2024 tende a ser o melhor ano para o varejo em mais de uma década
Emprego e renda em alta e a maior oferta de crédito ajudam a explicar o bom desempenho do setor
Com o bom desempenho de fatores determinantes do consumo, como emprego e renda, o ano de 2024 deverá terminar com crescimento de 4,2% no volume de vendas do comércio varejista. A projeção é do professor Ricardo Meirelles de Faria, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (Eaesp-FGV), e economista-chefe da Linus Galena Consultoria Econômica.
Se o resultado se confirmar, será – além do oitavo ano positivo consecutivo – o melhor desempenho do comércio varejista desde 2013 (alta de 4,3%, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE.
Para 2025, Meirelles – que é também professor associado do Centro de Excelência em Varejo (CEV) da FGV – acredita que as vendas continuarão no campo positivo, mas em ritmo menor: 1,3% de crescimento. Um número mais em linha com os últimos anos: 1,2% (2020), 1,4% (2021), 1,0% (2022) e 1,7% (2023).
Os dados da PMC mostram que o comércio tem se recuperado da pandemia, mas de maneira desigual. “Os setores foram afetados de forma muito assimétrica”, disse. “Alguns quase não foram afetados. Para outros, foi desastroso para outros.”
A atividade que inclui produtos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, por exemplo, está 47,2% acima de fevereiro de 2020, período que marca o início da pandemia – a projeção para esse grupo é de alta de 14% neste ano e de 7,4% em 2025. Já o segmento de hiper e supermercados, mais alimentação, bebidas e fumo, fica 11,2% acima de fevereiro de 2020.
Na média, o comércio varejista sobe 8,5%. Na outra ponta, móveis e eletrodomésticos (-8,1%) e tecidos, vestuário e calçados (-18%) ainda estão abaixo do período pré-pandêmico.
O IBGE divulgou na quinta-feira (10) os dados da PMC relativos a agosto, que mostram recuo de 0,3% em relação ao mês anterior, o que mostra estabilidade, de acordo com o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
As vendas crescem 5,1% sobre agosto do ano passado e também no acumulado de 2024: em 12 meses, a alta é de 4%, no 23º resultado positivo seguido nessa base de comparação.
Meirelles, da FGV, diz que os “resultados fortes são condizentes com a aceleração econômica de 2024 e bastante superiores aos anos anteriores”. Ele destaca a correlação positiva entre a evolução do varejo e um indicador de tendência de consumo elaborado pela consultoria Linus Galena (que inclui os fatores renda, confiança, endividamento e crédito deflacionado).
MOTOR
O professor destaca ainda o crescimento, em níveis recordes, da ocupação e da renda, conforme apontado pelo próprio IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. “Emprego e renda são o motor do consumo”, afirmou.
Há também maior oferta de crédito, apesar de os juros continuarem em nível elevado. “A Selic afeta muito mais a decisão de investimento de uma grande empresa do que a grande massa da população.”
Segundo ele, o nível de emprego se manterá em bom nível no ano que vem, mas o ritmo de crescimento da atividade econômica, hoje sustentado pelo consumo, não se manterá. “O cenário-base é de arrefecimento”, afirmou.
Mirelles observa que a taxa de investimento em relação ao PIB continua baixa. “O estoque de capital não está crescendo. Esse é um sinal de alerta.” Além disso, a produtividade segue aquém do necessário, “por mais que você possa dizer que algumas reformas tenham melhorado marginalmente”.
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