"Reinventing Cities é parte de um plano mais amplo de requalificação do Centro"
Cesar Azevedo, presidente da SP Urbanismo, fala sobre o concurso internacional que busca projetos para melhorar a área central da capital paulista
Ela reúne todos os meios de transporte público – metrô, trem e ônibus -, abriga 20% dos empregos formais, tem a melhor estrutura de comércio, serviços, equipamentos culturais, hospitais e universidades e também é considerada um dos lugares mais democráticos da cidade. Falando assim, dá para imaginar bem o que a região central de São Paulo poderia ser.
Acumulando projetos há décadas, há quem vislumbre desde um espaço mais arborizado, com passagem exclusiva para pedestres, até um centro mais modernista, com ampliação de faixas para o trânsito de carros.
Dentre tantas visões, uma unânimidade, segundo Cesar Azevedo, presidente da SP Urbanismo: o centro precisa de vida para ser revitalizado.
Advogado e há mais de 10 anos setor público, Azevedo acumula passagens pela Secretaria de Relações Institucionais e de Desenvolvimento Metropolitano, cargos como diretor e chefe de gabinete da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor, e como Secretário Municipal de Urbanismo e Licenciamento.
Hoje, à frente da SP Urbanismo, o advogado recorda que São Paulo se fez em função de projetos ousados e transformadores. Prestes a entregar obras como a Esquina Histórica, Requalificação da Santa Ifigênia e o Plano Urbanístico do Parque Dom Pedro II, Azevedo se debruça agora sobre algo inédito para a cidade de São Paulo: o Concurso Internacional Reinventig Cities São Paulo 2022.
Voltado para o centro histórico da capital a partir de uma parceria entre a SP Urbanismo e a rede global de cidades C40 Cities, o projeto tem o objetivo de selecionar e executar as melhores propostas de requalificação urbana para quatro áreas estratégicas da região central da cidade.
As áreas em questão envolvem o Mercado Kinjo Yamato/Boulevard Prestes Maia, a Praça Alfredo Issa, a Praça Dr. João Mendes e a Praça Clóvis Beviláqua, que foram escolhidas por serem pontos de passagem a todos que querem chegar à região central.
Em entrevista ao Diário do Comércio, o presidente da SP Urbanismo explica a importância desse evento para a capital.
Qual é a expectativa da SP Urbanismo para este concurso?
Cesar Azevedo - O concurso Reinventing Cities é muito simbólico porque a partir dele ganhamos visibilidade e o mundo passa a reparar no Centro de São Paulo, a nos olhar. Algo semelhante já aconteceu em Paris. O Reinventing Cities vem para se somar a ações emergenciais, entre elas o Programa Redenção, apresentado pelo prefeito Ricardo Nunes, e outras iniciativas estruturais de médio porte, como devolver um novo Anhangabau para a população e requalificar o calçamento do centro velho, que são intervenções pontuais que formam o conjunto da obra. Nesse semestre, entregamos o projeto Esquina Histórica, de requalificação da esquina das Avenidas Ipiranga e São João, contribuindo para o resgate da vocação do centro histórico.
Como esse projeto pode ajudar na relação que a população tem com o Centro, dado que se observa um esvaziamento deste espaço, principalmente fora do horário comercial?
A prioridade dessa gestão é devolver vida à região central. Assim como o Piu Central (aprovado recentemente na Câmara Municipal), uma série de instrumentos preveem incentivos para estimular a questão da habitação e a diversificação de atividades na região. Já citei o Projeto Redenção, que é muito importante para reestabelecer a segurança do Centro. Outras entregas maiores, como o Anhangabau, dão outra movimentação à região. Ver o que acontece no Minhocão e no Vale do Anhangabau aos finais de semana é importante para entender como tornar o território mais democrático e, sobretudo, seguro para todos. Ver o empoderamento das famílias nesses espaços é muito bonito.
Esse projeto pode ser âncora para outras intervenções importantes na região? Como isso pode acontecer?
Esse projeto não é âncora, mas com certeza será um evento bem-sucedido de ações envolvendo a sociedade civil e o poder público. Diria que essa é mais uma oportunidade de unir forças. Poderemos aplicar a transformação desejada e somá-la a um plano maior.
Quais critérios foram adotados para a seleção das quatro áreas?
Esses quatro endereços são considerados portas de entrada a todos que desejam, de alguma forma, chegar à região central. Quando vemos os quatro pontos no mapa, vemos que eles se conectam - temos norte, sul, leste e oeste incorporados. A ideia é que essa seleção mostre a quem passar um outro olhar, o de permanência, de diversidade, e que seja, acima de tudo, mais um convite para a população estar no Centro.
A reabilitação do centro histórico valoriza também espaços privados do entorno. Como é possível incluir o capital privado nesse processo de requalificação central?
A região já recebe uma série de ações desse tipo. Temos desde projetos de acupuntura urbana até o PIU, que traz incentivos e contribue para o desenvolvimento da região. O PIU Central, por exemplo, tem como premissa o adensamento populacional do centro, com diversos incentivos para a população mais vulnerável. Ele prevê que ao menos 40% dos recursos arrecadados com a contrapartida da outorga onerosa sejam destinados à construção de moradia popular na região para famílias com renda de até dois salários mínimos. Temos outros exemplos de parceria com a iniciativa privada. No Anhangabau, um contrato de concessão disponibiliza atividades diárias para o paulistano. E essa é a nossa missão.