Sua empresa está (realmente) preparada para vender pelo celular?
As mudanças no comportamento dos consumidores e o crescimento das vendas de smartphones transformaram uma tendência em realidade também no mercado brasileiro
O que até o ano passado era visto como uma tendência, hoje desponta como crescente realidade: os consumidores brasileiros estão intensificando cada vez mais as compras por meio de celulares e tablets. De acordo com especialistas, as pequenas e médias empresas que não se adaptarem a essa nova tecnologia correm o risco de ficar para trás.
Dados da consultoria E-bit, indicam que somente neste ano o volume de vendas realizadas por dispositivos móveis cresceu 84% --a expectativa é que até o final de dezembro terá totalizado R$ 2,5 bilhões, cerca de 10% do faturamento do e-commerce no país. A expansão da banda larga e o aumento nas vendas de celulares --o IDC estima em 50 milhões a mais em 2014 --contribuem para o movimento de vendas no mobile.
Empresa que não oferecer o novo canal perderá vendas para rivais
A filial brasileira da Privalia, uma multinacional europeia, investe nesse canal desde 2010. Seu outlet virtual de descontos para peças de marca, tirou partido do aprendizado em mercados internacionais, nos quais a plataforma móvel já está consolidada. O o mobile responde atualmente 40% das vendas da Privalia no Brasil.
O layout é simples e há menos texto para cada produto, o que torna a navegação no site mais confortável
Com o crescimento, o m-commerce, como é chamado, ganhou neste ano mais de 11,5 milhões de adeptos, o que soma aproximadamente 63 milhões de brasileiros. Ocorre que a experiência tanto dos consumidores como das pequenas e médias empresas ainda é incipiente. Vive-se um momento de descoberta, na base de tentativas com erros, ajustes e acertos.
Por conta disso, o primeiro e indispensável passo para a empresa que deseja experimentar o mobile, é contar com um site “responsivo”. O que isso significa? Que o site deve ser desenhado contemplando como pioridade a navegação no celular.
Abaixo, exemplos de sites responsivos de grandes redes de varejo:
veja modelos de sites que disponibilizam, até gratuitamente, templates com layouts responsivos
A Oppa, que opera no varejo do design de móveis, ainda não obteve vendas expressivas pelo mobile. Mas se prepara para lançar um novo site concebido com base na experiência de seu público no celular. “No verão as pessoas não costumam usar laptops. O objetivo é fazer com que comprem da praia em que estiverem”, diz Gabriel Hamsi, gerente de marca da Oppa.
Em um recente levantamento, a Pagtel, consultoria de inteligência e tecnologia que desenvolve soluções de pagamento para e-commerce e mobile, apontou as duas principais razões para o consumidor não comprar pelo celular: dificuldade de navegação e insegurança para fazer o pagamento.
O fato é que a “taxa de conversão” de uma loja virtual, ou seja o número de acessos que concluídos com uma compra, está diretamente ligada à experiência de navegação. “O pagamento, portanto, deve ser uma operação simples e confiável para o consumidor”, afirma Raphael Fortes, diretor de consultoria e serviços da VTEX, empresa que desenvolve soluções de e-commerce para marcas como Walmart, Polishop e Shoestock.
Sua carteira no celular
Mas o universo de soluções tecnológicas para mobile payment, como é chamada toda operação de pagamento pelo celular, e a magnitude de possibilidades de transformação que pode trazer para a vida de consumidores e varejistas ainda está distante do Brasil e, principalmente, do pequeno e médio empresário.
"Vai chegar um momento em que o usuário não carregará mais carteira com dinheiro e cartões. Todas as operações financeiras estarão vinculadas à conta telefônica da pessoa e serão realizadas pelo aparelho”, afirma Marcelo Sinelli, consultor do Sebrae.
A grande diferença entre a forma como realizamos pagamentos hoje (cartões de crédito, cheques, depósitos ou até mesmo usando aplicativos ou sites de bancos) e o mobile payment é que esta nova forma vinculará os dados bancários da pessoa à sua linha telefônica.
Na prática, isso significa que o usuário poderá pagar a conta de um restaurante, o transporte público, ou qualquer outra demanda do seu dia a dia usando seu aparelho celular.
Pode-se dizer que, no Brasil o mobile payment ainda engatinha. Foi somente no ano passado que o Banco Central regulamentou as normas de segurança para pagamentos via celular. Apple e Google já testam soluções em outros países, mas nenhuma tem previsão para iniciar operação no país. Ainda assim, fabricantes de tecnologia que testam suas novidades, como equipamentos que transformam smartphones em processadores de pagamento com cartão vêm obtendo bons resultados. É o caso da sueca iZettle.
O que se observa por aqui é que as empresas –especialmente grandes redes do varejo - estão avançando mais nos aplicativos. O Extra.com.br, por exemplo, acaba de lançar um sistema de identificação biometrica (para iPhone 5 ou 6 com sistema operacional iOS 8) e busca por voz (para Android) para seu aplicativo de vendas.
Mas fazer um aplicativo não é barato, nem uma solução milagrosa para aumentar as vendas, uma vez que a ferramenta opera a favor da fidelização e do relacionamento com os clientes, não a captação de novos clientes. É preciso, portanto, que a empresa já possua uma carteira de clientes.
A Petlove, shopping virtual de itens para cães e gatos encontrou uma maneira de investir na fidelização por meio de seu aplicativo, que possibilita coletar e classificar informações a respeito dos animais domésticos. Com base nisso, a Petlove pode identificar padrões, como a marca e a periodicidade de compra, além de comunicar ofertas personalizadas.
“Excelência não basta mais. É necessário conhecer o cliente e oferecer aquilo de que ele precisa mas ainda nem percebeu”, diz Raphael Fortes, diretor de consultoria e serviços da VTEX.
A Oppa não descarta lançar futuramente um aplicativo. Mais do que m-commerce, a empresa aposta no recurso como um possível canal de branding. “A Oppa é aspiracional, não podemos falar somente de produto”, diz Hamsi.
O mobile commerce não é uma “revolução” isolada no varejo, como foi o surgimento do e-commerce. Mas sim acompanha uma grande mudança no perfil do consumidor, que agora está ligado em multicanais.
Ele está o tempo todo conectado. Visita a loja para ter uma experiência sensorial, e compra pelo celular entre uma atividade e outra. É, portanto, um cliente potencial que poderá ser contatado das mais diversas formas pelas empresas que aproveitarem esses momentos.
O Magazine Luiza, uma das maiores redes de varejo, já aderiu à tendência da multicanalidade. "Isso significa estar onde, como, e quando o consumidor quiser. Mas é preciso entender que não acontece do dia para a noite. É preciso preparar a cabeça de todos na empresa”, afirma a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine.