A noite em que o Brasil foi para escanteio

Reações da mídia internacional questionam se a perda do selo de bom pagador reforça a possibilidade de a presidente Dilma não conseguir terminar o mandato

João Batista Natali
10/Set/2015
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A noite em que o Brasil foi para escanteio

O diagnóstico sobre o Brasil, depois da perda do grau de investimento, é resumido nesta quinta (10/09) pelo título de reportagem do Le Monde: “O calvário de Dilma Rousseff”. Em seu editorial, o jornal francês menciona a corrupção e o desemprego, a inflação e uma “crise moral”.  Pergunta-se, então se a presidente ainda poderá resistir a mais três anos de mandato.

O rebaixamento do Brasil e a o fim da credibilidade de bom pagador também esteve entre notícias as mais lidas do jornal britânico Financial Times.

A revista The Economist, que tem sistematicamente criticado a inércia do governo diante da crise fiscal, reagiu sarcasticamente: “O mistério é que isso não tenha acontecido antes”, enquanto o jornal espanhol El País escreveu que ganhou forma “um dos maiores pesadelos da equipe econômica, do empresariado e da presidente”.

Para a BBC, o rebaixamento pegou de surpresa o governo brasileiro, mesmo se ele já enfrenta uma recessão que promete não arrefecer antes de 2017 e ainda uma crise de confiança no Planalto. “Para o brasileiro comum, que já vem sofrendo com o desemprego e a inflação, a notícia da desclassificação não poderia ter chegado em pior momento”, diz a emissora britânica.

O pessimismo que prevalece na mídia também contaminou o mercado, com a impressão de que o governo perdeu um pouco mais do fôlego de que dispunha.

O dólar comercial, pela manhã desta quinta (10/09), chegou a ser cotado a R$ 3,90, mas recuou às 16h para R$ 3,85, em razão da intervenção do Banco Central. Perdia, mesmo assim, 1,5% de seu valor da véspera.

Entre os dirigentes da oposição, que trabalham dentro e fora do Congresso para encurtar o mandato da presidente, as reações foram as previsíveis, como a do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Para ele, o mandato de Dilma “está por um fio”, já que ela “está sitiada”, encabeçando “um governo que não governa mais”.

O também senador tucano José Serra (SP) disse que o rebaixamento ocorreu bem mais em consequência da crise política. É nesse plano que o governo demonstra uma fragilidade à qual se soma a falta de unidade de gestão do governo.

Mas o mesmo pessimismo partiu de um dos principais nomes do Partido dos Trabalhadores. Em Washington, onde se encontra, Marco Aurélio Garcia, assessor de política Externa do Planalto, disse que “o Brasil vive uma combinação explosiva de crise fiscal com crise política, que tem como pano de fundo as investigações de corrupção”, relata o Estadão Conteúdo. Ele apela, no entanto, para que sejam mantidas as conquistas no plano social.

O DIA D

Vejamos, tecnicamente, o que ocorreu na noite de quarta-feira. A Standard & Poor´s é uma das três grandes agências de avaliação de risco, ao lado da Fitch Ratings e da Moody´s.

Embora elas não disponham de aparelhos inatacáveis de precisão – deixaram de alertar sobre a proximidade da crise financeira mundial de 2007, desencadeada pela fragilidade do crédito imobiliário nos Estados Unidos – elas são um instrumento de orientação dos investidores.

Não apenas dos bancos ou compradores de papéis emitidos pelos governos, mas também dos fundos de pensão que dispõem hoje, globalmente, de centenas de bilhões de dólares aplicados.

A Standard & Poor´s, há um século e meio em atividades, opera com 26 escritórios que funcionam como postos de monitoramento dos países – praticamente todos eles – de interesse de seus clientes.

A agência tem 22 níveis de classificação, do AAA (plenamente confiáveis, ou “prime”, como os Estados Unidos) até o D (in default, ou insolventes). Para efeito de comparação, o Brasil está hoje na classificação BBB- (o primeiro degrau abaixo do nível de investimento). A Argentina, que atravessa há 15 anos uma profunda crise cambial, está, segundo a S&P, seis degraus abaixo do brasileiro.

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo disse que houve m erro na condução da política econômica, com a crença do governo de que o anúncio do ajuste fiscal traria de volta a confiança do setor privado.

O Brasil obteve o grau de investimento da S&P em 30 abril de 2008. Na época, a agência sublinhou a solidez da economia com a passagem da crise financeira mundial desencadeada no ano anterior.

Com a informação circulando no mercado, o índice Bovespa atingiu a maior pontuação até então registrada, subindo 6,3% num único pregão e atingindo 67.868 pontos. Agora, no pregão posterior ao rebaixamento, o índice registrava, próximo do fechamento, 46.400 pontos. Qualquer interpretação que pretenda minimizar a situação esbarra na verdade dos números. 

 

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