Desemprego entre os chefes de família acelera e tem alta de 57% em um ano

No mês de novembro, havia 548 mil chefes desempregados nas seis principais regiões metropolitanas do País

Estadão Conteúdo
22/Dez/2015
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Desemprego entre os chefes de família acelera e tem alta de 57% em um ano

Alex Galdino, de 37 anos, era o principal responsável pelas despesas em sua casa até abril deste ano, quando foi demitido de uma empresa de tecnologia da informação. Sem emprego, não teve outra saída senão fazer bicos enquanto procura outra vaga. No lugar dele, a mulher, Maíra, que é psicóloga e massoterapeuta, assumiu parte das contas da família. Outras foram simplesmente cortadas do orçamento.

O caso de Alex é apenas um entre milhares de chefes de família que estão perdendo seus empregos em função da crise. No mês de novembro, havia 548 mil chefes desempregados nas seis principais regiões metropolitanas do País, 56,9% mais do que em igual mês do ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Como são os principais provedores do lar, a demissão é um golpe no poder de compra dessas famílias. Galdino acabou com a TV por assinatura, já gastou todas as suas economias e conta com a ajuda da mãe e da sogra. Cogitou vender o carro, mas adiou esse plano diante da necessidade de manter o veículo para levar a filha e a enteada ao médico, à escola e para fazer as compras de supermercado. Mesmo assim, o número de viagens diminuiu bastante por causa da crise.

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"Não consigo emprego nem na área que tenho experiência (TI), nem na área em que sou formado (logística). Nesse tempo todo, só fiz uma entrevista para call center, mas não me chamaram porque acham que sou muito qualificado", conta o morador da zona sul de São Paulo. "Por enquanto, tenho feito manutenção de computadores e atuo como supervisor freelancer. É menor (a renda), mas é melhor pingar do que secar."

O número de chefes de família que estão desempregados começou a crescer já em janeiro deste ano. Naquele mês, eram 357 mil nas seis principais regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador). Com o aumento, a taxa de desemprego entre os chefes atingiu 4,7% em novembro deste ano.

ABAIXO DA MÉDIA

O resultado está abaixo da média (7,5%), mas esconde uma das principais consequências desse movimento: outros membros da família que antes não trabalhavam passam a procurar emprego, sem que haja vagas disponíveis para acomodá-los. Por isso, a taxa de desemprego sobe. Além disso, o poder de compra diminui, com repercussão sobre setores como comércio e serviços, gerando um círculo vicioso.

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"Isso vai fazer com que outras pessoas tentem recompor essa renda perdida", avalia o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada. Segundo o IBGE, há 1,286 milhão de "outros membros" da família buscando emprego, 52,3% mais que em novembro de 2014.

No site de busca Vagas.com, a procura tem sido crescente. O cadastro de novos currículos atingiu 173 por hora na média do acumulado do ano até setembro, 11,6% mais do que em igual período de 2014. Até novembro, a alta acelerou para 17%. As oportunidades, no entanto, encolheram 4% até o mês passado.

JOVENS

"Temos percebido que a faixa etária de 25 a 34 anos é a que mais procura, mas o crescimento tem sido maior entre 18 e 24 anos", conta Rafael Urbano, especialista em Inteligência de Negócios da Vagas.com.

Entre os jovens, os cadastros avançaram 49% de janeiro a novembro ante igual período de 2014, segundo o site.

A procura de emprego por jovens é o que mais tem dado combustível ao aumento do desemprego em 2015. Antes, o movimento era contrário: os pais tentavam preservar o estudo do filhos e bancavam seu sustento. Agora, com a renda encolhendo quase 10%, não há como mantê-los longe do batente.

Por outro lado, Bacciotti vê que já há um sentimento de "desesperança" entre os brasileiros, já que a proporção de pessoas economicamente ativas em relação às pessoas em idade de trabalhar tem diminuído. "É um ambiente econômico tão ruim, uma atividade tão paralisada, que há essa desesperança."

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Para o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores, a situação ainda pode piorar antes de melhorar. "Como essas pessoas são as fontes principais de renda, elas não têm condição de sair do mercado de trabalho. Algumas fazem bicos ou abrem o próprio negócio e não são consideradas desocupadas. Mas a probabilidade de o negócio dar certo em 2016 é baixa", afirma o economista.

"É um emprego muito vulnerável. O risco é que essa pessoa vire desempregada e a taxa de desemprego dê um salto", acrescenta Caparoz.

REGIÃO METROPOLITANA

A taxa de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo baixou para 14,1% em novembro ante 14,3% em outubro, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) divulgada nesta terça-feira, 22/12, pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A taxa ficou acima da registrada em novembro de 2014, que foi de 9,8%.

No mês passado, o total de desempregados foi estimado em 1,574 milhão de pessoas, 24 mil a menos do que em outubro. Esse resultado foi obtido com a geração de 13 mil postos de trabalho e com a saída de 11 mil pessoas do mercado de trabalho, o que provocou uma redução de 0,1% da População Economicamente Ativa na região. A taxa de desemprego aberto recuou no período de 11,9% para 11,7%, enquanto a taxa de desemprego oculto não oscilou e continuou em 2,4%. Além disso, a taxa de participação subiu levemente, pois variou de 63,0% em outubro para 63,1% em novembro.

Ainda em relação a novembro, o total de ocupados subiu 0,1% ante o mês anterior, de 9,574 milhões para 9,587 milhões. Essa variação foi motivada pela geração de 22 mil empregos na Indústria de Transformação, uma alta de 1,5%, e de 56 mil postos em Serviços, um avanço de 1,0%. Tais números compensaram o fechamento líquido de 46 mil vagas na categoria Comércio e Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas (-2,6%) e de 8 mil postos na Construção (-1,2%).

RENDA

O rendimento médio real dos ocupados na Região Metropolitana de São Paulo subiu 0,1% em outubro ante setembro, para R$ 1.877, apontou a pesquisa. A renda média real dos assalariados avançou 0,3% para R$ 1.903.

Ao comparar os rendimentos médios reais entre outubro de 2015 e o mesmo mês de 2014, foi registrada uma queda de 10,3% para os ocupados e um recuo de 9,2% para os assalariados. Devido à regressão do rendimento médio real e do nível de ocupação, também caíram as massas de rendimentos dos ocupados (-12,9%) e dos assalariados (-13,1%).

*Foto: Thinkstock

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