A recuperação do varejo ainda está distante

Lojistas ainda terão de enfrentar um Natal fraco na reta final do ano. Ambiente só melhora com a queda dos juros e medidas para estimular a economia

Redação DC
13/Dez/2016
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A recuperação do varejo ainda está distante

O arrefecimento das quedas das vendas do varejo são o único alento que os lojistas podem esperar neste fim de ano, já que a expectativa para o Natal ainda é de resultado negativo, mas melhor do que o recuo de 9,7% registrado em 2015. A avaliação é de César Fukushima, economista da MasterCard responsável pelo índice Spending Pulse, que mede o varejo no país.

"Esse fim de ano não será tão interessante para o varejo por causa da alta taxa de desemprego e da queda de 11% da massa salarial em 12 meses. Tudo isso tem mantido a confiança baixa", afirma.

Sem cravar um mês para a recuperação das vendas, Fukushima apenas avalia que esse processo será mesmo gradual e lento para o varejo. 

Uma amostra de que a reação ainda está distante foi a queda histórica de 6,8% no volume de vendas no varejo nos últimos 12 meses. Este foi o recuo mais intenso dentro da série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2001. 

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, as vendas no varejo recuaram 8,2% em outubro, a 19ª taxa negativa consecutiva.

Segundo Fukushima, o resultado era esperado e se aproxima do indicador de varejo da MasterCard, o Spending Pulse, que recuou 6,5% em 12 meses até outubro. 

No resultado do IBGE, até os supermercados e as farmácias perderam fôlego e encerraram o período em quedas de 3,5% e de 0,8% no mesmo período. O segmento de farmácias também foi atingido pela diminuição da massa salarial e da alta de 12,5% nos preços dos remédios, causada pelo reajuste anual.

"Ainda não observamos uma tendência de melhora. Serão necessárias medidas para estimular a economia. O que temos observado é que o consumidor está buscando preços menores na internet, o que fez o e-commerce crescer 15% em 12 meses até outubro", diz. 

Segundo Fukushima, o varejista não deve ficar muito estocado, mesmo em uma data tão representativa para o setor como é o Natal.

A orientação é vender tudo e realizar ações promocionais - ou seja, as mesmas precauções adotadas ao longo deste ano. Outra forma de buscar reação dentro do negócio é ficar atento ao canal do e-commerce.

Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), disse que o desempenho negativo no décimo mês do ano – provocado em parte pelo dia útil a menos – não altera as projeções de queda para o acumulado de 2016. 

Para Burti, a forte retração no setor de supermercados chama a atenção, mas pondera o papel do chamado atacarejo nesse segmento.

“É claro que a inflação, a massa salarial e o desemprego têm contribuído para a queda dos alimentos. Mas é importante observar que houve também uma mudança no comportamento do consumidor, que passou a fazer parte de suas compras no chamado atacarejo, que não é medido por essa pesquisa do IBGE”, afirma.

De qualquer maneira, os recuos consecutivos nos setores de supermercados e também de farmácia, consideradas áreas de primeira necessidade, “saltam aos olhos”, diz o presidente da ACSP e da Facesp.

“A expectativa é que esses segmentos voltem a crescer no ano que vem. Já os segmentos mais dependentes do crédito ainda vão ter que esperar a intensificação das quedas da taxa de juros, se ela vier”, salienta.

Para a equipe de economistas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), um alívio para o varejo poderá vir com a intensificação do ciclo de queda dos juros, que só deverá ocorrer no início de 2017, beneficiando o setor a partir do segundo semestre desse ano.

Eles avaliam que o varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, sofreu, no mesmo mês, retrações mais acentuadas nas mesmas bases de comparação anteriores (-10,0% e -9,8%, respectivamente), embora no acumulado em 12 meses a redução do volume de vendas tenha sido ligeiramente inferior à observada em setembro (-10%).

"Vale destacar que a alta dos juros, a contração do crédito à pessoa física e o declínio da confiança do consumidor, que está nos níveis mais baixos desde 2005, explicam as fortes retrações nas áreas de móveis e eletrodomésticos, informática, veículos e material de construção", informam os economistas.

CONSTRUÇÃO

O faturamento deflacionado da indústria de materiais de construção no país em novembro caiu 8,6% na comparação com outubro e diminuiu 14,5% em relação ao mesmo mês de 2015. No acumulado do ano, o setor teve retração de 12,4%, de acordo com pesquisa divulgada nesta terça-feira (13/12) pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).

Segundo o presidente da Abramat, Walter Cover, a recessão econômica e seus efeitos sobre emprego, renda e crédito continuam a impactar negativamente a indústria.

"Enquanto não houver uma política contundente de crédito viável, juros acessíveis, um programa de recomposição, um grande acordo de compromissos mútuos entre governo e empresas, a situação do mercado de materiais tende a permanecer negativa em 2017", avalia, em nota distribuída à imprensa.

A Abramat ressalta que, nos últimos três anos, a queda das vendas da indústria de materiais alcançou 33%, e as projeções apontam para mais quedas nos próximos meses.

Já o nível de emprego na indústria em novembro apresentou queda de 6,3% frente ao mesmo período do ano passado. No acumulado do ano a redução foi de 8,9%.

FOTO: Thinkstock

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