As apostas do setor de chocolates (e da Cacau Show) para a Páscoa 2025
Pistache, nuts em geral, produtos personalizados e itens colecionáveis estão em alta

O Brasileiro consome em média 3,9 kg de chocolate por ano. Em 2024, a produção da guloseima foi de 805 mil toneladas, representando um crescimento de 6% comparado ao ano anterior. Além disso, na Páscoa passada, 58 milhões de ovos foram disponibilizados no mercado, envolvendo 611 diferentes tipos, sendo 115 lançamentos, segundo a Associação Brasileira de Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab).
Para 2025, Jaime Recena, presidente da Abicab, enxerga que o chocolate ao leite continuará protagonista na preferência dos brasileiros. Mas há cerca de dois anos, um ingrediente especial, que combina muito bem com chocolate, tem direcionado a atenção dos consumidores: o pistache.
“Além dos ovos, a indústria tem produzido barras de chocolate com pistache, e apostado em sabores mais intensos, com produtos com maior adição do cacau”, diz Recena.
Gigante do setor, a Cacau Show aposta no pistache como um dos elementos principais da campanha de Páscoa para este ano. Os maiores investimentos anuais da chocolateria são direcionados para a data. A expectativa da fabricante é vender 22,6 milhões de ovos de chocolate neste ano, com um tíquete médio de cerca de R$ 150, faturando 38% a mais que na Páscoa de 2024.
Mas, além do pistache, a marca enxerga um forte interesse dos consumidores por nuts em geral, como amêndoas, noz-pecã e o próprio amendoim. Os ingredientes, que são comuns nas chocolatarias europeias, não eram tradicionais entre os consumidores brasileiros devido ao preço, mas essa tendência tem mudado nos últimos anos, segundo Ana Luiza Costa, gerente de categorias da Cacau Show. “Entre as nossas trufas, as que ganharam mais mercado são as de pistache e paçoca, em que utilizamos amendoim natural”, diz
Outra tendência no segmento de chocolate identificada por Ana Luiza envolve os produtos zero açúcar e lactose, consequência de mudanças nos hábitos dos consumidores, que estão mais preocupados em ter um estilo de vida saudável.
A preocupação aqui é que os produtos mais saudáveis mantenham as características sensoriais das versões originais. “Se compararmos a linha LaCreme tradicional e a LaCreme zero, dificilmente o consumidor vai perceber diferença”, explica Daniel Roque, vice-presidente da Cacau Show.
Ele destaca que a Páscoa é um laboratório para testar os interesses dos consumidores, mas que a tradição não pode ser esquecida. “É o momento para as marcas apostarem nos seus melhores produtos, investindo em pequenas inovações e experiências personalizadas”, diz. “O preço é um condutor importante para os consumidores, mas sempre é possível apresentar um diferencial para que o preço do produto não seja tão relevante na decisão de compra.”
Outra aposta de Roque para aumentar as vendas na Páscoa é o uso de produtos licenciados, que já representam cerca de 40% do faturamento mensal da Cacau Show. Neste ano, a marca retoma antigas parcerias, com Looney Tunes, Ursinhos Carinhosos e Snoopy, Harry Potter, e aposta em novas, com as Meninas Super Poderosas e o Bob Esponja.
Segundo o vice-presidente, o produto licenciado se destaca por já possuir um forte grupo de fãs, o que ajuda na sua divulgação rápida nas redes sociais, estimulando as vendas.
Para Ana Luiza, os produtos licenciados mexem com a memória afetiva, estimulando os pais a comprarem presentes de personagens que marcaram sua infância. Além disso, algumas linhas desse segmento envolvem produtos colecionáveis, como os da NFL, que têm agitado a internet.
“A nossa linha infantil geralmente é a que sai primeiro das lojas, mas além deles, os ovos recheados são muito procurados e os mais clássicos, como o LaCreme, são os que trazem maiores volumes de vendas para os franqueados”, diz Ana Luiza.
PREÇO DO CACAU
O cacau foi o produto agrícola que mais sofreu aumento em 2024, com alta de 150% na bolsa de Nova York, segundo o ValorData. Em dezembro, o cacau chegou a US$ 12.605 por tonelada, valorizando o dobro do café.
A alta no cacau é explicada pela baixa produção devido ao El Niño, fenômeno climático que tem afetado as lavouras de Gana e Costa do Marfim, principais produtores da fruta, segundo Jaime Recena, da Abicab.
Para lidar com esse aumento, evitando grandes repasses aos consumidores, a Cacau Show tem buscado otimizar processos internos, ajustando as embalagens e melhorando a eficiência da produção. Além disso, outra saída encontrada pela chocolataria é trabalhar com nuts, diminuindo o uso do cacau.
“Os franqueados estão trabalhando mais justos, assim como nós, diminuindo as despesas, adequando as formulações e o consumidor teve uma pequena parte do repasse desse aumento. Assim, conseguimos manter preços competitivos, para não perdermos volume de vendas”, comenta Roque.
Segundo Recena, para enfrentar a carência mundial de 400 mil toneladas de cacau, a Abicab, em parceria com o Governo Federal e a iniciativa privada, criou o programa Inova Cacau, que prevê a duplicação da produção brasileira até 2030, alcançando as 400 mil toneladas. Além disso, em São Paulo, há o projeto Cacau-SP, de estímulo ao cultivo de amêndoas em São José do Rio Preto e no Vale do Ribeira.
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