Como o varejo de Americana se prepara para enfrentar 2017

Em busca da sobrevivência, lojistas mudam práticas de gestão para adaptar os negócios aos tempos bicudos na cidade, que está em estado de calamidade financeira

Mariana Missiaggia
25/Out/2016
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Como o varejo de Americana se prepara para enfrentar 2017

Sem recursos para pagar funcionários e fornecedores em dia, Americana, a 125 quilômetros de São Paulo, decretou estado de calamidade financeira nas contas públicas do munícipio pelos próximos quatro meses.

O impacto da crise das finanças públicas no consumo da cidade já preocupa os lojistas, que se preparam para enfrentar uma segunda rodada de vendas baixas em 2017.

Controle e redução de custos, apresentação e exposição de produtos, treinamento de equipe, e alternativas para melhorar as vendas são algumas das estratégias.

A previsão de que 1,5 mil servidores municipais serão demitidos nos próximos meses, atraso nas remunerações de 4,4 mil trabalhadores e frequentes greves de funcionários públicos, desde 2015, devido ao parcelamento dos salários, causam reflexos em toda a economia da cidade.

No comércio, o problema pode ser considerado ainda pior. Além de ter que lidar com a queda no potencial de consumo, os comerciantes também enfrentam a concorrência com os ambulantes nas ruas, que proliferaram ao longo da crise. 

CALÇADÃO VIEIRA BUENO, EM AMERICANA

"Aos sábados, parece que estamos na rua 25 de Março, em São Paulo, tamanha é a quantidade de camelôs. Sem emprego, a informalidade explode", afirma Rita de Cássia Rosalem, proprietária de uma relojoaria, no calçadão Vieira Bueno.

Desde o início do ano, Americana contabiliza a perda de cerca de 47 postos de trabalho a cada dia, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

De acordo com a empresária Rita, essa situação já se estende há seis anos, com o desfalque nas contas públicas e as demissões em massa, principalmente, nas indústrias têxteis, que tempos atrás já foram a principal atividade da cidade.

Desde 2007, as tecelagens que sobreviveram à crise reduziram o número de funcionários em pelo menos 50%, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Tecelagens da região.

Em 2000, esse setor reunia cerca de 1,2 mil indústrias em Americana. Hoje, 550. Só em 2015, 40 fecharam as portas.

Embora o cenário atual seja preocupante, Rita relata que o movimento de clientes dentro das lojas ainda permanece estável, mas que tudo deve mudar em 2017.

Ela acredita que com o aumento do desemprego nos últimos meses, boa parte da população ainda esteja recebendo o benefício do seguro-desemprego.

"Muitos ainda estão recebendo auxílio. Só a partir do ano que vem saberemos a dimensão do impacto dessa crise no comércio".

André Miranda, sócio-proprietário da Floricultura Girassol, concorda com Rita. Além de trabalhar com o consumidor final, Miranda também realiza oito eventos por mês, em média, e já vê os primeiros sinais do desemprego no negócio.

MIRANDA, DA FLORICULTURA GIRASSOL: QUEDA DE 20% NOS CONTRATOS PARA 2017

"Este ano ainda conseguimos manter um faturamento satisfatório porque os contratos foram fechados em 2014 e 2105", diz.

No entanto, as negociações fechadas neste ano para 2017, sofreram uma queda de 20%, segundo o empresário.

Preocupado com o atual momento econômico, Miranda recorreu a uma consultoria especializada em varejo, no final de 2015, para otimizar processos e eliminar perdas.

No total, o projeto teve duração de seis meses, e ajudou a empresa a reestruturar toda a operação da floricultura, em relação a compra, estoque, atendimento e fluxo de caixa.

Por se tratar de um produto muito perecível, Miranda costumava ter uma perda média de 40% em flores.

Com o novo controle de estoque, a floricultura ganhou mais eficiência, e hoje a perda média gira em torno de 10%.

PREVENÇÃO

Contratar uma consultoria para adotar uma gestão mais profissional, como fez Miranda, tem se tornado cada vez mais comum na região, de acordo com Luccas Barbosa Duque, gerente comercial da Destra Consultoria.

Com cerca de 60 clientes de varejo, em Americana, a consultoria teve um aumento de 30% no número de clientes atendidos neste ano, justamente, motivados pela crise.

DUQUE, DA DESTRA CONSULTORIA: AUMENTO DE 30% NA PROCURA POR CONSULTORIA

O desaquecimento da economia, segundo Duque, fez com que alguns comerciantes se antecipassem a um período ainda mais severo de crise para se planejar melhor.

Controle e redução de custos, apresentação e exposição de produtos, treinamento de equipe, e alternativas para melhorar as vendas são algumas das estratégias.

Na comparação com cidades do mesmo porte e perfil de consumo semelhante também atendidas pela Destra, como Franca, Taubaté e Marília, todas no interior paulista, o consultor destaca Americana como uma das mais preocupadas com tecnologia e novos métodos de administração.

"Acredito que a procura seja superior por se tratar da Região Metropolitana de Campinas, onde o consumidor é bem mais exigente", diz. "As lojas se sentem mais pressionadas a inovar".

Na opinião de Elton Eustáquio Casagrande, economista da Unesp Araraquara, quando o município perde ou reduz a capacidade de manter os bens públicos e honrar com as despesas, coloca-se em risco todas as atividades empresariais da cidade.

No caso de Americana, Casagrande segue o mesmo raciocínio dos comerciantes: 2017 será ainda mais difícil e pode tirar o fôlego do município.

De acordo com o economista, é preciso adotar medidas extremas imediatamente, como redução na quantidade de cargos comissionados, auditoria de gastos públicos e mudança de postura da classe política.     

Para Dimas Zulian, presidente da Associação Comercial e Industrial de Americana (Acia), 2017 será um grande desafio para o comércio da cidade. Ele aponta a formação e a capacitação técnica, como os alternativas para enfrentar o atual cenário econômico.

ZULIAN, DA ACIA, ACREDITA EM CAPACITAÇÃO TÉCNICA CONTRA CRISE

"Em período de crise, o papel da Acia é criar ferramentas que abram oportunidade para que os empresários, de preferência, não entrem na crise, ou para que pelo menos, saibam como sair dela", diz.

Com essa finalidade, a entidade criou no último semestre uma Escola de Negócios dentro de sua própria sede com cursos e palestras sobre as principais tarefas das empresas varejistas.

*FOTOS: Mariana Missiaggia

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