources Institute (WRI) divulgado recentemente, que analisou o potencial impacto de uma elevação de 3ºC da temperatura nas mil maiores cidades do mundo – que somadas têm 26% da população global (ou 2,1 bilhões de pessoas).
Nessa temperatura, ainda segundo a pesquisa, muitas cidades podem enfrentar ondas de calor de um mês de duração, trazendo riscos elevados para a agricultura e o suprimento de energia, já que altas temperaturas resultam em perda da lavoura e aumento do consumo de eletricidade devido, entre outros fatores, ao uso intenso do ar-condicionado. Há, ainda, maior possibilidade de doenças simultâneas transmitidas por insetos, ameaçando assim a saúde da população.
“Além da agricultura sustentável, o Brasil contribui para a redução dos efeitos do aquecimento global ao conservar Amazônia e Cerrado, que se mostram fundamentais para a saúde ecológica global. O país tem se esforçado para alinhar a produtividade agrícola com a preservação desses habitats críticos para o planeta”, diz Ricardo,
Técnicas de agricultura regenerativa - A agricultura regenerativa está dedicada a restaurar ou regenerar as funções ecológicas naturais, não bastando, portanto, criar dinâmicas que causem menos danos. Entre as técnicas exploradas estão o plantio direto e o manejo integrado de pragas.
No plantio direto, a semente é colocada no solo não revolvido por meio de semeadoras especiais. Nesse processo, um pequeno sulco é aberto com profundidade e largura suficientes para garantir a cobertura adequada e o contato da semente com o solo. O objetivo é diminuir o impacto das máquinas agrícolas sobre o solo, a fim de garantir a preservação de suas características físicas, químicas e biológicas.
Em algumas regiões do país, essa técnica é usada desde os anos 1970, tendo se disseminado no território nacional em atendimento às recomendações da ECO-92 e da “Agenda 21 Brasileira”.
Já o manejo integrado de pragas e doenças controla as infestações por meio da mínima interferência no meio ambiente. O que se pretende é diminuir as chances dos insetos ou doenças se adaptarem a alguma prática defensiva. Essa estratégia não tem o propósito de eliminar os agentes, mas de reduzir sua população para permitir que seus inimigos naturais permaneçam na plantação, agindo sobre suas presas, o que favorece o retorno do equilíbrio natural desfeito pela plantação e pelo uso de químicos.
IMAGEM: Dirceu Portugal/AE