Projeto prevê transporte de cargas e passageiros pelos rios Pinheiros e Tietê
Pedro Martin, da SP Urbanismo, traz detalhes do PlanHidro SP, que deve transformar rios e represas da capital em hidrovias com a revitalização de margens e criação de parques fluviais. As obras devem começar em 2027

"Cada embarcação vai tirar, no mínimo, dez caminhões do trânsito das Marginais Tietê e Pinheiros". A frase, dita por Pedro Martin Fernandes, presidente da SP Urbanismo, resume bem os planos da cidade de São Paulo para transformar parte de seus rios em hidrovias navegáveis para o transporte de cargas e passageiros.
Para mudar o jeito como a cidade se move, o PlanHidro passou por uma consulta pública em dezembro e, segundo Fernandes, deve ser formalizado ainda neste mês de março a fim de tornar navegáveis 148 quilômetros de rios e represas de São Paulo, ao custo de R$ 8,5 bilhões.
Em São Paulo, a ação mais próxima disso é o Aquático, transporte hidroviário que opera há um ano na Represa Billings, e mostrou que é possível pensar nas águas da cidade como uma alternativa para a mobilidade.
Em sua apresentação ao Conselho de Política Urbana (CPU), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o presidente da SP Urbanismo afirmou que, apesar de ousado, esse plano hidroviário é fundamental para desafogar o trânsito da capital e para que a cidade passe a se desenvolver também na borda de seus rios por meio de ecoparques e áreas de lazer e esportes ao longo dos canais.
As primeiras ações devem priorizar as represas Billings — onde já funciona o Aquático SP, que liga o Cantinho do Céu ao Parque Mar Paulista, no bairro Pedreira — e Guarapiranga. Nestes locais, as hidrovias deverão estar consolidadas até 2031.

"Se bem-sucedido, o projeto promete reduzir significativamente o trânsito, conectar a população de forma mais harmônica aos rios e revitalizar áreas degradadas".
De forma geral, o plano indica a construção de 40 ecoportos pelos cursos d’água da capital paulista em um cronograma extenso que vai até 2054. A ideia é começar a viabilizar o transporte no Rio Pinheiros nos próximos dez anos. Entre os desafios, o principal é tornar os rios Pinheiros e Tietê mais navegáveis, aumentando sua profundidade - pensando, especialmente, no transporte de cargas. A previsão é de que R$ 1,4 bilhão será gasto com a dragagem, processo de remoção de sedimentos do fundo de rios.
Segundo Fernandes, da forma como está hoje, o Pinheiros já permite a navegação de passageiros, que exige uma lâmina de água mínima de 1,20 metro. No entanto, para fazer desse percurso uma hidrovia urbana com fluxo intenso é preciso ter um padrão, uma permanência de lâmina d'água suficiente para garantir a navegação diária - e, portanto, aumentar a sua profundidade para garantir um transporte constante. No caso do Tietê, por exemplo, seria necessário fazer uma dragagem capaz de aumentar a profundidade em ao menos 2 metros.
"Dessa forma, já seria possível colocar no rio barcos que substituem até três caminhões de carga da Marginal Pinheiros. Com um aprofundamento de 2,30 metros, já seria possível navegar barcos que substituem dez caminhões em peso e volume", diz.
O Rio Pinheiros começou a passar por um processo de despoluição na gestão do governador João Doria, em 2019. Esse processo, no entanto, é contínuo, além de ações frequentes da Sabesp para evitar que o esgoto seja despejado no rio. O projeto prevê duas barragens em cada afluente dos principais rios da capital paulista como forma de evitar que os resíduos cheguem até os canais. A cada ano, são depositados 2,8 milhões de metros cúbicos de sedimentos em córregos, rios e represas da capital paulista.
Outro desafio é o acesso às águas. Enquanto o Pinheiros já tem o Parque Bruno Covas ao seu redor, a ciclovia e as faixas de conservação ambiental, o Tietê é circundado diretamente pelas faixas de rolamento da Marginal.
A expectativa é que cerca de 70 barcos circulem pelas hidrovias, embarcando e desembarcando passageiros nas proximidades de grandes estações de trem e metrô. No caso do Rio Pinheiros, por exemplo, ecoportos estarão integrados a estações como Santo Amaro, Pinheiros e Jaguaré.
Nas palavras de Fernandes, a primeira transformação a ser feita é a ambiental. A segunda é na relação urbana, o acesso a parques urbanos, o acesso a corredores verdes e azuis, a transformação socioeconômica de uma nova cadeia produtiva que emerge dessa nova configuração da cidade. O presidente da SP Urbanismo explica que a ideia é fazer o que antes era visto como as costas da cidade, ser a frente e o rio ser o endereço mais notável da cidade.
Em termos de recursos, a SP Urbanismo acredita que o projeto é “altamente financiável” e há conversas em curso com bancos internacionais como o dos Brics e o Banco Mundial. Parcerias com a iniciativa privada também não são descartadas e há partes do projeto, como os ecoparques, que são as estruturas de recebimento dos resíduos orgânicos, que já estão previstas no contrato de concessão das empresas de lixo da cidade.
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