Confiança dos consumidores cai, mas a do comércio reage
Em junho, a pesquisa ACSP/Ipsos registrou o menor índice desde 2005. Já o levantamento da CNC, que mede a confiança do comércio, interrompeu uma sequência de oito quedas

A confiança do consumidor brasileiro caiu cinco pontos em junho e se fixou em 100 pontos. É o que aponta o INC (Índice Nacional de Confiança) da ACSP/Ipsos (Associação Comercial de São Paulo). O INC varia entre 0 e 200 pontos, sendo que 200 representa o otimismo máximo, e abaixo de 100, o cenário é de pessimismo.
Trata-se do pior resultado desde que a pesquisa foi iniciada, em abril de 2005, e de uma queda de cinco pontos ante o mês anterior. Em junho de 2014, para critérios de comparação, o INC atingiu 140 pontos.
“A queda na confiança do consumidor tem sido drástica desde o começo do ano. Ele nunca esteve tão perto do campo do pessimismo quanto agora. Por isso, é cada vez mais urgente que a economia receba uma pesada injeção de ânimo para reativar os setores que sofrem com os resultados negativos dos indicadores”, afirma Alencar Burti, presidente da ACSP e da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo).
CLASSES
As classes A e B seguem em declínio no campo pessimista, somando 81 pontos em junho – uma queda de três pontos em relação a maio. “Por ser a classe com maior poder aquisitivo e também a mais bem informada, esse alto pessimismo deve-se aos seguidos escândalos políticos, que têm trazido instabilidade”, comenta Burti.
O grupo das classes D e E registrou queda de sete pontos, passando de 116 em maio para 109 em junho. Já a classe C continuava no campo otimista, em junho, apesar do declínio de sete pontos – o INC foi de 108 em maio para 101 em junho.
REGIÕES
O grupo das regiões Norte e Centro-Oeste foi o que apresentou a menor queda, de 111 em maio para 109 em junho. A região Sul apresentou queda de sete pontos e foi para 100 em junho. Já no Nordeste o INC foi de 115 pontos em maio para 111 em junho. A região Sudeste é a menos otimista: de 97 pontos em maio foi para 90 em junho.
Nas 70 cidades do interior do Brasil analisadas pelas pesquisa, o INC ficou estável, com 101 pontos. Nas capitais, houve queda de 6 pontos: de 105 foi para 99. Nas Regiões Metropolitanas a queda também foi de 5 pontos: de 102 pontos em maio, o INC passou para 97 em junho.
SITUAÇÃO FINANCEIRA
De acordo com a tabela, 29% dos consumidores entrevistados vêem sua situação atual como boa. O número é 18% inferior ao de junho de 2014, e 5% inferior a maio.
Os que achavam que a situação financeira ia melhorar em junho de 2014 eram 44%. Em junho deste ano, esse número caiu para 39%.
EMPREGO
Em maio, 26% dos entrevistados se sentiam seguros no emprego – dois pontos acima de junho (24%) e sete abaixo de junho de 2014 (31%).
COMPRAS
Os que estavam à vontade em junho para comprar eletrodomésticos eram 22% ante 25% em maio e 35% há um ano. "Isso pode ser visto no atual momento de crise vivido pelos setores de carros e imóveis”, diz Burti.
PERSPECTIVA DO EMPRESÁRIO MELHORA
O Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio) interrompeu uma sequência de oito quedas e subiu 0,6% em relação a maio, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). O rompimento da sequência negativa, iniciada em setembro de 2014, ocorreu devido à melhora na perspectiva para o seguindo semestre do ano em determinados segmentos do varejo.
Na comparação interanual, contudo, o índice manteve a tendência de queda. O Icec recuou 21,1% em relação a junho do ano passado, a 23ª retração seguida neste confronto. "Isso demonstra que, apesar da sinalização positiva, a percepção das condições atuais, tanto da economia como no setor, ainda seguem a percepção desfavorável dos últimos meses", informou a CNC em nota.
Diante do cenário, a intenção de contratação de funcionários recuou 23,3% ante junho do ano passado. "A CNC projeta que, pela primeira vez desde 2007, o nível de ocupação no comércio varejista deverá registrar retração anual de 0,8%, equivalente ao fechamento de 66,4 mil postos de trabalho no setor", diz a instituição em nota.
INFLUÊNCIAS
O resultado positivo do Icec na comparação mensal foi influenciado, principalmente, pela segunda alta consecutiva do índice que mede o grau de otimismo do empresário do comércio (+3,8% ante maio). Já o subíndice que mede o otimismo dos empresários em relação à economia cresceu 7,7% em relação ao mês anterior.
Também colaborou com o resultado positivo mensal o crescimento de 0,6% no índice de intenção de investimento dos empresários do comércio em junho ante maio.
Na comparação anual, o resultado negativo foi impactado pela deterioração da avaliação dos empresários das condições atuais do comércio, que manteve a tendência de queda observada há dez meses, apontou a CNC. Em junho, o recuo neste indicador foi 42,4% frente a igual mês do ano passado.
O subíndice que mede a avaliação dos empresários do comércio das condições econômicas atuais, por sua vez, segue sendo o item com pior avaliação em todo o Icec (26,1 pontos). Em relação a junho de 2014, esse indicador cedeu 59,8%. Ao todo, 93,1% dos empresários consultados avaliam que houve piora no cenário econômico nos últimos 12 meses.
ESTOQUES
A perspectiva de queda no volume de vendas, associada à elevação nos custos de captação de recursos nos últimos meses, fez com que os empresários do setor revisassem seus planos de investimentos. Apesar da alta de 0,6% em junho ante maio na intenção de investimento dos empresários do comércio, o índice registra queda de 19,7% na comparação interanual.
Segundo a CNC, o porcentual de empresários que apontam níveis elevados de estoques chegou a 29%, o segundo maior resultado da série histórica, iniciada em março de 2011. A concentração mais alta de estoques é de empresas voltadas à comercialização de bens de consumo duráveis (33,6%), refletindo a queda nas vendas verificadas principalmente nos segmentos automotivo, de móveis e de eletrodomésticos, apontou a instituição.
*Com Estadão Conteúdo
*Foto: Thinkstock