As lavanderias de autosserviço estão expandindo; vale investir no modelo?
Este tipo de franquia tem atraído mais empreendedores por não exigir grande investimento e operar sem a necessidade de funcionários

O setor de lavanderias, de modo geral, alcança hoje cerca de 5% da população. Mas há projeções bem otimistas de um crescimento expressivo até 2030, que apontam que esse serviço passe a ser utilizado por mais de 10% dos brasileiros.
A expectativa de aumento da demanda está ligada à ‘proliferação’ das lavanderias de autosserviço, nas quais o próprio cliente coloca suas peças na máquina com sabão e amaciante e aguarda sentado com Wi-Fi ou televisão, bem longe de um tanque cheio de roupas.
Segundo a Associação Nacional das Empresas de Lavanderia (Anel), o Brasil já conta com mais de 27 mil lavanderias, sendo que mais de 3 mil delas são do modelo autosserviço. Parece que vemos uma em cada esquina. E há vários motivos que contribuem para este cenário.
A correria da vida atual, a quase extinção da profissão de lavadeira, menos empregadas domésticas contratadas nas residências, domicílios com um único morador e áreas residenciais cada vez menores têm feito com que o hábito de lavar roupas em lavanderias comece a se tornar popular no Brasil.
E ainda há um potencializador deste cenário: o público mais jovem, que busca a praticidade e tem uma visão mais ampla para a sustentabilidade.
Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), isso tem gerado oportunidades de investimento em novos formatos, que associam conveniência, flexibilidade e conforto e criam oportunidades para se abrir um negócio com pouco investimento.
POPULARIZAÇÃO
Para o consultor de negócios e varejo Josemar Duarte, as pessoas estão com menos tempo e com mais necessidades de serviços. Desde que surgiram, as lavanderias sempre foram mais focadas no mercado executivo e de luxo.
“Antes, era mais comum ver pessoas levar ternos, camisas, vestidos de festa, cobertores e edredons para lavar fora de casa, mas não tinha roupa do dia a dia. Hoje, isso mudou, principalmente para os que moram sozinhos, que optam pelos autosserviços de rua ou em seus próprios condomínios”, avalia Duarte.
O custo para lavar roupas pode variar conforme a localidade e rede de lavanderia, mas começa em torno de R$ 15 para lavar e secar até 10 kg de roupas, com sabão e amaciante inclusos.
Geralmente, as lojas funcionam das 7h às 22h, de segunda-feira a sábado, e das 7h às 20h, aos domingos e feriados. “Isso cria uma flexibilidade imensa neste serviço, algo possível porque as lojas não têm funcionários e os meios de pagamento são eletrônicos.”
OMO LAVANDERIA
A OMO foi uma das primeiras a operar este modelo de autosserviço no Brasil. Atualmente, a marca da Unilever conta com mais de 300 lojas em todas as regiões do Brasil. Já a OMO Lavanderia Compartilhada, presente em condomínios, possui 2.500 unidades.
Procurada pela reportagem do Diário do Comércio, a OMO Lavanderia não concedeu entrevista, mas tem divulgado que projeta chegar a 500 lojas até 2026 das unidades de autosserviço.
De acordo com Duarte, para expandir este tipo de negócio é preciso ajustar os preços dependendo do público que se quer alcançar. “A própria OMO lançou o serviço no Brasil com o mote de democratizar as lavanderias self-service. Não pode ser caro, senão não compensa para o consumidor.”
A rede OMO Lavanderia surgiu na pandemia e utilizou sua tradição no setor de limpeza e higiene para crescer no ramo.
5ÀSEC
A multinacional francesa está presente há 30 anos no Brasil e trouxe um modelo mais tradicional de lavanderia quando chegou. Com uma participação já consolidada, a 5àsec criou, em 2023, as unidades de autosserviço Lav Pop.
Com faturamento de R$ 290 milhões em 2024 e expectativa de chegar a R$ 320 milhões em 2025, a empresa possui um total de 580 pontos em todos os estados brasileiros, sendo quase 100 unidades da Lav Pop. “Projetamos que, ao final de 2025, a marca tenha 200 unidades e, em cinco anos, chegaremos às 500 operações no país nesse modelo”, conta Fábio Roth, CEO da 5àsec.
Ele diz que a 5àsec nasceu e continua atuando para o mercado de lavanderia especializada, com serviços tradicionais de limpeza e passadoria de roupas, possuindo tecnologia exclusiva para o tratamento de roupas delicadas e do dia a dia.
“Mas temos demandas de públicos mais jovens e democráticos, que buscam a relação custo-benefício em ter serviço autônomo com equipamentos profissionais, a fim de ter rapidez e eficiência com baixo custo. É uma tendência global decorrente do fato de as cidades estarem mais verticalizadas, com menos espaço nas moradias para área de serviço, famílias menores em que todos trabalham, mas necessitam investir menos nesse quesito dentro do orçamento doméstico”, diz Roth.
Questionado se o modelo do autosserviço veio para ficar, o CEO da 5àsec acredita que havia uma demanda reprimida. “Muitas marcas surgiram sem nenhuma expertise no setor e sem equipamento profissional ou químicos de alta tecnologia. Acredito que o consumidor promoverá uma seleção natural e, em poucos anos, teremos o serviço disseminado com marcas mais sólidas e em menor número”, completa.
60 MINUTOS
Atento a esse potencial de mercado, o Grupo HI - dono da lavanderia 60 Minutos - anunciou em janeiro um aporte da Equity Fund Group para a expansão da marca no Brasil. São quase 1.000 franquias em 120 cidades do país e uma expectativa de crescimento nacional e internacional em 2025.
Segundo Isaelson Oliveira, fundador e presidente do Grupo HI, o aporte da Equity acelera a expansão da rede, com a abertura de unidades em locais estratégicos. “Esse investimento traz maior acessibilidade a serviços modernos e alinhados aos princípios de sustentabilidade, o que aprimora a experiência e o atendimento oferecido aos clientes”, explica.
A operação no formato self-service oferece praticidade ao cliente final, ao mesmo tempo em que reduz o consumo de água, energia e de produtos químicos por meio de tecnologias de dosagem automática e climatização eficiente.
“Aliado a isso, temos soluções tecnológicas para ter baixa intervenção de mão de obra e para facilitar a gestão das franquias, como monitoramento remoto, automação e sistemas de CRM”, comenta Oliveira.
CONDOMÍNIOS
Não são apenas as lavanderias de autosserviço de rua que estão crescendo. Condomínios residenciais e hotéis representam uma grande fatia desse mercado, além das universidades, como a USP, que já conta com o serviço.
Uma delas fica no maior edifício residencial da América Latina, o Copan. A unidade da OMO Lavanderia oferece uma estrutura profissional completa para os mais de 5 mil moradores do complexo. As máquinas lavam e secam em até 75 minutos.
Comprar uma máquina de lavar roupas pode custar caro. Condomínios que possuem lavanderia compartilhada são cada vez mais comuns.
A economia é o principal benefício. Um ciclo normal em máquinas caseiras e individuais (lava e seca) pode ultrapassar os 270 minutos. A economia no consumo de água e energia em uma lavanderia compartilhada pode chegar a 65% em 75 minutos de processo completo (lavagem e secagem).
FRANQUIAS
Optar por um modelo de autoatendimento em franquias de lavanderia de autosserviço tem se mostrado um negócio extremamente atrativo para investidores que buscam um negócio enxuto e com baixa complexidade operacional.
No franchising, as franquias de lavanderia estão inseridas no segmento de Limpeza e Conservação, que cresceu 11,6% em 2024, comparado com o ano anterior.
Segundo estimativas da Anel, o investimento inicial médio em uma nova lavanderia de aproximadamente 50 m² de área útil é de R$ 200 mil. No entanto, há franquias com investimento inicial a partir de R$ 100 mil.
Entre os custos estão obras gerais, comunicação visual, sistema de lavagem, sistema de informática (hardware e software), casulo e balcão, ar-condicionado, cabides e embalagens, cabideiros e acessórios, insumos e capacho.
A franqueada Fernanda Pereira possui uma franquia da OMO Lavanderia na zona Sul da capital paulista e explica por que vendeu a padaria que tinham e abriu uma lavanderia de autosserviço.
“Eu e meu marido optamos por este tipo de negócio porque ele elimina a gestão de funcionários, custos relacionados a salários, benefícios, treinamento e seguro de trabalho. E para isso, nós dois não precisaríamos trabalhar sem parar como era antes. O negócio anda sozinho na maior parte do tempo”, conta.
Fernanda diz que, com a padaria, saía de casa por volta de 4h da manhã e só fechava por volta de 19h ou 20h. O fluxo de fornecedores também dava muito trabalho, além da gestão dos funcionários.
“Na lavanderia, o risco de não receber pelo serviço é zero porque a automação nos garante essa segurança. O processo é feito por meio do aplicativo da OMO Lavanderia, que ativa as máquinas e dosa os produtos após o pagamento. Já estamos pensando em abrir mais duas franquias como essa”, conta a empresária.
O Sebrae possui um guia especialmente voltado para empreender em uma franquia que funciona sozinha, como a lavanderia de autosserviço. O empreendedor deve usar a automação e a tecnologia ao máximo para otimizar processos e reduzir a necessidade de mão de obra.
“É importante lembrar que o dono de uma franquia sem funcionários será responsável por diversas áreas do negócio. Então, é bom já ter ou buscar capacitação em marketing, finanças, vendas e gestão a fim de aprimorar os conhecimentos para esta modalidade de negócio”, pondera Duarte.
IMAGEM: 60 Minutos/divulgação