A música que é o estilo da marca
Desenvolver uma identidade musical para a loja pode reforçar o posicionamento de uma varejista e ser um diferencial para cativar os consumidores
Quem entra nas lojas da YouCom, marca de moda jovem ligada a Renner, logo de cara escuta uma seleção musical escolhida nos mínimos detalhes.
Ali, a música é tão importante quanto o arranjo das peças na vitrine, o atendimento e a decoração do ambiente.
Nas caixas de som, você pode ouvir a rapper Karol Conka ou uma cúmbia, ritmo típico da Colômbia, da banda brasileira O Grande Grupo Viajante.
O que a Youcom tem feito desde que foi fundada, em 2013, é criar uma identidade musical para a marca. Uma tática para se posicionar junto ao público e se diferenciar das concorrentes.
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A música se tornou um elemento dentro da estratégia de gestão de marca – assim como nome, logotipo, estilo de comunicação e outros símbolos.
“Por meio da curadoria musical, queremos que a Youcom seja percebida como uma marca descolada e de atitude”, afirma Joice Trindade, gerente de marketing da empresa.
Quem está por trás das músicas que tocam nas 58 lojas da Youcom é a Bananas Music Branding, empresa de Porto Alegre especializada em curadoria e estratégia musical para marcas.
Na prática, a Bananas presta consultoria para identificar o universo musical que a marca está inserida, com base em seu posicionamento, público-alvo e produtos.
Depois, a Bananas se torna responsável pela operação, auxiliando a marca a usar a música para atingir os consumidores.
Além de cuidar da curadoria musical para pontos de venda, a Bananas também cria listas no serviço de streaming de música Spotify.
As listas são usadas para as marcas reforçarem a presença online e serve de base para campanhas de mídia. A Ford, uma das clientes da Bananas, cria listas de músicas a cada lançamento de automóvel.
No caso da Youcom, a Bananas também é responsável pela produção de conteúdo para o blog e redes sociais e realiza a curadoria de artistas que se apresentam em eventos de abertura de lojas.
No ano passado, a Bananas fez a seleção de artistas do festival Se Essa Rua Fosse Sua, evento da Youcom que reuniu música, moda e gastronomia no centro de São Paulo. O festival reuniu mais de oito mil pessoas – número quatro vezes maior do que a estimativa inicial da marca.
DA COCRIAÇÃO ATÉ O IMPACTO NAS VENDAS
A Bananas possui uma metodologia própria para criar uma identidade musical. Tudo começa com uma série de entrevistas com o departamento de marketing, vendedores e clientes, que tem como objetivo entender o universo musical das pessoas que fazem a marca.
Depois, numa troca de ideias entre a consultoria e a empresa cliente, são definidas quais associações a marca pretende usar por meio da música – e como quer ser percebida pelo público.
No caso da Youcom, é ser uma marca descolada para jovens. No caso de um lançamento de uma picape da Ford, a playlist reforça a sensação de liberdade e potência.
Na sequência, a Bananas escolhe os artistas e as músicas que mais tem a ver com a marca, cria as listas e as disponibiliza num software próprio, que o lojista acessa pela nuvem. O sistema reproduz a música nos altos falantes do ponto de venda, loja virtual e em sites institucionais.
No caso do PDV, os vendedores usam o software para sinalizar qual foi a reação dos clientes. Uma música mal avaliada é retirada da lista.
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O serviço da Bananas resolve um problema comum de redes de varejo – a bagunça no som da loja.
É comum que os próprios vendedores sejam os responsáveis por escolher as músicas reproduzidas no ambiente. O problema se dá quando um gosta de rock, outro de pop e outro de hip hop. A mistureba sem nexo cria uma falta de identidade.
Para evitar que funcionários burlem o sistema, o software mensura quantas horas de música foram reproduzidas diariamente em cada loja.
Para mitigar atritos com a equipe de loja, a Bananas convida os vendedores a cocriarem as listas.
“Se o vendedor não se empolga com a música, nada funciona”, afirma Joice, da Youcom. “Quando gosta, até o ritmo das vendas e o comportamento fica melhor – traz energia para o ponto de venda.”
Nos próximos dias, a Bananas vai iniciar um projeto piloto em parceria com a startup Plugboy, especializada em contagem de fluxo no varejo.
O projeto vai permitir que o lojista saiba quantas pessoas entram na loja, o tempo de permanência e o tíquete médio. O sistema será integrado com o software de reprodução de áudio.
“Será possível medir o impacto das músicas no comportamento do consumidor e na geração de vendas”, afirma Rafael Achutti, fundador da Bananas Music.
Atualmente, o custo do serviço de curadoria musical realizado pela Bananas varia entre R$ 69,00 e R$ 350,00 mensais, conforme a quantidade de lojas da rede.
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ORIGEM
Achutti teve a ideia de criar a empresa junto com a amiga Juli Baldi, em 2013. Os dois gostavam muito de música e queriam viver da paixão sem, necessariamente, serem artistas.
Ele, além de manter um blog sobre música e ter uma banda, possuia experiência no mercado publicitário. Juli, formada em jornalismo, tinha experiência como DJ e radialista.
“Unimos nossas experiências e começamos a criar, despretensiosamente, listas de músicas para restaurantes e bares de amigos”, afirma Rafael.
Mais de três anos depois, a empresa cresceu. Hoje são dez clientes fixos, que somam quase 120 pontos de venda. No Spotify, a empresa já fez listas para mais de 50 marcas, entre elas ESPM, Samsung e Intimus.
ESCUTE A LISTA DE MÚSICAS CRIADA PELA BANANAS MUSIC PARA A FORD NO SPOTIFY
IMAGENS: DIVULGAÇÃO