Bancos públicos aumentam participação no crédito e alcançam 43% do mercado
O Banco do Brasil projeta crescimento de 8% a 12% na carteira neste ano; a Caixa espera 11% de alta
Com lucro líquido de R$ 18,8 bilhões (+ 8,5% sobre 2023) e R$ 6,2 bilhões (+36,6%) no primeiro semestre, respectivamente, Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal também tiveram alta em suas carteiras de crédito. A carteira do BB, por exemplo, cresceu 13,2%, atingindo quase R$ 1,2 trilhão. Já a da Caixa, que divulgou resultados na última quarta-feira (21), somou R$ 1,17 trilhão em junho – alta de 10,6% sobre igual mês do ano passado.
Estratégicos para financiamento de áreas como habitação e infraestrutura, os bancos públicos aumentaram sua participação no mercado de crédito a partir de 2023, atualmente em torno de 43% (era de 42% no ano anterior). É uma alta tímida – de apenas 2,4% -, mas mostra o apetite dos bancos pelo segmento.
O BB projeta crescimento de 8% a 12% na carteira neste ano. A estimativa da Caixa é de 11%. Em linha, por exemplo, com o dado de junho, quando a carteira somou R$ 1,17 trilhão (+10,6%). Só o crédito habitacional (R$ 754,2 bilhões) aumentou 14,8%. A Caixa concentra 68% do mercado de financiamento imobiliário. Entre as instituições privadas, que divulgaram seus resultados no início do mês, o Itaú estima expansão de 6,5% a 9,5% na carteira de crédito deste ano e o Bradesco, de 7% a 11%.
O crédito imobiliário representa 66,7% do crédito total da Caixa, com saldo de R$ 783,6 bilhões (alta de 14,8% em 12 meses). Desse valor, R$ 456,6 bilhões usam recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS, +17,1% em 12 meses) e R$ 327 bilhões, do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE, +11,7%). O banco liberou R$ 302,1 bilhões em crédito no semestre, crescimento de 16,7% em relação aos seis primeiros meses de 2023. Com montante de R$ 321 bilhões, a carteira ampliada para pessoas físicas do BB cresceu 6,2% em 12 meses, com influência do crédito consignado. Para PJs (R$ 421 milhões), o aumento foi de 13,2%. No caso do agro (R$ 375 bilhões), a alta chegou a 16,6%. No caso da MPME, o banco fechou junho com saldo de R$ 121,8 bilhões (mais 10,7% em 12 meses).
Em março, durante a divulgação, o chefe do Departamento de Estatísticas (DSTAT) do Banco Central (BC), Fernando Rocha, observou que as instituições públicas passam por novo período de crescimento – e a participação no mercado já foi bem maior. “Se a gente pegar uma série de 10 anos ou mais, 15 anos, vai ver um crescimento da participação das instituições financeiras públicas, depois uma redução delas, e agora um novo crescimento”, disse Rocha. “Naquele período de crescimento anterior, o crédito das instituições financeiras públicas chegou a ser superior a 50% do crédito total.”
Segundo o boletim Estatísticas Monetárias e de Crédito, do BC, o estoque total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) somou R$ 6 trilhões em junho – crescimento de 9,9% em relação a igual período do ano anterior. O crédito para pessoas jurídicas (R$ 2,3 trilhões) teve alta de 7,7% e o destinado a pessoas físicas (R$ 3,7 trilhões), 11,4%. A inadimplência total foi de 3,2%, menos 0,3 ponto percentual em 12 meses. Ficou em 2,6% para pessoas jurídicas (+0,1 p.p.) e em 3,7% para físicas (-0,5 p.p.)
CONFIANÇA
Para Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, o “robusto crescimento” no crédito, especialmente o imobiliário, “sugere uma confiança contínua no mercado habitacional brasileiro, apesar dos desafios econômicos globais”. Ele considera “crucial” o desempenho dos bancos estatais para a economia brasileira. “Fornecem liquidez e suporte financeiro em um momento de incertezas econômicas globais e transição nas políticas monetárias tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos”, afirmou. O presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon) em São Paulo, Pedro Afonso Gomes, destaca a capilaridade: “O BB tem uma rede muito grande, atende inclusive onde os bancos particulares não estão presentes.”
Ao divulgar seus resultados do segundo trimestre – lucro líquido recorrente de R$ 3,3 bilhões (+27,3%) –, a Caixa informou que a provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa (PCLD, de R$ 4,4 bilhões) caiu 11,1% em relação ao primeiro trimestre e 7,4% em relação a 2023. No acumulado do semestre, a queda foi de 4,1%, para R$ 9,3 bilhões. “A redução na inadimplência da carteira de crédito total da Caixa para 2,2% é um sinal positivo, indicando uma gestão de risco eficaz”, disse Murad. Essa redução foi de 0,59 ponto percentual ante junho de 2023 e de 0,14 ponto no trimestre. Mas o analista chama a atenção para outro ponto, que considera preocupante: “O aumento nas taxas de inadimplência em segmentos como pessoa física e jurídica merece atenção, pois pode refletir pressões econômicas sobre consumidores e empresas”.
No BB, o comportamento foi diferente. A PCLD ampliada caiu (-8,6%) no trimestre, mas cresceu (8,8%) na comparação com igual período do ano passado. De janeiro a junho, aumento de 25,5%, para R$ 16,3 bilhões. Já o índice de inadimplência (3%) está abaixo da média do SFN (3,2%), mas mostra curva ascendente. Um ano atrás, estava em 2,73%. Relatório divulgado no dia 15 de agosto pela Moody´s ressalta o papel dos bancos públicos brasileiros em relação às instituições privadas.
Em sua análise, a empresa afirmou: “Em geral, a confiança empresarial no país tem estado relativamente fraca devido à incerteza sobre o desempenho futuro da economia brasileira. No entanto, é provável que os grandes bancos estatais sigam uma meta de crescimento mais otimista do que seus pares privados, devido ao seu forte alinhamento com a pressão do Governo Federal de promover a atividade econômica por meio dos mercados de crédito. Os bancos privados, alternativamente, provavelmente manterão um apetite de crédito mais contido.”
IMAGEM: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil