Que tal mudar de cidade para abrir uma empresa?

Malu e Mill (na foto) deixaram São Paulo para fundar uma rede de restaurantes no interior. Conheça prós e contras que devem ser analisados antes da tomada de decisão

Mariana Missiaggia
29/Mar/2017
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Que tal mudar de cidade para abrir uma empresa?

Atraídas pelo crescimento econômico do interior do país, pela melhoria das condições de vida fora do eixo central, e desanimados com o alto custo das despesas dos centros urbanos, muitas famílias têm trocado a infraestrutura e o trânsito infernal das metrópoles por um estilo de vida mais simples em cidades menores.

Adeptos desse movimento estão também aqueles que sonham em abrir um negócio.

Com aluguéis menos salgados, menor concorrência, incentivos fiscais e menores custos de produção, Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Ribeirão Preto aparecem entre os dez municípios mais férteis para o crescimento de empresas no Brasil, de acordo com o ranking da Endeavor.

Características semelhantes se estendem a outras tantas cidades, como por exemplo, Caraguatatuba, a 170 quilômetros de São Paulo - a escolhida de Artur Bastos Neto, 35 anos.

Cansado do estresse urbano, Neto pretende se mudar de Guarulhos para a cidade litorânea até o final deste ano, com a esposa e o filho de um ano e oito meses, para se tornar franqueado da rede de suplementos esportivos Now!.

NETO IRÁ SE MUDAR PARA CARAGUATATUBA, ONDE ABRIRÁ UMA LOJA NOW!

A cidade foi indicada pela própria empresa por receber consumidores de municípios vizinhos, como Ubatuba, Ilhabela e Maresias, e pelas numerosas academias que funcionam na região.

Atualmente, Bastos Neto mantém um escritório de contabilidade com o pai, mas sempre ambicionou deixar a sociedade para abrir um negócio relacionado a saúde e bem-estar, já que é formado em educação física. 

O nascimento de seu filho foi determinante para a opção de um estilo de vida diferente. "Tenho obrigações como pai, e encontrei no franchising um modelo de negócio mais seguro", afirma ele.

Em fase de negociação de ponto com o Shopping Serra Mar, ele ainda não tem o valor do investimento total, mas estima que será 30% inferior do que necessitaria para abrir uma loja do mesmo porte na capital.  

COMPETIÇÃO X INOVAÇÃO

Embora o potencial de algumas cidades seja promissor, Agostinho Celso Pascalicchio, professor de economia do Mackenzie, alerta que é preciso muita pesquisa antes de se decidir.

Calcular qual será a receita e os custos, a disponibilidade de mão de obra, a logística do transporte e a vocação comercial de cada região são tarefas indispensáveis do empreendedor.

Pascalicchio afirma que, atraídos pela redução de custos, empresários deixam de lado questões relevantes de mercado, como avaliar os concorrentes e a potencial demanda. 

“Além disso, ocorre que condições de empréstimos e taxas de crédito mudam de acordo com a cidade”, diz.  

Os incentivos fiscais, um benefício oferecido a empresas que se instalam em algumas cidades do interior devem ser analisados, acima de tudo, a longo prazo, de acordo com o especialista.

A isenção de alguns impostos nos primeiros anos de vida do negócio e a doação de terrenos em alguns casos pode ser interessante apenas no curto prazo.
  
Outro ponto a ser observado pelo economista é a ausência de concorrência, que deve acender um farol amarelo. "Por vezes não há concorrência porque não há demanda. Em outros casos, não há porque falta inovação”.

Malu Pontes, jornalista, e Mill Delatorre, chefe de cozinha, decidiram inovar. Elas elegeram São José do Rio Preto, a 450 quilômetros de São Paulo, como sede de seu Khea Thai, o primeiro restaurante de comida tailandesa da cidade.

Com o plano de negócios nas mãos, a dupla tinha apenas uma certeza: a abertura do restaurante não seria na capital. O motivo era a alta concorrência e os preços cobrados para imóveis comerciais.

Como uma espécie de teste, passaram um ano cozinhando práticos típicos tailandeses de forma caseira, e vendendo por delivery, em São Paulo.

Enquanto testavam receitas e temperos, elas visitavam cidades do interior paulista com renda per capita elevada e conversavam com comerciantes e empresários locais.

KHEA THAI, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Foi assim que descobriram São José do Rio Preto como o berço do franchising. Hoje, o município ocupa a terceira posição entre as cidades que mais criam redes franqueadoras com mais de 400 marcas em atividade, de acordo com a ABF (Associação Brasileira de Franchising).

Com investimento de R$ 1 milhão (80% de capital próprio e 20% financiados), a dupla montou o restaurante num espaço, pelo qual pagam aluguel mensal de R$ 5 mil e faturam, em média, R$ 180 mil a cada mês.

De acordo com Malu, um imóvel nos mesmos moldes (270 metros quadrados) não sairia por menos de R$ 12 mil em São Paulo. 

Para a empresária, a maior diferença para um negócio aberto fora das capitais reside no valor investido. “Com R$ 300 mil já dá pra abrir um grande negócio em um empreendimento bem mais bonito”.

Essa diferença de valores também se reflete no cardápio da casa. Enquanto Malu e Mill comercializam seus pratos por em média R$ 55. Na capital, esse valor subiria para R$ 70. 

A única desvantagem detectada pelas empresárias até o momento é a dificuldade com fornecedores. Malu explica que, como metade dos ingredientess utilizados pelo Khea Thai são importados -sal tailandês, temperos e arroz de jasmin -é preciso viajar até São Paulo para comprá-los.

Como planejado de início, a expansão do negócio se deu pelo franchising, e está com três franqueados - Curitiba, Três Lagos e Ribeirão Preto.

Na avaliação de Guilherme Siriani, sócio-diretor da ba}STOCKLER, especializada em franquias e negócios, mudanças como a de Malu e Mill confirmam uma nova tendência.

Siriani explica que inicialmente, essa migração foi um movimento impulsionado pelas franquias, que buscavam franqueados longe da capital para expandir a marca.

A segurança em relação a expectativa de faturamento, formato e negociação fizeram das franquias um negócio muito atraente durante quase uma década.  

Hoje, as pessoas estão mais confiantes para conceber seu próprio negócio, de acordo com suas aptidões.

Além disso, elas preferem escolher onde irão morar, em vez de serem dirigidas por uma marca.

De acordo com Siriani, elas estão preocupadas em se mudar para uma região, onde tenham parentes, ou até uma casa de veraneio. Cidades litorâneas ou próximas a capital (raio de 200 quilômetros) são as localidades mais procuradas.  

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