O pulo do gato da Pangaia

A marca, que foi criada como um laboratório para pesquisar materiais sustentáveis e para convencer outras varejistas a utilizar essas matérias-primas inovadoras, decidiu lançar a sua própria linha

Mariana Missiaggia
27/Mar/2023
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O pulo do gato da Pangaia

Cheia de mistério, essa é a pegada da marca Pangaia, muita famosa por seus conjuntos coloridos feitos de materiais reciclados. Mesmo com uma legião de admiradores, ninguém sabe explicar direito de onde vem todo o sucesso da marca que vende moletom e não explora a moda de um jeito tradicional.

Outra incógnita é sobre quem estaria, de fato, por trás da iniciativa. A empresa não revela quem são os fundadores, mas pode estar ligada à empresária Mira Duma. Mira é uma empreendedora digital russa e investidora em moda internacional. Ela também é CEO do Future Tech Lab, um fundo que investe em sustentabilidade e moda. Fã da Pangaia nas redes sociais, muitos acreditam que ela fez parte do projeto desde o início.

Tudo o que se sabe é que se trata de um coletivo global de designers, cientistas e futuristas, que criaram um novo modelo de negócios liderado pela ciência e que tem como propósito o planeta em primeiro lugar.

A Pangaia não se define como uma marca, ela se posiciona como um laboratório de tecidos e, apesar de ter entrado para o varejo, ainda preserva essa veia pesquisadora para vender também a outras empresas de vestuário.

Lançada em 2018 com uma pequena coleção de itens essenciais, a Pangaia registrou US$ 75 milhões em vendas em 2020, o primeiro ano de pandemia.

Além disso, Pangaia é apoiada por nomes como Pharrell Williams, Chiara Ferragni e Jennifer Lopez, que foram os primeiros vistos usando um de seus moletons. E por isso, não se sabe se a marca é mais amada por sua estética, postura sustentável ou pelo endosso de celebridades.

Para João Fernando Saddock, especialista em marketing, a história da Pangaia serve como um lembrete importante para empreendedores e empresas em geral: a necessidade de entender o consumidor, testar produtos e estar disposto a mudar de estratégia quando necessário.

Saddock lembra que a sustentabilidade na moda tem se tornado cada vez mais relevante, e nomes como a H&M, por exemplo, tem como meta que 100% de seus materiais sejam reciclados ou provenientes de fontes sustentáveis até 2030. A ideia é usar algodão orgânico, poliéster reciclado e Tencel lyocell.

A Zara, por sua vez, pretende usar apenas algodão orgânico, linho sustentável e poliéster reciclado até 2025. No Brasil, varejistas de grande porte como Renner e C&A seguiram o exemplo, com linhas como a Re - Moda Responsável da Renner e a C&A Eco, que também buscam atender à demanda crescente por produtos sustentáveis.

Portanto, à medida que a sustentabilidade se torna mais popular, é crucial que as marcas expandam seus esforços para alcançar um público maior.

Esse movimento, segundo Saddock, é importante, pois representa uma mudança no modelo de negócios e uma resposta às crescentes preocupações ambientais e sociais relacionadas à indústria da moda.

"Ao adotar práticas mais sustentáveis e focar na economia circular, as marcas se posicionam como uma empresa inovadora e consciente, o que pode atrair consumidores preocupados com a sustentabilidade e em melhorar a imagem no mercado".

CRIANDO TECIDOS NATURAIS

Apesar do alcance de clientes e das inovações já apresentadas, a marca pode ser muito maior se conseguir conquistar o universo de marcas já existentes, para vender não os seus moletons, mas os seus materiais.

Relembrando a curta trajetória da Pangaia, três patentes já foram registradas nos Estados Unidos. Uma é para algo chamado de 'Air Ink', que puxa as emissões de carbono, que é usado como corante. Outra foi arquivada em abril de 2021 como uma alternativa a jaquetas que usa pele de frutas, como a uva, para criar tecidos naturais e transformá-los em uma alternativa ao couro, além de combinar algas marinhas com algodão.

A empresa também já criou fibras modificadas a partir de roupas descartadas ao fazer uma jaqueta jeans inteiramente com resíduos de roupas - a primeira a ser feita com esta tecnologia, e que também pode ser totalmente reciclada no final de sua vida.

Dessa amostra surgiram apenas 20 peças até agora. A edição limitada é outro ponto defendido pela marca e é também uma tentativa de abordagem da nova moda circular, além de criar produtos para o dia a dia a partir de uma tecnologia inovadora e materiais de bioengenharia.

Com iniciativas sustentáveis que a difere de muitas marcas já presentes no mercado, o discurso da Pangaia apresenta também uma nova missão ao varejo: gerar consciência ambiental no ato da compra.

Além de implantar o eco fashion e ajudar o meio ambiente, as marcas têm a responsabilidade de criar uma nova relação entre moda e sustentabilidade - escancarar números assustadores, fazer o cliente pensar em quantos litros de água foram gastos, ou quais foram os resíduos descartados por determinada peça e como aquilo polui o meio ambiente são boas pautas para dar início a esse diálogo. 

 

IMAGEM: Pangaia/divulgação

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