Parcelamento sem juros é vital para o comércio
O consumidor e o comerciante são agentes dotados de direitos. A Constituição Federal, em seu artigo 170 garante a livre iniciativa e a livre concorrência dentro da ordem econômica
Em abril deste ano, os grandes bancos iniciaram uma discussão sobre a possibilidade de colocar um fim no parcelamento sem juros, uma modalidade de negócio muito praticada no setor de varejo.
Para os bancos, essa seria uma forma de combater as altas taxas de juros, especialmente aqueles aplicados à rotatividade do cartão.
O representante de um dos maiores bancos do Brasil disse não ter como separar uma coisa da outra. "Quando se fala do custo do cartão de crédito, não dá para dissociar do parcelado sem juros", afirmou à época.
Desde então estamos alertas para a evolução desse de pensamento, por isso não ficamos surpresos que o assunto tenha voltado à discussão pública por meio do Banco Central nos últimos dias. Acontece que os bancos ainda não pararam para ouvir aqueles que estão do lado de cá do balcão.
O consumidor e o comerciante são agentes dotados de direitos. A Constituição Federal, em seu artigo 170 garante a livre iniciativa e a livre concorrência dentro da ordem econômica.
Entendemos que nossa Carta Magna não admite a intervenção do Estado na iniciativa privada das empresas. O comerciante que deseja arriscar seu capital em um acordo comercial parcelado sem juros tem total direito de fazê-lo, apostando assim na fidelização do cliente, na facilidade de pagamento e na oferta que se sobressai sobre a concorrência.
Ao contrário das grandes redes varejistas, que conseguem oferecer até 30 meses de parcelamento, o pequeno e médio empresário não tem muito capital, suporte e um banco ou uma financeira que sustente essa demanda.
Para as PMEs, o parcelamento de compras feitas no cartão é pequeno, em geral de no máximo 10 vezes. Para estes, a impossibilidade de negociar nesses termos impactará e muito seus negócios, que ainda tentam se recuperar da crise dos últimos anos, ocasionada pela pandemia e pela guerra.
O pouco crédito que surge desses parcelamentos movimenta um mercado de fintechs e de empresas de antecipação de recebíveis. Ao mesmo tempo permite com que o pequeno comerciante continue negociando com aquele cliente de baixa renda, que em aspecto geral, se mantém fiel aos seus compromissos financeiros e muito raramente entra em inadimplência, palavra essa que soa como pesadelo para os bancos.
Hoje o ganho das pessoas é menor do que dez anos atrás. O nível salarial também está menor. O trabalhador parcela suas compras dentro de sua capacidade de pagamento e o parcelamento sem juros funciona como um bom senso entre comprador e o vendedor diante do cenário econômico em que vivemos.
As compras com cartão de crédito representam 60% das transações do comércio. Um recente levantamento do Datafolha mostrou que 80% dos consumidores baseiam sua decisão de compra por estabelecimentos em que possibilitem parcelar sem juros. Ou seja, o parcelamento sem juros é vital para o comércio, especialmente os pequenos e médios estabelecimentos.
A Associação Comercial de São Paulo defende os interesses das pequenas e médias empresas. Entendemos que os grandes bancos são parceiros estratégicos para as PMEs, podendo oferecer crédito e linhas de financiamento, fluxo de caixa e outras soluções financeiras. Defendemos que essa parceria precisa ser constante.
Um ataque ao parcelamento sem juros impactará diretamente a economia, aumentando o crédito em até 35% e poderá abalar inclusive a relação entre o varejo e as organizações financeiras. Continuaremos atentos a essa discussão e seu impacto na vida do cidadão brasileiro.