Investidores regionais levam shoppings ao interior do país

ABL Prime, TMI, ABX Participações e Mendes são alguns dos grupos que estão investindo em municípios carentes de centros comerciais. Lago Center abriu nesta semana em Araguaína (TO)

Fátima Fernandes
10/Out/2024
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Investidores regionais levam shoppings ao interior do país

Durante a fase mais dura da pandemia, não era raro ouvir de especialistas em varejo que o modelo de shopping center tradicional havia sido colocado em xeque no Brasil e no mundo.

Afinal, nos Estados Unidos, mesmo antes da pandemia, o que se via e ainda se vê são fechamentos de shoppings inteiros. Lá, são milhares de empreendimentos espalhados pelo país, considerado um excesso.

Outro motivo é que o consumidor norte-americano aderiu com garra ao e-commerce. Mas o que se vê no Brasil é algo bem diferente: neste momento, dezenas de shoppings estão em projeto, em obra ou para serem inaugurados em várias cidades do país.

Araguaína (TO), Americana (SP), Ilhéus (BA), Rondonópolis (MT), Bauru (SP), Campo Grande (MS), Luís Eduardo Magalhães (BA), Praia Grande (SP), Lavras (MG) estão entre elas.

E, diferentemente do que se pode imaginar, a onda de interiorização da indústria de shoppings não é liderada pelos grupos tradicionais. Iguatemi, Multiplan, Allos, Ancar Ivanhoe estão mais focados em empreendimentos consolidados e em grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro.

As oportunidades que estão surgindo em cidades menores do país estão nas mãos de grupos locais, que veem no interior um grande potencial de mercado para os shopping centers.

ARAGUAÍNA

Na última terça-feira (08/10), por exemplo, moradores de Araguaína (TO) viram a inauguração do primeiro shopping da cidade, o Lago Center. 

O empreendimento, com 18 mil metros quadrados de ABL (Área Bruta Locável), 120 lojas e 20 quiosques, conta com investimentos da ABL Prime, de cinco empreendedores locais e do fundo Trinus.Co.

“Em grandes capitais, o mercado de shopping está saturado e, ao mesmo tempo, há cidades no interior do Brasil com grande potencial para ter um centro comercial”, afirma Herlinton Masson, superintendente do Lago Center.

RONDONÓPOLIS

Em maio de 2029 será a vez de moradores de Rondonópolis (MT) verem a inauguração do Niraj Shopping, um complexo com apelo life style, unindo torres residenciais, hotel e centro de convenções. O investimento é do grupo TMI, construtora e incorporadora da região.

Com 10 mil metros quadrados de ABL e espaço para 70 lojas, o Niraj já deu início à comercialização de espaços, que está sendo tocada pela We9, administradora e comercializadora de espaços em shoppings. O foco é alimentação, entretenimento e marcas exclusivas. 

“Era um desejo dos sócios Thiago e Patrícia Muniz, que sempre lideraram com projetos inovadores em empreendimentos verticais, investir em um shopping”, afirma Samara Lucas, gerente de relacionamento do grupo TMI. 

Projeto do Niraj Shopping, que deve ser concluído em 2029 em Rondonópolis (MT). Empreendimento une torres residenciais, hotel e centro de convenções

 

O Niraj é o primeiro empreendimento da cidade com conceito multicondomínio e será o mais alto da região Centro-Oeste do país, com 250 metros de altura.

“Há uma demanda grande de projetos de shoppings em cidades do interior do país. A população de Rondonópolis é rica, a cidade é pujante devido ao agronegócio e o dinheiro circula no município. O Niraj traz oportunidade para reunir família e amigos”, diz.

Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da Gouvêa Malls, diz que os mercados no interior são menores do que os de capitais, mas não menos importantes. 

“Há alguns anos, havia uma aposta de que os shoppings iriam perder relevância. Essas projeções precisam ser revistas. O shopping não morreu e está longe de morrer.” 

ÂNCORAS MENORES

O Censo Brasileiro de Shopping Centers de 2023, feito pela Abrasce, a associação dos shoppings, revelou que 43% dos empreendimentos do setor - 639 shoppings - já estavam localizados no interior. “O aumento da renda e da população em muitas cidades do interior criam boas oportunidades para o setor”, afirma Glauco Humai, presidente da Abrasce. 

Além de diversificar a presença dos empreendimentos no país, as novas localidades, diz, geram aumento do adensamento da população e oportunidades de negócios, emprego e renda.

Jayme Lago, arquiteto que está tocando neste momento mais de dez projetos de shoppings no país, diz que, com a interiorização dos centros comerciais, as antigas âncoras voltam à cena. Renner, Riachuelo, C&A, diz ele, estão indo para esses novos mercados com projetos de lojas um pouco menores do que as que se vê nos shoppings tradicionais.

“Mais da metade de todos esses novos empreendimentos já está com essas âncoras”, diz.

Outra característica desses novos centros comerciais, de acordo com Lago, é o modelo de open mall, parcialmente ou totalmente, com custo menor do que os que existem há décadas.

Masson, do Lago Center, diz que os contratos dos novos empreendimentos tendem a ser mais flexíveis do que os dos já consolidados, que às vezes têm fila de loja para entrar. 

“Quando tem muita demanda, a régua é mais alta. No interior é diferente. As administradoras têm até de desenvolver lojistas para trazer marcas. Os modelos de contratos são mais escalonados, conforme a maturação do negócio, com mais fôlego para o operador.”

Renner, C&A, Pizza Hut e Vivara são algumas das marcas que estarão no novo shopping. “Já acertamos com um restaurante local, Dona Maria Beach, com quiosque externo, e queremos trazer o Outback”, afirma Massson.

LAVRAS

Em 2025 é a vez de Lavras (MG) receber o Cidade da Serra, um shopping com modelo tradicional, 18,5 mil metros quadrados de ABL, 120 lojas, das quais nove âncoras e semi-âncoras.

O investimento no shopping é do grupo ABX Participações, de Juiz de Fora (MG), com sociedade em dez empreendimentos no país, e da Pemi Construtora, de Lavras.

O shopping Cidade da Serra está em obras em Lavras (MG) e deve ter o piso térreo inaugurado já no primeiro semestre de 2025. Renner e Cineart são âncoras já confirmadas

 

No primeiro semestre será inaugurado o piso térreo, com supermercado - o BH, o maior de Minas Gerais -, academia, farmácia e loja para pets. No segundo, a parte superior.

Renner e Cineart estarão no centro comercial. “Há muito para se explorar no interior do Brasil”, afirma Ana Luísa Arbex, administradora do Cidade da Serra.

Lavras tem 120 mil habitantes e atende 320 mil na região, diz ela, o que não é o foco de grandes grupos do setor, abrindo espaço para novos grupos.

O Cidade da Serra está se preparando para ter um mix completo de lojas, de vestuário, acessórios a restaurantes com varanda externa.

DINHEIRO E OPORTUNIDADE

Rodrigo Romano e Felipe Pivatelli, sócios da We9, consideram que esse movimento é resultado da oferta de dinheiro e de boas oportunidades para investimentos no setor.

“Existem muitas cidades de porte médio onde não há shoppings e surgem novos conceitos, como centros comerciais conjugados com residências e áreas corporativas”, afirma Romano.

Os complexos multiúsos, diz, têm um potencial forte de expansão e não somente no interior, mas também em capitais como Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e Campo Grande (MS).

“Há liquidez, oportunidade e necessidade de diversificação de investimentos. Além disso, as marcas estão numa dinâmica de expansão. Se não forem para o interior, vão perder mercado para quem for”, diz Pivatelli. Este é um bom momento para o setor de shoppings, diz, e para as marcas que precisam crescer.

 

IMAGENS: divulgação

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