Em busca de clareza, fundo de investimento terá nova classificação
Segundo a Anbima, a ideia é melhorar o processo de decisão para que os investidores possam comparar os diferentes fundos, de acordo com o prazo para aplicar seus recursos

Primeiro, o Tesouro Nacional mudou os nomes dos títulos públicos para que que os investidores não familiarizados possam escolher com mais facilidade e compreensão o que adquirir no site Tesouro Direto. Em julho, será a vez dos fundos de investimentos mudarem de classificação, por determinação da entidade que reúne as instituições financeiras do setor, a Anbima (Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
O princípio é semelhante: reduzir as dúvidas dos pequenos investidores na hora de escolher um fundo para aplicar seus recursos, de acordo com cada prazo. Os pequenos poupadores, hoje, costumam pensar no prazo só do ponto de vista tributário e nem sempre de acordo com o próprio planejamento financeiro.
A nova classificação dos fundos de investimento brasileiros começa em julho. O objetivo é facilitar o processo de decisão de investimento e permitir uma adequada comparação entre os produtos. A Anbima informou que a mudança se baseou em práticas internacionais vigentes nos mercados norte-americano e europeu.
A conclusão é de que há duas grandes características em comum na hora de ofertar os fundos aos aplicadores: a divisão das informações em níveis, que parte das classes mais gerais até as estratégias mais específicas, e o esforço para explicitar de forma clara os fatores de risco associados a cada estratégia ou objetivo de investimento.
As pesquisas realizadas pela entidade revelaram que, independentemente da quantidade de recursos de que dispõem ou do segmento pelo qual são atendidos, os investidores têm noção sobre o risco a que estão dispostos a tomar e o prazo pelo qual pretendem manter os recursos aplicados.
Apesar disso, a maioria dos investidores consultados precisa de orientação e suporte para fazer a ponte entre as suas necessidades, que eles sabem identificar bem, e os produtos adequados para atendê-las.
Assim, a nova classificação terá três níveis de informação, em uma lógica de fácil entendimento e sem perda de profundidade técnica sobre os fatores de riscos e estratégias.
O primeiro nível irá mostrar a classe de ativos dos fundos (onde o recursos são aplicados), que hoje são quatro: renda fixa, ações, multimercados e cambial.
O investidor deverá escolher um fundo de uma dessas classes para, depois, partir o próximo nível de escolha, que é o que apresentará os conceitos de risco e tipos de gestão do fundo (se ativo ou indexado ou passivo).
O terceiro nível de informação traz os detalhes das estratégias dos gestores do produto.
Por exemplo, se o aplicador optar por um fundo de renda fixa, terá de escolher, no nível 2, entre as categorias simples, passivo, ativo baixa duração/média duração/alta duração/livre duração e investimentos no exterior.
Após essa fase, passa para o nível 3, no qual precisará escolher a subcategoria do fundo que, no exemplo da classe de renda fixa, são: renda fixa simples, índices, soberano/grau de investimento/crédito livre e, por fim, investimento no exterior/dívida externa.
Um dos objetivos da Anbima com a nova classificação é o de que a escolha do produto seja feita de acordo com a necessidade futura de capital, se será de curto, médio ou de longo prazo, o que direcionará para uma escolha adequada, com custos compatíveis.
GESTORAS COMEÇAM NO DIA 1º DE JULHO
As gestoras terão até o fim do ano para apresentar produtos com a nova classificação de fundos de investimento. Em algumas instituições, o trabalho começou a ser feito e entrará em vigor no dia 1º de julho, juntamente com a modernização da Instrução 409 pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
A regulação foi substituída, após dez anos, pela Instrução 555, a nova classificação de investidores - com a criação do perfil de investidor profissional.
As mudanças também inclui novas regras de suitability (análise do perfil do investidor), que nada mais é que a compatibilidade dos produtos ao perfil do investidor.
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Carlos Ambrósio, vice-presidente da Anbima, destaca que será essa agenda conjunta que trará os resultados esperados para a indústria de fundos, como maior entendimento por parte dos investidores e adequação dos produtos ao perfil do cliente.
A ideia, segundo afirma, é que os investimentos sejam realizados considerando a necessidade de capital futuro por parte do investidor, que terá melhor condição de comparar os produtos no mercado.
"Quanto mais clareza e informação for dada, o acontecimento de um determinado cenário e o efeito no produto deixa de ser uma surpresa para o investidor", afirma.
Carlos Massaru, vice-presidente da Anbima e presidente da BB DTVM, administradora de recursos do Banco do Brasil com R$ 600 bilhões sob gestão, diz que a nova classificação provocará uma revisão nos produtos oferecidos pela gestora.
Ele diz que a mudança poderá induzir a união de produtos, mostrar lacunas que eventualmente possam existir na prateleira e estimular a criação de novos fundos.
O presidente da BB DTVM afirma que a nova classificação de fundos, na prática, se torna uma ferramenta para contribuir para a educação financeira, não apenas do investidor, mas também do lado da força de venda dos fundos.
"Usar a nova classificação de fundos como um instrumento de planejamento financeiro é um dos princípios, para o investidor olhar para o prazo do investimento, que é algo que hoje ele não faz", afirma. Segundo Massaru, os pequenos investidores analisam o prazo das aplicações apenas olhando o ponto de vista tributário.
A mudança, diz Massaru, mostra todas as possibilidades existentes no universo de investimento de renda fixa, um mercado amplo que caminha lado a lado com a agenda macroeconômica do país. "O governo quer trazer o crédito corporativo para o investimento de longo prazo", afirma.
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