Política frágil atemoriza grandes empresários mais do que a recessão
Grandes empresários mudam discurso e revelam temor com a indefinição do cenário político no país, especialmente em relação à Lava Jato, e a rapidez da deterioração econômica

Sob o compromisso de não serem identificados nas entrevistas, seis grandes empresários brasileiros concordaram em expressar sua avaliação real do momento vivido pelo país. Os seus negócios, individualmente, movimentam bilhões de reais por ano. Eles concordaram em falar apenas sob anonimato porque não desejam piorar o já comprometido ambiente político do país.
Embora esperassem uma piora da economia, todos assumem o espanto com a rapidez da deterioração, maior do que jamais projetaram em seus piores cenários. Lamentam o desalento dos consumidores, temerosos diante das demissões que eles mesmos tiveram ou ainda terão de fazer. E avaliam como lucro se empatarem o resultado neste ano, já que muitos caminham para o prejuízo certo - ou coisa pior.
A maior angústia para esses empresários está no cenário de indefinição: "Não dá para prever o que vai acontecer nem no dia, quanto mais até o fim deste ou do próximo ano", explicou um deles, cuja principal atividade é justamente traçar cenários e selecionar oportunidades de negócios.
A indefinição, por sua vez, retêm os investimentos e aprofunda a crise. "Há empresa, setores e alguns estados alheios a tudo, mas os empresários que circulam entre Brasília, São Paulo e Rio foram tomados pela paralisia", definiu o acionista de um grande grupo.
Apesar de atuarem em setores distintos, todos concordam que a crise foi produzida aqui mesmo, pela "gestão equivocada da economia" feita no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Se dependesse da vontade particular de todos os ouvidos pela reportagem, Dilma não teria aval para ficar no cargo - mas eles sabem que isso não basta e não há chance de acontecer.
Ninguém também alimenta a esperança de que ela renuncie por causa do alto índice de rejeição identificado nas pesquisas de opinião. Numa frase, o argumento da maioria: "Foi guerrilheira e não vai se abalar se gostam ou não dela."
Também há um reconhecimento de que de não se impõem vontades particulares. "Goste ou não, Dilma foi eleita democraticamente e ainda não vimos uma única prova que justifique a sua saída. Forçar o impeachment seria gol de mão e poderíamos cair num impasse institucional:. Não é bom para ninguém que o País afunde", declarou outro empresário.
FALTAM LÍDERES
Há outra razão para conter os ânimos: a falta de sucessores. "Poder não se entrega, se conquista”, expressou um deles. Eles avaliam que dois fatores são preponderantes no sumiço de lideranças. O primeiro é a Operação Lava Jato: tem-se a consciência de que a investigação pode comprometer não apenas o PT e a campanha de Dilma, mas qualquer político, partido e até empresário: "A Lava Jato não tem fim, vamos ver a fase número 104 e sabe lá quem vai cair”, prevêem.
O outro empecilho é a fragmentação interna dos partidos que se oferecem para ocupar a vaga do PT. "No PSDB, há dois candidatos com pretensões opostas: Aécio Neves (segundo colocado na eleição presidencial) poderia se beneficiar agora e até gostaria que ela caísse, mas o Alckmin (Geraldo Alckmin, governador de São Paulo) prefere esperar para se candidatar", disse um empresário. "No PMDB, há 10 caciques. Não dá para embarcar."
De concreto, todos defendem a permanência de Joaquim Levy como ministro da Fazenda. Ele é visto como o guardião do grau de investimento e do selo de bom pagador do país que, se perdido, levaria a uma deterioração mais acentuada da economia. "Para que tirar Levy? Para colocar outro que vai ser obrigado a fazer o mesmo? Ou pior - não fazer o que deve ser feito para manter o grau de investimento?"
Todos acreditam que a sinalização do caminho virá nas eleições municipais de 2016. Um dos entrevistados aconselha: "Melhor manter a calma, trabalhar e esperar as urnas."
Imagem: Estadão Conteúdo