Lojistas se unem para forçar redução de aluguel em shopping centers

Sem recursos para montar suas lojas, comerciantes pressionam até pelo adiamento de inaugurações neste ano. Os gestores do Shopping Cerrado, em Goiânia, já concordaram

Fátima Fernandes
13/Jul/2015
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Lojistas se unem para forçar redução de aluguel em shopping centers

Com uma atuação de duas décadas no setor shopping centers, a Map Mall começou o ano com a perspectiva de lançar oito empreendimentos no país. Seis meses depois, a intenção é dar o sinal verde para a construção de quatro centros comerciais, metade do que havia sido programado.

“Os shoppings vivem a maior crise de sua história no país”, afirma Márcio Malamud, presidente da Map Mall, empresa especializada na construção de pequenos e médios centros comerciais no modelo strip mall.

Os strip malls são aqueles espaços em ruas, com 7 mil a 8 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL), nos quais se concentram lojas de roupas e calçados, cafés, restaurantes e prestadores serviços.

Neste ano, a meta da Map Mall é lançar um desses centros comerciais em Campinas (SP), um no Rio de Janeiro (RJ) e dois em Uberlândia (MG). “Estamos trabalhando com toda a cautela que o mercado brasileiro requer”, diz Malamud.

Isso apesar de se tratar de um modelo de negócio que mais tem crescido dentro do setor de shoppings nos últimos anos. É só prestar a atenção nas ruas.

MAP MALL: MAQUETE DO EMPREENDIMENTO EM INÍCIO DE OBRA NA BARRA DA TIJUCA

O caso da Map Mall ilustra o que sucede, de acordo com consultores especializados, com boa parte dos empreendedores de shoppings do país - um mercado estimado em pouco mais de R$ 140 bilhões por ano, segundo a Abrasce, associação do setor. E não poderia ser diferente.

A falta de confiança na economia, o aumento do desemprego e a alta da inflação e dos juros reduziram o fluxo de consumidores de lojas de ruas e shoppings. De janeiro a abril, as vendas no comércio caíram 1,5% no Brasil. Os setores de veículos e de móveis e eletrodomésticos enfrentam as maiores quedas, 16% e 8,9%, respectivamente, no período, de acordo com o IBGE.

Bastar sair às ruas de São Paulo, por exemplo, e ver a quantidade de pontos comerciais fechados. Isso vale tanto para as áreas comerciais no centro da cidade como para bairros com consumidores de maior poder aquisitivo. Nos shoppings, especialmente os que abriram nos últimos dois anos, os tapumes também estão por toda a parte.

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Para contornar a situação, os lojistas anteciparam as liquidações. Em plena estação de inverno, o consumidor consegue comprar peças para o frio com descontos de até 70%. É difícil ver uma loja na rua ou no shopping que não esteja, neste momento, fazendo alguma promoção.

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A Sonae Sierra Brasil, administradora de shopping centers, promove até o próximo domingo (12) a segunda edição da LiquidaInsana. Lojas de dez centros de compras, como o Plaza Sul, em São Paulo, e o Parque D. Pedro, em Campinas, oferecem descontos de até 70% nos mais variados itens. O shopping criou a personagem Dona Insana, que protagoniza a campanha de forma bem humorada, com filmes nas redes sociais.

Para atrair maior público, o grupo BR Malls, com 48 shoppings espalhados pelo país, já decidiu ampliar investimentos em ações que envolvem personagens licenciados. No Amazonas Shopping, em Manaus, montou um parque de diversões da personagem Peppa Pig, evento que, em breve, virá para o shopping Mooca, em São Paulo.

O problema é que, diferentemente de anos anteriores, só as promoções e as atrações não têm sido suficientes para dar fôlego ao caixa das lojas. Nas ruas, os comerciantes estão recorrendo aos proprietários de imóveis para que seja feita uma redução no valor do aluguel.

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NEGOCIAÇÕES

Nos shoppings, lojas também estão batendo à porta dos administradores para tentar renegociar contratos de aluguel e valores de condomínio, ainda que por um período de seis meses, um ano ou até que o país dê sinais de que o pior da crise já passou.

“As ferramentas do passado já não dão o mesmo efeito como no passado. A crise está alicerçada na confiança do consumidor”, diz Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&H, consultoria especializada em marketing de varejo e shopping centers.

ALSHOP:ORIENTAÇÃO É PARA QUE O LOJISTA PROCURE MOSTRAR OS SEUS NÚMEROS PARA OS ADMINISTRADORES

 

A Alshop, associação dos lojistas de shoppings, tem orientado os lojistas para que vão até a superintendência dos empreendimentos e mostrem os números de vendas. “As lojas de confecções, acessórios, bijuterias são as que têm mais reclamado”, afirma Luís Augusto da Silva, diretor de relações institucionais da associação.   

Prevendo que a crise iria se aprofundar neste ano, as grandes cadeias de varejo, aquelas que são geralmente âncoras nos shoppings, formaram comitês no ano passado, justamente para negociar com os donos dos empreendimentos uma redução de aluguel e condomínio.

Agora chegou a vez de as lojas menores, as chamadas lojas satélites, se juntarem para enfrentar os donos de shoppings.  “Os pequenos lojistas de shoppings estão se unindo e formando associações em cada shopping para negociar, em forma de pool, valores de aluguel e condomínio. Já soube de lojista que conseguiu 30% de desconto”, diz Malamud.

As associações estão sendo formadas dentro de cada shopping, diz ele, até porque cada empreendimento tem o seu poder de fogo. Os shoppings mais tradicionais, mais consolidados, estão menos dispostos a ceder nas negociações do que aqueles que acabaram de inaugurar e estão com taxa de vacância elevada.

Nos últimos três anos foram inaugurados cerca de 70 shoppings no país. Com a expansão do consumo e, como consequência, do mercado imobiliário, muitos dos contratos foram fechados no pico dos preços. O momento é outro.

Marinho, da GS&H, diz que boa parte dos empreendimentos lançados mais recentemente ainda possui pontos para locação, até mesmo o shopping Cidade São Paulo, inaugurado este ano na avenida Paulista. “Andei por lá e vi que um terço das lojas devem estar fechadas”, diz. São nesses locais mais que o lojista, segundo consultores, terá mais poder de negociação.

Marcos Hirai, sócio-diretor da BG&H, empresa especializada em expansão de empresas de varejo, diz que a união de lojistas está mais forte porque existe hoje uma grande preocupação das lojas com custos, até porque o faturamento do comércio caiu significativamente.

“Noto que há um ambiente melhor agora para conversas entre as lojas e os administradores de shoppings. Não adianta o shopping entrar em confronto com os lojistas. É notório que o varejo perdeu vigor e não adianta os empreendimentos achar que nada está acontecendo. É bem provável que a cada dez lojas nove estejam conseguindo preço menor de aluguel e condomínio”, diz Hirai.

O esforço para aproximar lojistas de empresas de shoppings centers levou o Conselho de Varejo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) a estimular encontros entre os representantes dos dois lados, principalmente em shoppings que estão para ser lançados.

COMITIVAS

Nos dias 6 e 20 de maio deste ano comitivas de representantes de varejo, coordenadas pelo Conselho de Varejo da ACSP, visitaram, em Goiânia (GO), o shopping Cerrado, uma parceria entre a CCP – Cyrella Commercial Properties e o grupo Odilon Santos.

MAQUETE DO SHOPPING CERRADO: LOJISTAS PEDIRAM ADIAMENTO DE INAUGURAÇÃO

Representantes de algumas redes, como Riachuelo, Centauro e Colombo, e lojas satélites estavam nos grupos, que têm por objetivo tentar uma aproximação entre varejistas e empreendedores. “Esse é um tipo de iniciativa que começou no passado e que, neste ano, está se tornando mais frequente”, afirma Nelson Kheirallah, coordenador do Conselho de Varejo da ACSP.

O momento econômico está tão delicado que os lojistas chegaram a pedir para a Cyrella adiar o lançamento do shopping, o que, de acordo com Kheirallah, foi atendido.

“A previsão era de inaugurar o shopping em outubro próximo, o que só deve acontecer em março do ano que vem", afirma o coordenador do Conselho de Varejo da ACSP. "É que os lojistas menores estão com dificuldade para tocar obras. De nada adianta o shopping abrir com um montão de lojas fechadas.”

Curiosamente, Hirai considera "natural" que os shoppings adiem inaugurações em comum acordo com os lojistas. Numa conta rápida, ele diz que havia a expectativa de 30 inaugurações de shoppings neste ano.

“Acho que, desse número, devem abrir 15% apenas", diz Hirai. "Alguns shoppings já admitiram que vão postergar a inauguração. No caso de outros, é só questão de tempo.  Não pega bem para o consumidor um shopping abrir com muitas lojas fechadas.” No site da Abrasce, a informação é que a previsão é que 18 shoppings serão inaugurados neste ano.

O shopping Atrium, em Santo André, administrado pelo grupo AD Shopping, foi inaugurado há dois anos e ainda possui muitos tapumes. Para Hirai, inaugurar um shopping com poucas lojas é um tiro no pé, pois o consumidor acaba ficando com uma imagem ruim do local. Procurados pelo Diário do Comércio, os responsáveis pelo shopping Atrium não retornaram a ligação.

Alguns shoppings parecem estar na contramão do setor. A Sonae Sierra anunciou nesta semana um investimento de R$ 35,5 milhões para a segunda etapa de expansão do Uberlândia Shopping, que, segundo o shopping, terá duas novas lojas-âncora, a C&A e a Riachuelo. O que revela que, para alguns empreendimentos, a crise pode ser passageira.

Foto: Felipe Rau/ Estadão Conteúdo

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