Agora o Brasil precisa de paz

Maior responsabilidade pela redução das tensões e confrontos é daqueles que tiveram suas posições vitoriosas nas eleições

Marcel Solimeo
04/Nov/2022
Economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo
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Agora o Brasil precisa de paz

O Brasil vem enfrentando nos últimos anos a um movimento sistemático de corrosão da convivência social, que se agravou fortemente durante o período eleitoral. Os diversos segmentos que compõem a sociedade foram se aglutinando em grupos específicos que, nos meses que antecederam as eleições, passaram a divergir de forma sistemática, aumentando cada vez mais a agressividade dos debates. A disputa política não se limitou a divergências de opiniões e posições, que poderiam ser superadas depois, mas passou a se configurar como uma incompatibilidade irreconciliável de visões distintas sobre pontos fundamentais.

Esse cenário foi potencializado pelas redes sociais que, ao invés de funcionarem como um fator de integração da sociedade, serviram para radicalizar as posições, formando “grupos” antagônicos que passaram a se digladiar nos vários ambientes, inclusive familiares. A mídia tradicional também se transformou muito mais em participante do debate político, inflamando as posições, do que meios de informação isentos e que pudessem desanuviar o ambiente de agressividade.

Passada as eleições, cujo resultado confirmou a divisão em dois blocos distintos, praticamente iguais numericamente, mas em que as posições em comum em cada um deles apresenta diferentes gradações. Temos, de um lado, da centro direita até a extrema direita e, de outro, da centro esquerda até a extrema esquerda. É difícil saber as proporções de cada uma em cada um dos blocos, mas, imagino, que as porções mais próximas ao centro predominem em ambos.

Se essa suposição for correta, acredito que se possa achar uma “zona de convergência” a partir da qual se vá ampliando o espaço do diálogo em torno de um plano de desenvolvimento com inclusão, que permita a retomada do crescimento com o combate à pobreza e melhor distribuição dos frutos do progresso. O Congresso, cuja composição é bastante diversificada, é o local onde se poderá buscar a conciliação e o entendimento, mas, para isso, vai precisar isolar os extremos, e se preocupar mais com o futuro do que acertar contas do passado.

Também o Judiciário, que se mostrou demasiado intervencionista em muitas oportunidades, precisa contribuir para a pacificação do país, procurando distender o clima de confronto entre os grupos.

Cabe a cada um que tenha alguma parcela de influência trabalhar para melhorar o clima de entendimento, mesmo que tenha tido muitos de seus pontos de vista derrotados. Maior responsabilidade pela redução das tensões e confrontos é daqueles que tiveram suas posições vitoriosas. Devem considerar que o resultado das eleições não deu a nenhum dos grupos uma supremacia de suas posições, mas revelou apenas uma maioria estreita que exige a busca da conciliação.

Precisamos, como cidadãos, procurar recompor nossos laços com amigos, colegas, parentes e mesmo desconhecidos, os quais, muitas vezes, criticamos de forma agressiva, ou até rompemos relações no calor da radicalização política.

Vamos pedir a São Francisco que faça de cada um de nós instrumento da paz.

 

OMAGEM: Freepik

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