Aplicação em dólar foi a que mais se valorizou em setembro
Ranking de investimentos mostra que o principal índice de ações da bolsa de valores ficou na lanterna. Renda fixa continua atrativa

A crise política, que contamina a economia, e mais o cenário internacional influenciaram a cotação do dólar para cima e o desempenho das ações na bolsa de valores para baixo ao longo de setembro.
No último dia útil do mês houve uma leve reviravolta. O dólar caiu 2,31%, cotado a R$ 3,964, mas ainda assim continuou sendo o ativo que mais se valorizou na comparação com os juros e a renda variável no mês e no ano.
Em setembro, a cotação da moeda norte-americana subiu 9,23%. No ano, acumulou ganhos de 48,91%, segundo o ranking do administrador de investimentos Fabio Colombo.
Depois do dólar, o fundo cambial que mais se valorizou no período foi o atrelado ao euro, com alta de 8,60% no mês e de 37,17% no ano. Em terceiro, ficou o ouro, com valorização de 7,22% em setembro e de 39,05% no ano.
A bolsa de valores continuou na lanterna, proporcionando prejuízos ao investidor no mês e no ano.
O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas e de empresas de maior valor de mercado da bolsa de valores, ficou no campo positivo no último dia do mês, com alta de 2,10%, aos 45.059 pontos. No entanto, acumulou perdas de 3,36% em setembro e queda de 9,89% no ano.
As notícias que levaram o índice a subir foram a de mudanças no governo de Dilma Rousseff, com a troca de ministro da Casa Civil, e a decisão da Petrobras de reajustar o preço da gasolina, que passa a custar cerca de R$ 0,20 a mais para o consumidor de São Paulo.
O mercado entendeu que isso deve aliviar o caixa da petroleira. Tanto, que a ação preferencial (PN) da Petrobras subiu 9,10%.
Apesar disso, o papel desvalorizou-se 28,24% no ano e 60,31% em 12 meses, de acordo com Raymundo Magliano Neto, diretor presidente da Magliano Corretora.
Outubro ainda será um mês de emoções fortes para quem se arrisca na bolsa e mesmo em aplicações que acompanham o dólar.
Isso porque o pessimismo do mercado, que já considera a possibilidade de mais uma perda de grau de investimento, continuará influenciando os preços para cima e para baixo. Até mesmo nos juros futuros - que para o investidor aparecem nas taxas prefixadas.
"Em outubro, os principais riscos se mantêm. O que vai balizar as expectativas é a tramitação política no Congresso, as questões envolvendo o Orçamento e o risco de impeachment. O fator pontual será a aprovação ou rejeição das contas do governo de Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União. Esse é o evento que o mercado olhará neste próximo mês", afirma Bruno Piagentini, analista da Coinvalores.
Depois do primeiro rebaixamento pela Standard & Poor's no último dia 9 de setembro, o mercado passou a esperar um segundo corte na nota de classificação de risco por outras agências internacionais. Atualmente, o país tem grau de investimento pela Moody's e pela Fitch.
"Outra perda do grau de investimento deve ocorrer até janeiro. As agências estão esperando pela aprovação da CPMF, o que deve demorar. Além disso, há a expectativa de aumento de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano)", diz Magliano Neto.
Segundo ele, tudo isso deve gerar muita instabilidade no mercado, especialmente na cotação do dólar e da bolsa. Ele diz acreditar que o dólar fique no patamar de R$ 3,80 a R$ 4,20 no final do ano, com viés de alta.
Já Mauro Calil, especialista em investimentos do Banco Ourinvest, mantém a perspectiva de que o dólar fique em R$ 4,20 no fim do ano, cotação que embute um possível rebaixamento da nota do Brasil.
"Quando a cotação estava em R$ 3,25 ou R$ 3,50 era evidente que havia possibilidade de ganho em aplicações, mas acho que essa janela já passou para quem não aplicou. Ficou nublado e confuso", afirma.
OPORTUNIDADES NA RENDA FIXA
O especialista afirma que a bolsa, por ter sido muito castigada e ficar próxima do nível mais baixo de 37 mil pontos de 2008, pode ter uma pequena recuperação na reta final deste ano.
"A volatilidade (altas e quedas fortes nos preços) deve continuar e pode não valer a pena ficar exposto a esse risco. Na renda fixa, as taxas de juros futuros seguem aumentando com a perspectiva de um novo rebaixamento", diz.
Segundo Calil, há oportunidades em aplicações prefixadas, especialmente para quem tem planejamento para resgatar no vencimento, que pode ser em dois, três e quatro anos.
Geralmente, a rentabilidade previamente definida carrega o risco de ser menor do que a taxa de juros da economia no futuro, ou seja, quando houver o resgate.
"Em um dia de setembro, a taxa pré chegou a 20% para uma aplicação de quatro anos. Por isso, recomendo que, em oportunidades como essa, o investidor coloque 50% do que tem em renda fixa na taxa pré", diz.
Magliano Neto recomenda aos clientes da corretora que coloquem a maioria dos recursos em aplicações de renda fixa pós-fixadas (na qual a rentabilidade é conhecida no resgate da aplicação).
"Ao cliente mais tradicional recomendamos aplicações que acompanham o CDI (Certificado de Depósito Interbancário, taxa praticada entre bancos). Se essa taxa subir, ele acompanha. Para a taxa pré, sugerimos até 20% da carteira por causa do perfil conservador do nosso cliente", explica.
As aplicações atreladas a juros que podem ser prefixadas ou pós-fixadas são os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), as letras de crédito (imobiliário e do agronegócio) e letras de câmbio.
Segundo Colombo, o investidor precisa avaliar bem se está disposto a aplicar em taxa pré por um período prolongado, já que há muitas incertezas na economia. "Uma opção para quem considera diversificar aproveitando a abertura da taxa é o título público indexado à inflação, que estava pagando um cupom de 8% ao ano mais o IPCA", afirma.
Em setembro, o rendimento médio dos CDBs ficou entre 0,95% a 1,10% segundo o levantamento de Colombo, o mesmo retorno indicativo dos títulos públicos indexados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no mesmo período.
No ano, porém, os títulos públicos atrelados à inflação ofereceram um retorno indicativo maior, de 12,61%, enquanto os CDBs, em média, renderam 9,30%.
Já os fundos tiveram comportamentos distintos. O fundo DI teve rendimento bruto médio de 1,10% a 1,15% em setembro, dependendo da taxa de administração. No ano, ficou em 9,71%.
O fundo de renda fixa teve um desempenho menor no mês, de retorno médio bruto de 0,60% a 0,75%, abaixo da inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), que foi de 0,95%. No ano, a rentabilidade média bruta foi de 9,39%, dependendo da taxa de administração.
Uma explicação para isso, segundo Colombo, é a marcação a mercado (atualização diária do valor dos títulos do fundo). Com a alta dos juros futuros, os títulos e demais papéis na composição dos fundos acabam tendo uma redução no valor diário contábil.
A aplicação mais popular do país, a caderneta de poupança, perdeu da inflação medida pelo IGP-M tanto no mês, com retorno de 0,69%, quanto no ano, com rendimento líquido de 5,90%.
Foto: Thinkstock