A Dafiti não vai sair do seu pé
Líder do comércio eletrônico de moda aposta R$ 1 milhão em uma loja física de alta tecnologia para conquistar consumidores que não compram pela internet

Passear pela rua Oscar Freire, na capital paulista, pode se transformar em uma experiência tecnológica. Conhecida pelas sofisticadas lojas de roupas, sapatos e acessórios, agora a rua dos endinheirados dos Jardins receberá a Dafiti Live - primeira loja física do site Dafiti que, até então, vendia produtos exclusivamente pela internet.
Não será preciso nem entrar na loja para receber as novidades da loja - sensores de geolocalização disparam nos celulares dos clientes notificações sobre os lançamentos.Se interessar, ainda na rua o passante poderá interagir com uma tela na vitrine, que responde ao simples deslizar de dedos, como um grande tablet.
Um passo para dentro da Dafiti Live, inaugurada na última quinta-feira (12/3) e o passeio entre paineis com códigos binários já trazem o conceito - ali, a experiência será digital. No mesmo lugar, é possível escolher roupas, sapatos e acessórios, escanear o código dos produtos pelo smartphone e colocar suas medidas no aplicativo. As peças estarão à sua espera, no tamanho certo, dentro do provador.
Mesmo com toda essa tecnologia, quinze funcionários estão ali para trazer um pouco de realidade a essa experiência. Auxiliam os clientes, oferecem dicas de moda e até fazem uma espécie de curadoria das peças expostas. Também é possível finalizar a compra pelo celular. As compras chegam em casa no mesmo dia - e com frete grátis.
A fusão do varejo tradicional com o e-commerce é o conceito central da Dafiti Live, a primeira loja física da Dafiti, que hoje opera em cinco países - Brasil, México, Argentina, Chile e Colômbia. A imersão digital faz parte da estratégia que marca a mais presente tendência no varejo mundial: o atendimento omnichannel, onde a experiência digital se funde com a vida real. O tema foi o centro dos debates da edição de 2015 do NRF Big Show, maior evento de varejo do mundo.
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A ideia é trazer a marca para a rotina de novos clientes - aqueles pouco habituados às compras pela internet. “A tecnologia facilita essa convergência, pois queremos estar presentes em qualquer momento da vida dos clientes”, diz Malte Huffman, um dos sócios-fundadores e responsável pelo marketing da empresa.
Inspirada pela experiência da sofisticada rede norte-americana Nordstrom, a empresa investiu R$ 1 milhão na loja conceito, que possui 400m² e deve funcionar até junho deste ano. Os sócios esperam faturar até R$ 3 milhões por mês com a nova loja.
“É um teste. A ideia é posicionar a marca entre a lojas de referência da Oscar Freire", diz o alemão Malte Horeyseck, um dos sócios-fundadores e responsável pelas compras na Dafiti. Se o projeto der certo, o modelo de loja high tech poderá ganhar mais espaço nas metas da empresa. "Poderemos estender a permanência ou até ir para outras praças.”
MARCA PRÓPRIA PARA AUMENTAR A PARTICIPAÇÃO
A empresa aproveitou o momento para lançar também a sua marca própria, a Dafiti Collection. Para desenhar a coleção, a empresa contou com uma equipe de estilistas e designers com experiência na grandes lojas de departamento, como C&A e Zara. As tendências de moda europeias e norte-americanas foram importadas e adaptadas para o estilo do consumidor brasileiro.
“Mesmo sendo fast fashion, queremos oferecer peças com qualidade, estilo e preços atrativos”, completa Huffmann. “Hoje, já somos líderes de mercado. Mas com a marca própria, estamos dando um passo à frente para chegar aos 30%, 40% de participação, no longo prazo”
Em 2011, foi o crescimento do e-commerce brasileiro que trouxe a Dafiti para o Brasil. O avanço das vendas de roupas, sapatos e acessórios do ano passado teve efeito revigorante. Esses produtos desbancaram os eletrônicos, que estavam no topo do ranking dos produtos mais vendidos pela internet, segundo dados da E-bit - em 2014, a categoria Moda e Acessórios passou a representar 17% das compras feitas pela internet.
Nos últimos dois anos, a Dafiti centrou fogo renovação da marca - o site passou por mudanças de posicionamento e identidade visual. A plataforma para celulares e tablets também foi incrementada. Segundo Huffman, o resultado foi um aumento de 10% na conversão de clientes - ou seja, na venda efetivada após um passeio pelo site. No fim do ano passado, a empresa, que tem capital fechado, revelou seus números pela primeira vez. No primeiro semestre do ano, o faturamento chegou a R$ 261 milhões.
Por outro lado, nem todos os investimentos deram resultados tão positivos rapidamente. Foram dedicados R$ 20 milhões na troca do sistema logístico e operacional da empresa. As mudanças geraram falhas de atendimento que acabaram gerando reclamações e até multas à empresa. Agora, a nova loja contará com SAC, e as trocas devem ser feitas no mesmo dia, se o produto tiver em estoque.