Meituan x iFood: quem vai vencer a guerra do delivery?

A gigante chinesa do delivery acaba de anunciar investimentos de R$ 5,6 bilhões para se estruturar no Brasil, onde vai atuar com a marca Keeta

Karina Lignelli
15/Mai/2025
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Meituan x iFood: quem vai vencer a guerra do delivery?

De um lado, o iFood, multinacional que tem 80% de participação no mercado brasileiro de delivery, 55 milhões de usuários, além de fazer 120 milhões de entregas por mês, ter 400 mil parceiros e 360 mil entregadores.

De outro, a Meituan, uma líder em tecnologia para o varejo que tem 770 milhões de usuários ativos apenas na China, seu país de origem, e chegou a entregar 98 milhões de pedidos sob demanda por dia ao longo de 2024. 

A gigante chinesa acaba de anunciar que vai se estruturar no Brasil para concorrer diretamente com o maior player do segmento. Na última segunda (12), o CEO da Meituan, Wang Xing, assinou, em visita oficial do presidente Lula à China, um acordo de investimentos de R$ 5,6 bilhões em um seminário empresarial realizado em Pequim, para operar com a plataforma Keeta aqui no Brasil. 

E vai encontrar um mercado bastante competitivo: há menos de um mês, outra gigante do setor, a Didi Chunxing, anunciou investimentos de R$ 1 bilhão para retomar a 99 Food. Na sequência, a colombiana Rappi lançou seu programa de Tarifa Zero para restaurantes cadastrados na plataforma, com investimento de R$ 1,4 bilhão.

Com tantos players de olho grande no consumidor brasileiro, a dúvida é uma só: mesmo com grandes números e expertise em mercados emergentes e populosos como Arábia Saudita e Hong Kong, será que a Keeta vai ameaçar a liderança da holandesa iFood por aqui? Ainda mais agora, que a plataforma acaba de se unir à Uber para oferecer os dois serviços em um app?

De olho no potencial do delivery local, a Meituan chega com grandes números, conforme anunciado na quarta-feira (14), e um ambicioso plano de expansão para "chegar-chegando", que contempla contratar mil funcionários, sendo 90% locais. Também prevê construir uma rede nacional de entregas sob demanda com 100 mil entregadores já no primeiro ano de operação. Como parte do plano de atendimento ao consumidor, a Keeta afirma que vai gerar de 3 mil a 4 mil vagas em centrais de atendimento localizadas no Nordeste do Brasil.

Outro ponto, destacado pelo CEO ao Daily China na ocasião da assinatura, é oferecer aos pequenos parceiros locais do foodservice "um conjunto de ferramentas digitais e de marketing para expandir os negócios." Assim como fez em Hong Kong, segundo o jornal chinês, onde ajudou restaurantes parceiros a dobrar vendas desde o início da operação, há dois anos.

"Estamos ansiosos para oferecer mais opções aos consumidores brasileiros e contribuir para o desenvolvimento econômico do país", afirmou o CEO à publicação chinesa, destacando que "a globalização é uma das estratégias de longo prazo da Meituan." 

Bom para o consumidor e o empreendedor do setor: a notícia de investimentos no Brasil sempre é positiva, e a entrada de uma empresa como a Meituan no mercado brasileiro obviamente vai aumentar a competição no setor de delivery. Também vai pressionar empresas estabelecidas, como iFood e Rappi, a inovar em ofertas e serviços, analisa Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice, empresa da Gouvêa Ecossystem.

A Tarifa Zero da Rappi é um exemplo de estratégia para atrair mais parceiros, e a pressão adicional da Meituan pode acelerar essa tendência, explica. Porém, o iFood tem 55 milhões de CPFs cadastrados na base - o que representa impressionantes 26% da população brasileira.

"Esse ativo foi um dos motivos de a Rappi não ter obtido sucesso em sua primeira inserção no food delivery, e a Meituan também irá encarar esse desafio, além da necessidade de ter uma curva de aprendizado sobre o consumidor brasileiro, construir sua base de entregadores e criar um modelo operacional viável segundo as regras fiscais do Brasil", destaca. 

Lula e Xing (à sua esq.): globalização é estratégia de longo prazo da companhia

 

Tolerância (quase) zero

A empresa, que já tem expertise em outros mercados, também já disse que vai oferecer preços extremamente acessíveis para conquistar o consumidor brasileiro. Mas, nesse caso, só o fator preço pode não ser um diferencial: mesmo que seja decisivo para os consumidores, especialmente em um cenário econômico desafiador, a qualidade do serviço, a diversidade de opções e a confiança na plataforma também terão papéis cruciais, afirma Cristina.

O sucesso da Meituan dependerá não apenas de preços competitivos, mas também de sua capacidade de oferecer uma experiência robusta e confiável ao usuário, diz. E sua penetração internacional não representa nada se ela não desenvolver uma base de clientes local.

"Food delivery exige raio de entrega de 30 a 40 minutos, no máximo. Excelente a inteligência e o sucesso internacional, mas, sabemos que o Brasil, por sua geografia, hábitos e características do consumidor, pode desafiar empresas de todos os portes", sinaliza.

Perguntada como outro player chinês, e em outra vertente, pode beneficiar os stakeholders do mercado brasileiro, Cristina lista as vantagens: no caso dos estabelecimentos parceiros, mais opções de plataformas para trabalhar, e com condições mais favoráveis, como taxas menores e maior visibilidade.

Do lado dos entregadores, a concorrência pode resultar em melhores condições de trabalho e remuneração, já que as plataformas podem competir por entregadores qualificados para assegurar um serviço com mais qualidade ao consumidor final.

Aliás, o consumidor é quem pode ser um dos maiores beneficiados por essa estratégia agressiva da Meituan, com preços mais baixos e um serviço potencialmente melhorado devido à concorrência alta. Além disso, mais opções podem estimular maior satisfação e fidelização, afirma a CEO da Gouvêa Foodservice. 

Mas nenhuma dessas opções é verdadeira se a empresa realmente não se conectar com esses elos de forma eficiente, ou seja: se a Meituan realmente oferecer preços mais acessíveis e melhorar a qualidade do serviço, os players atuais precisarão se adaptar rapidamente a essas mudanças para manter suas parcelas de participação no mercado, alerta.

"Porém, o potencial de impacto depende de como a Meituan se integrará ao mercado brasileiro e responderá às necessidades e preferências locais. A curiosidade do consumidor é alta, mas a tolerância ao erro é muito baixa." Que venham os próximos capítulos da guerra do delivery.

Quem é

Com foco em uma estratégia de “varejo + tecnologia”, a Meituan afirma que sua missão é ajudar as pessoas a “comer melhor e viver melhor”. Fundada em 2010, a empresa oferece em seu app serviços de entrega de comida, mercado e medicamentos, venda de ingressos para cinema e shows e reservas de viagens, entre outros. Listada na Bolsa de Valores de Hong Kong desde 2018, a companhia registrou uma receita de US$ 46,65 bilhões em 2024.

IMAGENS: Divulgação

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