Marca nasce na recessão e já é alvo de pirataria

Igor Moraes (foto) começou vendendo tênis na loja de discos do pai e hoje é dono da marca de roupas, acessórios e tênis Kings, que acumula milhões de seguidores no mundo virtual e real

Fátima Fernandes
23/Jan/2017
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Marca nasce na recessão e já é alvo de pirataria

A marca conquistou no final do ano passado um milhão de seguidores no Instagram, 600 mil no Facebook e está na lista das mais pirateadas do país. Os bonés custam R$ 129,90. As camisetas, de R$ 99 a R$ 189, e as calças jeans, R$ 249.

Com essas características, dá para imaginar que essa é uma marca internacional ou brasileira já consolidada, que, durante anos, recebeu certo investimento em marketing.  Nada disso.

Quem está nessa posição é a Kings, marca de bonés, roupas e tênis, fundada há apenas dois anos por Igor Moraes, 35 anos, com loja na Galeria do Rock, no centro de São Paulo.

Há cerca de uma década, a Kings, localizada no número 34 da galeria, era famosa por vender tênis da Nike e peças de dezenas de marcas. O negócio prosperou e o empreendedor acabou abrindo outras quatro lojas na galeria, após um empréstimo bancário de R$ 200 mil.

Em meio à maior recessão da história do país, ele decidiu incorporar ao negócio uma grife própria, seguindo a moda da cultura do hip hop, movimento que surgiu na década de 70 nos EUA.

Igor usou o nome da loja, Kings, para lançar a marca de boné, roupas e tênis. O negócio deslanchou, ele abriu 25 lojas entre 2014 e 2016 - cinco próprias e 20 franqueadas - e investiu no e-commerce.

Hoje, os produtos da marca são vendidos em shoppings, como Tatuapé, Aricanduva, Osasco, Tucuruvi, Cantareira, e em franquias em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Nem é preciso dizer que a vida de Igor, que foi criado em uma banca de jornal na esquina das avenidas Duque de Caxias com a São João - próxima da região da Cracolândia - deu uma virada.

De acordo com ele, o faturamento da rede já está na casa de milhões de reais por ano (ele não revelou o valor exato), e cresce o número de pessoas interessadas em ter uma franquia da marca.

Os planos para este ano são consolidar os pontos de venda que acabaram de ser lançados e inaugurar mais cinco lojas. A marca também está se preparando para lançar peças de vestuário da linha fitness.

No momento em que o fechamento de lojas bate recorde no país e os comerciantes se desdobram para atrair os clientes, o dono da Kings está preocupado em elevar a produção para evitar que a pirataria dos seus produtos avance ainda mais.

 “Você pode ver roupas com a marca falsificada em todo o lugar. Até em Punta del Este, no Uruguai, um amigo encontrou camiseta da Kings pirateada”, afirma.

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O COMEÇO

A vontade de ser dono do próprio negócio surgiu quando Igor ainda era adolescente e o pai, dono de uma loja de discos de vinil no mesmo número 34 na Galeria do Rock, faliu.

Nessa época, os CDs estavam dominando o mercado. “Decidi ficar com o ponto e vender CDs, pois eu já tinha na cabeça que queria ser empresário, não apenas um vendedor”, diz Igor.

Apaixonado por tênis, ele decidiu colocar alguns modelos à venda no meio dos CDs para testar o público. Comprou dez pares da Nike em uma outlet da marca por R$ 99 o par e, para a sua surpresa, vendeu todos no mesmo dia - por R$ 199 o par.

“Voltei no dia seguinte e comprei mais pares.Fiz o mesmo no dia seguinte. Fiquei conhecido na outlet e acabei emprestando até cartão de crédito de um amigo para fazer compras.”

Tudo ia muito bem até que um funcionário da Nike passou em frente à Kings e viu os tênis. Chamou Igor para uma conversa e informou que ele não estava autorizado a vender os produtos.

“Eu disse que estava vendendo bem e que precisava de uma oportunidade. Acabei me reunindo com os representantes da marca no Brasil e passei a comercializar os produtos, que já não eram mais comprados em outlet”, diz.

O sucesso desse teste fez com que, em 2007, ele trocasse o nome da loja New Records - ainda da época do pai - para Kings.

Para a logomarca, Igor escolheu a cabeça de um macaco com uma coroa, uma forma de tornar ‘reis’ aqueles que eram discriminados.

Como não havia exclusividade com a Nike, o empreendedor acabou diversificando a linha de produtos e, recentemente, o cliente podia encontrar mais de 40 marcas entre camisetas, bonés e tênis num espaço menor do que 40 m2.

Com uma clientela fiel, que chega a dormir na entrada da galeria quando sabe que a loja vai passar a vender um modelo limitado de tênis, Igor achou que era a hora de usar o nome da loja nas roupas, mesmo quando a crise dava sinais de que viria para valer.

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“A crise é um negócio louco. Conheço gente que está ganhando dinheiro na recessão. Quando um comerciante fala em fechar é porque perdeu a mão do negócio", afirma.

Para ele, a crise tem peso, mas a principal razão que determina o fim de uma loja é a má administração.

Boa parte do sucesso de uma marca, diz Igor, está ligada ao fato de uma pessoa famosa utilizá-la.

“Muito da moda gira em torno das pessoas que vestem, que são os formadores de opinião. Eu tive a sorte de ter cantores e artistas que gostam da Kings e passaram a usar as roupas. Isso ajudou muito.”

Os cantores Gusttavo Lima, Lucas Lucco, Anitta, Ludmilla usaram ou ainda usam peças da marca e vestem os seus bailarinos com roupas, tênis e bonés da Kings durante shows e gravação de videoclipes.

Além de artistas, as roupas da Kings caíram no gosto de youtubers, geralmente jovens que utilizam a plataforma para expor opiniões, talentos artísticos, e que acabam se tornando formadores de opinião.

“A marca Kings já saiu em mais de 50 videoclipes e alguns deles alcançaram 40 milhões de visualizações na internet. Colocamos as roupas nas pessoas certas e isso cria uma identidade e o desejo de ter produtos da marca”.

O networking tem sido fundamental para a divulgação da Kings, mas não é só isso. Igor diz que trabalha de 15 a 18 horas por dia pensando em ações para a marca.

FORNECEDORES

A Kings tem como público-alvo o jovem da classe C, mas nem por isso é uma marca barata. Igor diz que trabalha com produtos de qualidade e que escolhe pessoalmente os fabricantes. Os bonés custam R$ 129,90. As camisetas, de R$ 99 a R$ 189, e as calças jeans, R$ 249.

Uma parte dos bonés é importada de uma fábrica em Los Angeles, nos EUA, e outra é produzida no bairro do Brás.

As camisetas são confeccionadas em Indaiatuba e em Sorocaba, e os tênis vêm de Franca, no interior no interior de São Paulo. “Temos vários parceiros, que vão se alternando.”

Recentemente o empreendedor contratou uma estilista para ajudar na criação das peças e mais dois amigos para cuidar da contabilidade e das finanças da empresa.

“Mas eu fico de olho em tudo, no desenvolvimento de produtos, no estoque, no fluxo de caixa, nas tendências. Para estar neste negócio, é preciso ter a expertise de colocar na coleção o que pode vir a ser moda no futuro.”

Enquanto vendia multimarcas, Igor formou-se em Direito, mas diz que isso não ajudou muito no seu negócio. “Foi bom pelos contatos que tive e para abrir mais a minha cabeça. Deveria ter estudado Administração.”

Igor afirma que já tem investidores interessados na Kings. Companhias brasileiras dos setores de confecção e calçados iniciaram conversas sobre a possibilidade de estabelecer uma sociedade.

Hoje, a rede vende aproximadamente 3 mil bonés e 3 mil camisetas da marca por mês. O e-commerce representa cerca de 30% do faturamento.

Para combater a pirataria, muito em breve esses números vão se multiplicar. Ele também quer crescer para dar emprego, especialmente aos jovens da periferia, que, "por falta de oportunidade, acabam indo para o mau caminho.”

Boa parte dos 60 funcionários vem de Guaianazes e Itaquera, zona Leste de São Paulo. “Eles chegam aqui mal vestidos e com baixa autoestima. Em pouco tempo isso muda." 

Segundo Igor, com uma equipe que veste a camisa da empresa (em todos os sentidos), o plano da Kings é alçar voos cada vez mais altos.

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Fotos: Fátima Fernandes

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