Pequenas inovadoras | Clínicas de fertilização ganham espaço em São Paulo

As clínicas de reprodução assistida voltadas para as classes B e C, como a Vida Bem-Vinda, dos médicos Tomioka (à dir.) e Yamakami, realizam o sonho de casais inférteis com valores até 70% mais baratos que em outros consultórios especializados.

Mariana Missiaggia
15/Abr/2015
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Pequenas inovadoras | Clínicas de fertilização ganham espaço em São Paulo

As dificuldades para conseguir engravidar têm aumentado cada vez mais a procura por consultórios especializados em fertilidade. Os tratamentos envolvem um investimento considerável, e têm atraído o olhar dos médicos para um novo modelo de negócio, com opções mais baratas.

A infertilidade atinge cerca de 15% dos casais no período reprodutivo. Cerca de 30% das vezes, o problema é detectado no homem, e 40% na mulher. O restante é um fator combinado do casal. Em geral, quem procura esse tipo de tratamento são mulheres acima de 35 anos ou homens que já fizeram vasectomia.

A não obrigatoriedade de cobertura por parte dos convênios leva os casais a desembolsarem até R$ 30 mil em cada tentativa nos centros clínicos privados.

Estima-se que 2,5 mil ciclos são realizados anualmente pelo SUS (Sistema Único de Saúde), em São Paulo, que possui uma fila estimada em até cinco anos, segundo dados da SPMR (Sociedade Paulista de Medicina Reprodutiva). Outra opção gratuita e de referência no segmento é o Hospital das Clínicas de São Paulo. Também com uma demanda muito grande, o hospital realizou 350 procedimentos, em 2014. 

Além das clínicas de reprodução assistida para classe A, e dos serviços oferecidos pelo SUS, começam a surgir novas opções para os clientes das classes B e C. 

Em 2011, três médicos perceberam uma lacuna no mercado deixada pelo SUS e por clínicas particulares de alto custo, e criaram a Vida Bem-Vinda - um modelo de clínica que equilibra modernidade, e procedimentos complexos com custos mais acessíveis no tratamento da infertilidade.

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O cenário era o seguinte: havia o SUS que atendia a poucos casais – em maioria da classe D, e as clínicas particulares, somente para a classe A. "O público B e C ficava na dúvida se guardava dinheiro para optar pelo particular ou se encarava a fila do SUS. E foi aí que entramos”, diz Renato Tomioka, 31 anos, sócio-diretor da Vida Bem-Vinda.

ESTRATÉGIA PARA BAIXAR CUSTOS

DEPOIMENTO DE PACIENTE DA VIDA BEM-VINDA/FOTO: MARIANA MISSIAGGIA/DC

Para materializar a ideia, os sócios optaram por reduzir custos, padronizar processos, e otimizar atendimentos. Medidas simples como reduzir o tempo de consulta fizeram a diferença. O tempo médio de atendimento que duraria cerca de uma hora foi reduzido para 30 minutos. Antes do primeiro contato com os médicos, os pacientes assistem a um vídeo explicativo de 10 minutos. Assim, eles tiram as primeiras dúvidas, e já chegam no consultório ambientados. 

Outra estratégia foi terceirizar o laboratório de reprodução humana, onde é feita todo o processo de fertilização e transferência de embrião.  

Tomioka avalia que cerca de R$ 5 mil do que é gasto com o processo tem como destino os laboratórios para a fase de fertilização. “Montar um laboratório exigiria um investimento alto que talvez valha a pena em longo prazo. Inevitavelmente, repassaríamos o custo e encareceríamos o processo.”

CRESCIMENTO

Com margem de lucro de até 20% por ano, e expectativa de crescimento de 15% para 2015, a clínica realizou 260 ciclos, em 2014 e outros 230, em 2013. Junto com o número de famílias atendidas cresceu também a estrutura física da empresa.

O espaço de 70 metros quadrados, onde tudo começou, com dois consultórios, em Higienópolis, na região central, já não era suficiente para a demanda então  dividida com a unidade do Tatuapé, na zona leste, inaugurada em dezembro de 2011.

Em setembro do ano passado, a Vida Bem-Vinda se mudou de Higienópolis para a rua Itapeva, na região da Paulista. O imóvel de 250 metros dobrou a capacidade de atendimentos da clínica, que hoje atende com seis ginecologistas e dois urologistas. 

MUDANÇA DE PÚBLICO-ALVO

Ao observarem que o cenário da classe C tem passado por modificações diante de inflação alta, crédito escasso e renda comprometida, Tomioka e seus sócios tiveram que se reposicionar no mercado, adotar um custo médio e mirar diretamente a classe B, um pouco mais resistentes aos primeiros sinais de crise. 

SÓCIOS DA CLÍNICA MUDARAM O PÚBLICO-ALVO PARA GARANTIR LUCRO E CRESCIMENTO/FOTO: MARIANA MISSIAGGIA/DC

“A percepção para o primeiro semestre de 2015 não é nada animadora. Mesmo se tratando de um sonho, a infertilidade não é uma doença grave e não será tratada como prioridade no orçamento da classe C”, diz.

Com o valor máximo de R$ 5.890, em 2013, a clínica se viu obrigada a aumentar consideravelmente o valor dos procedimentos, que em 2014 subiu para R$ 8.500, e este ano está em R$ 10.300. O valor compreende a parte clínica e laboratorial (estimulação do ovário, coleta de óvulos e transferência de embrião).

Além do valor gasto com o tratamento, os casais ainda arcam com mais R$ 5 mil em medicações, que são distribuídas por apenas três farmácias em São Paulo. 

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MODELO EM EXPANSÃO

O modelo aplicado pela clínica Vida Bem-Vinda não é exatamente uma novidade. Há alguns anos, esse ramo vem se abastecendo de novos profissionais e empresários que trabalham com preços mais populares.

“Sem dúvida esse é um modelo de negócio em expansão”, diz Tomioka. Há dez anos, o Projeto Beta, em São Paulo atende a famílias da classe C, com renda mensal média de R$ 4,5 mil. A estratégia estabelecida envolve a redução das margens de lucro e um modelo de gestão baseado em ganhos de escala. 

O Instituto Ideia Fértil, no campus da Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André, oferece tratamento de fertilidade com custo até 70% mais baixo, desde 2002, e realiza cerca de 3 mil atendimentos mensais. 
 
INTERIOR

Enquanto os casais da capital de São Paulo dispõem de uma gama de profissionais e valores, as famílias do interior do Estado ainda se vêem restritas neste setor. “Por isso, nosso primeiro alvo de expansão é o interior, e depois outros estados”, diz Lucas Yamakami, 34 anos, sócio-diretor da Vida Bem-Vinda.

Além de receber pacientes de todo o Brasil, e principalmente, do norte e nordeste do país, a Vida Bem-Vinda recebe com frequência muitos angolanos. Para Yamakami, a facilidade de dividir a mesma língua e a qualidade do sistema de saúde privado de São Paulo pesam na decisão dos casais estrangeiros.

Hoje, com quatro sócios e diante da procura, os gestores da clínica estudam a possibilidade de crescer a partir de um modelo parecido com o franchising, no interior de São Paulo e em outros estados.

“O termo franquia é pesado para a saúde. Além disso, é complicado ensinar a um médico como eles devem atender, pois eles partem do pressuposto que já possuem experiência. Com certeza será um desafio desenvolver esse projeto”, diz. 

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