Os juros só cairão com o ajuste fiscal, diz Levy
Mensagem do ministro da Fazenda se contrapõe a documento da Fundação Perseu Abramo, centro de estudos mantido pelo PT, que tece duras críticas e prega mudanças na política econômica

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fez nesta terça-feira, 29/09, discurso bastante enfático sobre a necessidade de o governo, com o apoio da sociedade, promover o ajuste fiscal, durante participação na cerimônia de premiação do ranking Empresas Mais, elaborado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Para o ministro, o desequilíbrio fiscal é a fonte de todas as incertezas. "Enquanto não acertarmos o fiscal, será muito difícil os juros caírem", disse.
Ainda de acordo com Levy, a queda da inflação também está associada ao ajuste fiscal. "Para a inflação cair, com queda dos juros curtos e longos, o fiscal precisa ser acertado", afirmou o ministro da Fazenda.
Para ele, é preciso, antes de tudo, acertar a situação fiscal, pois isso é a maior fonte de incerteza para todo mundo. Segundo Levy, para o Brasil sair da crise é preciso uma linha clara de ação e o governo está tentando transmitir isso.
"Como eu tenho dito, é a estratégia 1, 2 e 3. Primeiro a gente acerta o fiscal, que é a maior fonte de incerteza pra todo mundo, porque as pessoas não sabem como vão ser os impostos em um, dois, dez anos. Tem de cortar onde tem de cortar, mas olhando com realismo e sabendo as mudanças profundas que certas economias vão requer, senão é apenas espuma. E o Brasil não vai aceitar espuma", disse Levy. Os outros dois passos da estratégia são o retorno de um crescimento saudável do crédito e depois a promoção de reformas estruturais.
Não por coincidência, o discurso de Levy é feito um dia após a divulgação de documento da Fundação Perseu Abramo, centro de estudos criado e mantido pelo PT, que tece duras críticas e prega mudanças na política econômica do governo Dilma Rousseff.
Intitulado "Por um Brasil Justo e Democrático", a publicação é dividida em dois volumes, nos quais há críticas ao ajuste fiscal e propostas de mudanças "imediatas", como a redução de juros, estabelecimento de bandas na meta fiscal, mudanças no cálculo da inflação e regulação do mercado cambial.
O documento faz um resumo dos fatos que antecederam o ajuste fiscal e critica a composição das medidas adotadas. Na agenda de reformas de curto prazo, o grupo defende o estabelecimento de bandas da meta fiscal e prazos mais amplos para seu cumprimento, bem com a retirada dos investimentos do cálculo da meta de superávit primário.
CRISES
Em sua palestra, o ministro lembrou da crise brasileira na década de 1980, com choques externos e incertezas políticas, que teve um custo muito alto. "O objetivo atual é evitar o longo processo que teve naquela época. A gente sabe como foi um caminho difícil, o que foi até chegar ao default. Não tem motivo para achar que esse é o caminho agora, depois de tudo que já se fez."
Segundo ele, nas crises anteriores, o Brasil não tinha o arcabouço institucional que existe hoje, inclusive na área fiscal, e também não havia a maturidade política atual. "O maior risco é a procura de soluções fáceis, mudando uma peça aqui e acolá e achando que vai resolver tudo."
O ministro da Fazenda lembrou que, quando um país passa por uma rápida desaceleração econômica, para acertar o fiscal "tem de pensar em receitas". "Outros países também recorreram a isso, pois as reformas e a diminuição de gasto demoram mais para acontecer e precisamos ter uma ponte segura para chegar ao outro lado."
FOTO: Antonio Cruz/Agência Brasil