Para correr na velocidade da inovação

Criado em 2014, o Inovabra é um programa de inovação aberta em que pequenas empresas de tecnologia desenvolvem produtos exclusivos para o Bradesco

Italo Rufino
08/Fev/2017
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Para correr na velocidade da inovação

Recentemente, a startup carioca Percycle passou a atuar no mercado financeiro. A empresa é especializada em monitoramento e análise de comportamento de usuários em canais digitais. 

A Percycle usa algoritmos de inteligência artificial para entender o que o usuário deseja e, com base em sua navegação, recomenda produtos que mais tem a ver com seu interesse.

A solução já era usada por grandes marcas do e-commerce, como B2W, CNOVA, Ricardo Eletro e Walmart, e da indústria, exemplos da Samsung, P&G, Unilever, Philips, LG, Reckitt Benckinser. 

Há poucos meses, o Bradesco lançou um projeto piloto que se vale do software da Percycle para criar recomendações de produtos: crédito, previdência e seguro de vida, para os usuários do internet banking. 

A parceria só foi viabilizada porque a startup foi selecionada para o InovaBra, programa de inovação aberta do Bradesco, que tem como objetivo cocriar soluções com empresas emergentes de tecnologia. 

Fundado em 2014, o Inovabra foi uma resposta do banco à mudança na velocidade com que as inovações surgem – hoje, muito mais veloz em termos de tecnologia e modelos de negócios disruptivos. 

“Os executivos do Bradesco avaliaram que a equipe interna de inovação não conseguiria, por si, acompanhar as mudanças inovadoras”, afirma Fernando Freitas, gerente de inovação do Bradesco. “Então, recorremos às startups.”

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As startups que participam do Inovabra não são, necessariamente, fintechs. O principal critério de seleção é ter produto alinhado às áreas de negócio do banco e que potencialize o seu valor de mercado. 

E o que significa somar valor no mercado financeiro?

De acordo com Freitas, num futuro próximo, será vencedora a empresa que entender a jornada diária do cliente e entregar soluções relevantes de forma cômoda dentro do contexto do usuário –em vez de apenas oferecer produtos numa prateleira. 

Outra startup que participou do Inovabra que exemplifica bem esse cenário é a Qranio. 

A empresa oferece uma plataforma de treinamentos e educação por meio de gamificação (uso de mecanismos de jogos para engajar pessoas em contextos além do entretenimento). 

Atualmente, os funcionários do Bradesco já são treinados com a plataforma da Qranio. O banco estuda a possibilidade de usar a mesma plataforma para ensinar educação financeira aos clientes no futuro. 

EDUARDO FERREIRA, DA CINNECTA: PARCERIA COM O BANCO ABRIU PORTAS PARA OUTROS BONS CLIENTES

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AGILIDADE VERSUS RIGIDEZ 

Um dos maiores desafios numa parceria entre grande empresa e startup é garantir a segurança e conferir controle ao pequeno negócio. Mas sem engessá-lo, o que poderia minar sua capacidade criativa. 

FREITAS, DO BRADESCO: EMPRESA QUE ENTENDER A JORNADA DO CLIENTE SERá MAIS COMPETITIVA

“A startup é ágil porque não tem legado, marca e clientes”, diz Freitas. “Então, é permitido errar e consegue pivotar com maior frequência”. 

Na avaliação do executivo, para a parceria acontecer, a startup tem de desenvolver protocolos que garantam segurança e estabilidade para entregar a solução. 

Por sua vez, o Bradesco precisa ter mais agilidade em seus processos internos para dar suporte rápido quando a startup necessitar. 

A startup mineira Cinnecta, que faz gerenciamento de qualidade de canais digitais móveis, participou do Inovabra em 2016. 

Originalmente, a Cinnecta atendia operadoras de telefonia. Assim como a Percycle, também teve de adaptar seu produto para o mercado financeiro. 

De acordo com Eduardo Ferreira, diretor da Cinnecta, o processo de integração do produto da Cinnecta com as plataformas do Bradesco foi rápido –levou cerca de um mês. Depois, um protótipo exclusivo para os clientes do banco rodou por dois meses.

“O Inovabra contempla diferentes áreas do Bradesco que auxiliam o andamento do projeto”, diz Ferreira. “Isso facilita a interação e torna a oportunidade única, que dificilmente teríamos logo de cara com outro grande cliente”. 

Mas problemas também acontecem. Quando se pensa em soluções digitais, é comum acreditar que será mais barato do que negócios físicos. Há, porém, custos que podem surgir inesperadamente quando um protótipo entra em operação com clientes reais. 

“Plataformas digitais são interessantes, mas existem custos subterrâneos que, quando não calculados, podem ter um desencaixe”, diz Freitas. “Algumas startups tiveram que receber aportes de capital para finalizar o programa.”

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NA PRÁTICA

O Inovabra, que está em sua quarta edição, tem duração de cerca de um ano – e é dividido em três fases. 

Empreendedores se inscrevem pela internet e respondem um questionário. Os mais aptos participam de uma semana de imersão, em que são orientados por executivos do banco a como adequar seus produtos para o mercado financeiro. Depois, a solução é integrada aos canais do banco. 

Posteriormente, o produto desenvolvido em conjunto é lançado para clientes selecionados. Nesta fase, chamada de experimentação, são analisados indicadores chave para mensurar o impacto da inovação. 

No caso da Percycle, que desenvolveu um software de recomendação de produtos, o principal indicador foi a taxa de aquisição de produtos. 

O Inovabra é diferente de outros programas de apoio a startups por não ser de aceleração. “Nosso modelo é orientado para que a startup desenvolva um produto que atenda às necessidades dos clientes e do banco”, diz Freitas. 

Ao longo do programa, duas consultorias parcerias atuam com as startups. A Centria, que conecta investidores aos empreendedores, e a Altivia, que presta mentoria em assuntos estratégicos e que também pode intermediar aportes nas startups. 

Concluído o programa, O Bradesco avalia se contrata ou não a startup como parceira estratégica.

Das 1200 startups que já participaram do Inovabra, vinte tiveram produtos testados, dez estão sendo avaliadas para contratação e quatro já foram contratadas. 

 

IMAGENS: Divulgação

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