Interior de São Paulo já produz azeite de qualidade

Pequenos produtores de azeite artesanal entram na disputa com importados por um mercado cada vez mais atraente

Mariana Missiaggia
15/Jan/2015
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Interior de São Paulo já produz azeite de qualidade

Embora ainda não exista tradição no cultivo de oliveiras no Brasil, pequenos produtores estão descobrindo a arte de transformar azeitona em azeite. Os primeiros resultados obtidos no interior de São Paulo mostram que a atividade surge com grande potencial econômico para a região sudeste.

Habituado a importar, o brasileiro começou a produzir. Feito de forma artesanal em São Bento do Sapucaí, a 200 quilômetros da capital, na Serra da Mantiqueira, o azeite extra virgem Oliq representa uma história que ainda escreve suas primeiras páginas. Os sócios Vera Masagão Ribeiro e seu marido Antônio Gomes Batista, donos da Fazenda Santo Antônio do Bugre, e Cristina Vicentin, proprietária da fazenda São José do Coimbra, formaram o núcleo de produtores rurais que se dedica à olivicultura e investe em maquinário.

Cada associado colabora com o que tem. Alguns com a colheita de apenas 30 oliveiras, outros com 9 mil árvores, como é o caso de Cristina, que as cultiva há mais de 12 anos. No total, o azeite Oliq é resultado de uma promissora produção de 15 mil pés de quatro variedades: arbequina e arbosana (espanholas), grappolo (italiana) e maria da fé (brasileira) – todas fincadas a uma altitude superior a 900 metros, na divisa do estado com Minas Gerais.

Azeite Oliq, produzido no interior de São Paulo/Foto: Arquivo Oliq

Foi a vizinhança da cidade com pequenos produtores mineiros que trouxe os primeiros aprendizados à Oliq. Diferente do Estado de São Paulo, que engatinha nesse segmento, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul já se posicionam de forma mais concreta nesse mercado. 

Depois de três anos de pesquisa e tentativas, Vera, Batista e Cristina comemoraram em julho do ano passado a primeira extração de azeite extra virgem com acidez menor a 0,2%, que rendeu 400 litros e 1.600 garrafas, comercializadas a R$35 cada. Cada tonelada de frutos colhidos gera 150 litros de azeite. 

Sócios da Oliq, em São Bento do Sapucaí/Foto: Arquivo Oliq

Com a primeira leva dos engarrafados vendida, Vera já projeta um novo ritmo de produção para a safra de 2015. A intenção é saltar de 400 litros para 15 mil litros e no mínimo, quadruplicar o faturamento. “Teremos produções cada vez maiores. Não queremos nos restringir ao público local. Gradativamente, vamos chegar à mesa do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo”, diz. 

A presença do Brasil na lista dos dez maiores consumidores de azeite de oliva do mundo, segundo a Olisul (Associação dos Olivicultores do Sul do Brasil) confirma o interesse do brasileiro pelo produto. Hoje, o país ocupa a 7ª posição no ranking. Em 2014, esse volume cresceu cerca de 40%, levando o país a consumir 72 mil toneladas de azeite.  

Esses números crescem proporcionalmente ao de empreendedores no segmento, segundo Edna Bertoncini, engenheira agrônoma da  Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e pesquisadora do Projeto Oliva SP, da APTA (agência paulista de tecnologia dos agronegócios). Acostumada a acompanhar as plantações de perto, Edna afirma que o Estado já reúne cerca de 60 microprodutores, que juntos totalizam 500 hectares de olival. Cidades como Campos do Jordão, Piedade, São Sebastião da Grama, Louveira, Lorena e Cabreúva fazem parte desse roteiro. 

MERCADO JÁ TEM INOVAÇÃO

Ainda com muito a ser descoberto, o mercado brasileiro de azeites já oferece novidades. Consolidado em outros países como México, Nova Zelândia, África do Sul e Chile, o azeite de abacate é a aposta de Ricardo Lama, 63 anos, dono da Americana Óleos Vegetais Ltda., e seus dois sócios, que afirmam ser pioneiros nesse segmento no Brasil. 

É de uma fazenda em Bauru (a 330 quilômetros de São Paulo) – a maior exportadora de abacates do Brasil, que sai a matéria-prima do azeite Hass. Após três anos de planejamento e em busca de máquinas para extração (a utilizada para azeite de oliva não funciona com o abacate), os sócios decidiram arriscar e investir em um maquinário para tratamento de esgoto, o grande acerto da empresa. “Já tínhamos tentado de tudo. Foi a cartada final e deu super certo”, diz.

Diferente do processo realizado com o azeite de oliva, a casca e o caroço da fruta são separados da polpa, processada sozinha para a extração do azeite, que segundo Lama, não recebe nenhum tipo de produto químico.

No mercado, desde abril do ano passado, hoje, o produto é distribuído somente no interior do estado, em Campinas, Americana, Bauru, Limeira e Ribeirão Preto. A embalagem de 500 mililitros custa cerca de R$ 40. São produzidos 4.000 litros de azeite durante a safra, que vai de fevereiro a outubro. 

IMPORTADOS ATRAEM OS CONSUMIDORES 

Segundo dados do COI (Conselho Oleícola Internacional), a importação de azeites no Brasil cresceu na ordem de 20%, no último ano. O mercado mundial de azeites gira em torno de 10 bilhões de euros. Esse número, no entanto, representa o faturamento do produtor ao varejista/atacadista.

As prateleiras dos supermercados simbolizam muito bem esses números com o crescimento na oferta de rótulos a cada dia. De olho nesse segmento, em dezembro do ano passado, o 7 Molinos Armazém, na alameda Lorena, nos Jardins, ampliou a atuação e o espaço físico da loja, para se tornar uma espécie de butique de azeites. Em menos de dois meses, o produto já representa 40% do faturamento do negócio.

Para Miguel Vendrasco, 53 anos, fundador do 7 Molinos, a relação do brasileiro com os azeites de qualidade passa por um movimento similar ao que ocorreu com a uva no país. Segundo Vendrasco, o brasileiro está aprendendo a degustar azeite e passou a valorizar qualidade, a ponto de investir R$200 em uma garrafa de meio litro – o 7 Molinos trabalha com importados de R$30 a R$259, de nacionalidade espanhola, grega, francesa, uruguaia, portuguesa e marroquina – todos com grande aceitação.

Mesmo comercializando somente marcas internacionais, Vendrasco confirma o interesse em incluir fornecedores locais em sua carta de azeites. “Tem coisas muito boas sendo produzidas dentro do país. Temos interesse em trabalhar com o produto artesanal, por se tratar de algo autêntico. Além disso, queremos ajudar os microprodutores a entrar no varejo recebendo um lucro justo”, diz.  

 

 

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