Em 12 meses, país já perdeu 601,9 mil postos de trabalho
Números do Caged mostram que o desemprego segue em aceleração. Projeção é que 2015 termine com o saldo de 1 milhão de vagas fechadas

No mês passado, o Brasil perdeu 111,2 mil vagas formais de emprego, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Este foi o pior resultado para o mês da série histórica, iniciada em 1992. A projeção de especialistas é que este quadro vai piorar até o fim do ano.
A indústria de transformação foi a responsável pelo maior número de vagas fechadas em junho, com 64,2 mil postos. O setor de serviços perdeu 39,1 mil, seguido de comércio (queda de 25,6 mil vagas) e construção civil (-24,1 mil). Apenas a agricultura encerrou o mês de junho com saldo positivo de 44,6 mil novas vagas.
O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostra que, no primeiro semestre, o total de postos de trabalho fechados já chegou a 345,4 mil.
Mas se considerarmos o período interanual - nos últimos 12 meses terminados em junho - houve o encerramento de um total de 601,9 mil vagas. Os dados são sem ajuste, ou seja, não incluem as informações passadas pelas empresas fora do prazo.
A projeção, no entanto, é que esse quadro continue se deteriorando. Segundo o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco, o Caged deve encerrar 2015 com o fechamento de 1 milhão de vagas.
A estimativa é de que 800 mil postos de emprego sejam fechados na indústria, 80 mil no comércio, 70 mil em serviços e 50 mil na agropecuária.
Quem também corrobora a estimativa de que no fim de 2015 o número de trabalhadores sem emprego deverá chegar à marca de 1 milhão de pessoas é Antônio Correia de Lacerda, professor doutor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e sócio da Macrosector Consultores.
O quadro de desemprego em aceleração só deverá começar a se reverter lá pelo final de 2016 porque, de acordo com o economista, emprego e renda estão ligados ao PIB (Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos pelo país), para o qual ele estima uma queda de 2% neste ano.
Trata-se de um quadro muito ruim por ser exatamente o oposto do que o país se acostumou a ver na última década. Lacerda lamenta a situação atual, porque o Brasil chegou perto do pleno emprego, com uma taxa de desemprego muito baixa, de cerca de 5%.
"Não chegamos ao pleno emprego porque, para isso, teríamos de ter desemprego zero. Mas como muita gente, por conta do aumento da renda das famílias, deixou de procurar emprego e as empresas passaram a ter dificuldade para encontrar funcionários no mercado, era como se estivéssemos em pleno emprego", diz. Mas agora a situação é oposta.
O quadro de aumento do desemprego está no início e ainda não é possível ver sinais de recuperação, segundo Newton Camargo Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
"A economia está passando por um ajuste significativo, fruto dos erros cometidos na política econômica num passado recente. O quadro vai se prolongar e, consequentemente, não vejo o mercado de trabalho se recuperando tão rápido", afirma.
O economista acredita que a taxa de desemprego de junho, medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) - que será divulgada na semana que vem - deve ficar em 7% ante a taxa de 6,7% de maio e que o próximo efeito é um impacto nas negociações salariais.
"Mesmo com esse quadro de desaceleração do desemprego os reajustes salariais ainda estão relativamente elevados. Faz parte do ajuste uma redução", afirma Rosa.
AJUSTE NA SELIC
Apesar de ter se mostrado mais rígido no combate à inflação, o Banco Central (BC) pode começar a ponderar o aumento do desemprego em sua política de juros. Pelo menos é o que avalia Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.
Segundo ela, o saldo líquido de emprego formal negativo em junho reforça a aposta de que o BC está "mais propenso" a encerrar o atual ciclo de alta de juros.
A estimativa dela é de uma alta da taxa básica Selic em 0,25 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Econômica (Copom), no próximo dia 29 de julho. Hoje, a Selic está em 13,75% ao ano.
De acordo com Solange, essa probabilidade aumentou porque o resultado do Caged do mês passado indica que a autoridade monetária perceberá que a deterioração do mercado de trabalho está antecipada e maior do que a esperada.
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