Alta da Selic agravará a recessão e as contas públicas
Alencar Burti (foto), presidente da ACSP e da Facesp, critica aumento estimado pelo mercado financeiro. Copom se reúne para definir nova taxa na terça-feira (19/01) e quarta-feira (20/01)

A taxa básica de juros, a Selic, deve ser elevada em 0,5 ponto percentual para 14,75% ao ano, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que se reúne terça-feira (19/01) e quarta-feira (20/01).
Atualmente, a taxa está em 14,25% ao ano. A expectativa é de instituições financeiras consultadas semanalmente pelo BC.
Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), vê com preocupação a possibilidade de aumento de juros após a próxima reunião do Copom.
Ele avalia que a indicação de que o Banco Central poderá iniciar um novo ciclo de elevação da Selic é motivo de grande preocupação, pois tal medida agravaria a recessão e afetaria duplamente as contas públicas, pela queda da arrecadação fiscal e pelo aumento dos encargos da dívida pública, sem ganho significativo - se é que haverá algum - sobre o combate à inflação.
"É um equívoco neste momento”, diz Burti.
O presidente da ACSP e da Facesp diz que o desemprego ainda vai piorar, como consequência de todos os fatores negativos da economia, o que dispensaria um novo aumento da taxa de juros.
Para ele, no cenário atual, já há uma tendência de queda da inflação.
“Parece evidente que a alta dos juros causaria mais danos do que benefícios neste momento. Além disso, existem claras indicações de que a inflação deverá desacelerar nos próximos meses, à medida em que se dilui o impacto da correção das tarifas e do câmbio, embora ainda esteja acima do desejável”, explica.
VAREJO
Burti também comenta as consequências da medida para o comércio.
“Se para o varejo já está difícil, com a expectativa do aumento de juros, a dificuldade se torna ainda maior. E ainda com o temor de aumento de imposto, realmente é uma situação preocupante", afirma.
A ACSP defende a manutenção da Selic, já que o desemprego e a recessão já provocaram queda forte na confiança e no consumo das famílias, o que deverá produzir efeitos de combate e controle à inflação.
"Ainda serão sentidos os efeitos das altas praticadas – elas foram suficientes para reverter a escalada inflacionária e para produzir resultados em 2016 e em 2017. O fim dos grandes reajustes de tarifas públicas e do câmbio também corroboram nesta direção”, avalia Burti.
POLÍTICA MONETÁRIA DO BC
O presidente da ACSP diz que o BC precisa reavaliar seu posicionamento. “Se é verdade que o Banco Central quer cumprir as metas de inflação, não é menos verdade que ele não pode ignorar os efeitos de sua atuação sobre a economia real e a sociedade, devendo pesar os custos e os benefícios de suas ações”.
Burti pondera, ainda, que a política monetária deve ser complemento do controle dos gastos públicos, e não substituta, “mesmo com a passividade do Executivo com relação às contas públicas”.
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