Do mundo da propaganda para o salão de beleza
Como Alan Spadone trocou de carreira e virou uma grife no campo da micropigmentação, atraindo clientes e lucros para seu estúdio em Jundiaí, no interior paulista
Assim que a crise financeira estourou nos Estados Unidos, em 2008, o publicitário Alan Spadone, 33 anos, percebeu que era hora de se reinventar.
Na época, dono de uma pequena agência de publicidade, em Jundiaí, a 57 quilômetros de São Paulo, ele perdeu boa parte de seus clientes que vinham do ramo imobiliário.
A falta de dinheiro disponível no Brasil, a restrição dos bancos à concessão de crédito e o aumento da inadimplência foram fatais para seus contratos.
"As pessoas passaram a ver o serviço de marketing como um gasto, em vez de investimento", diz Spadone.
Entre os poucos clientes que lhe restaram, um escritório de arquitetura o contratou para desenvolver a identidade visual de um grande salão de beleza. Ao conhecer o espaço, o publicitário descobriu um mercado alheio à crise e muito lucrativo.
Decidido a construir uma nova carreira, Spadone se matriculou num curso de cabeleireiro com duração de cinco meses. A ideia era se qualificar o mais rápido possível para então, concomitar as duas atividades e aumentar sua receita.
"A agência pagava as minha contas, mas não me dava o retorno que pretendia".
Com um diploma em mãos, ele passou a atender em um salão, onde dividia a função de corte e coloração com outros cinco cabeleireiros.
Desde o primeiro dia de trabalho, uma outra área do salão era a que mais chamava a sua atenção. As clientes que agendavam o serviço de sobrancelha eram atendidas pelas manicures, que realizavam o trabalho sem nenhuma técnica.
"Comecei a pesquisar esse mercado, e descobri que o Brasil estava bem atrasado".
O novato não perdeu tempo e investiu R$ 450 num curso de dois dias de design de sobrancelhas. Com outros R$ 200 comprou o material necessário, e avisou a proprietária do salão que estava à disposição.
Cobrando R$ 25 por atendimento, ele recuperou os R$ 650 em 15 dias, recebendo apenas 50% do valor (R$ 12,50) por cada trabalho.
Além de formar uma carteira de clientes, e aperfeiçoar sua técnica, Spadone tinha outra preocupação: fidelizar sua clientela.
Além de prometerr um bom atendimento, ele dava dicas de maquiagem específicas para cada tipo de rosto, enviava cartões de aniversário para as clientes e enviava e-mails marketing personalizados.
Durante cinco anos, ele se dividiu entre a agência e os atendimentos no salão, até finalmente alcançar o equilíbrio financeiro que esperava -ganhar dentro de um salão de beleza o mesmo que conseguia trabalhando com marketing.
Com renda média mensal de R$ 12 mil, era a hora de abrir o seu próprio negócio. Mas, como acontece na vida de quase todo empreendedor, Spadone não tinha dinheiro em caixa para locar e montar uma sala, nem para comprar os primeiros materiais.
"Tudo o que eu tinha era uma maleta e uma cadeira. Negociei três meses de aluguel e parcelei R$ 600 em lâmpadas em 10x no cartão de crédito".
A opção foi pegar um empréstimo para ter capital de giro de R$ 30 mil, e que seriam pagos em 30 meses. Mas, ele deu azar.
Antes mesmo que o valor fosse liberado e a primeira parcela fosse paga, a credora faliu e Spadone voltou à estaca zero.
Com medo de se arriscar novamente, ele buscou um empréstimo dentro da própria família, e conseguiu R$ 20 mil com sua avó.
Ao contrário do que todos imaginavam, ele usou o montante para comprar outros quatro espelhos e cadeiras, e a outra parte para custear um curso de micropigmentação em São Paulo.
Também conhecida como sobrancelha fio a fio, a técnica ainda era inexplorada no Brasil, e corrigia imperfeições com muita naturalidade, bem diferente dos trabalhos realizados com henna.
A essa altura, Spadone já sabia o que queria. Mais do que ter o seu próprio salão, ele queria se tornar referência no mercado de micropigmentação -não apenas como profissional, mas também como especialista e formador de novos talentos.
Com o salão ampliado, ele partiu para uma jornada tripla. Trabalhava com micropigmentação pela manhã, cuidava da agência a tarde e dava cursos a noite, dentro de seu próprio salão.
Foi nesse ritmo, que em dois meses ele conseguiu recuperar e quitar a dívida que fez com a avó e deixar os alugueis atrasados em dia (R$ 1,8 mil por mês).
Ao mesmo tempo, ele acompanhava o movimento e as descobertas da técnica fora do Brasil, principalmente, em países como Espanha, Alemanha e Estados Unidos, onde ele sonhava participar de um congresso.
SPADONE DURANTE DEMONSTRAÇÃO NA BEAUTY FAIR
O problema é que até então, falar e entender inglês era um obstáculo para ele. Mesmo assim, ele estudou a língua durante oito meses, arrumou as malas e partiu em busca de outra especialização.
"Mas, não absorvi muito. O idioma realmente me barrou".
Em contrapartida, ele conheceu duas especialistas no assunto, uma da Estônia e outra americana. Foram elas que ensinaram muito do que ele pratica hoje. Em troca, ele desenvolveu um trabalho de marketing para o negócio delas.
De volta ao Brasil e com a agenda de cursos lotada, ele teve outra ideia - gravar aulas e vendê-las como um produto digital. Isso porque a demanda de profissionais de outras cidades e estados interessados na técnica era enorme.
A decisão foi certeira. Somente nas primeiras seis horas em que a vídeoaula StarNow foi lançada, Spadone faturou R$ 200 mil. Daí em diante, o negócio deslanchou.
Em dois anos, foram mais de 2,5 mil alunos formados, uma média de 60 alunos presenciais por mês, e cerca de oito atendimentos por dia (cada um por R$ 1.500), além de palestras em mais de 16 países.
Enquanto um novo espaço de cinco andares é construído com investimento de R$ 6 milhões, o estúdio permanece onde tudo começou, no Jardim São Bento, em Jundiaí, com cinco salas e 20 funcionários.
Além dos cursos e palestras, o empresário e micropigmentador também assina uma linha de tintas exclusivas para sobrancelhas fio a fio, além de equipamentos especializados como agulhas e dermógrafos, desenvolvidos na Alemanha.
Com 70 mil seguidores no Instagram, Spadone tem ainda outro trunfo - o congresso AS PMU Resort - uma espécie de campeonato brasileiro em sobrancelhas fio a fio, realizado a cada dois anos, em que cada profissional paga R$ 12 mil para participar.
O próximo evento, em 2018, será a bordo de um navio cruzeiro. São cinco dias orientações sobre empreendedorismo e aulas com convidados internacionais. "Quero que essas vidas sejam transformadas, a técnica fica em segundo plano".
*FOTOS: Divulgação