Comércio paulista elimina 102 mil vagas em dois anos de crise
Isso devido à queda de vendas e fechamento recorde de lojas no mesmo período, de acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC)

O comércio paulista eliminou pouco mais de 102 mil vagas nos últimos dois anos, de acordo com a CNC (Confederação Nacional do Comércio), com base em dados do Caged (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego), do Ministério do Trabalho (MT).
No mesmo período, mais de 200 mil lojas foram fechadas no varejo brasileiro, em decorrência da mais devastadora recessão econômica enfrentada pelo setor.
O número de demissões registradas no ano passado, que é recorde na história do comércio paulista, representa 28,5% dos 357 mil postos de trabalho que evaporaram no setor em todo o país.
Das 102 mil demissões realizadas em 2015 e 2016, 49 mil foram feitas por lojas localizadas na Região Metropolitana de São Paulo e 28,5 mil, na capital paulista.
Para comparar: em 2010, o setor chegou a criar quase 150 mil vagas, o que demonstra seu vigor em fases de expansão da economia.
O fechamento de postos de trabalho no Brasil e em São Paulo é reflexo, principalmente, de uma queda acentuada de vendas das lojas, de acordo com Fábio Bentes, economista da CNC.
No Brasil, o faturamento real do varejo, incluindo o comércio de veículos e material de construção, caiu 8,7% no ano passado no país e 7% no Estado de São Paulo.
As lojas de vestuário e calçados foram as que mais demitiram nos últimos dois anos no Estado de São Paulo -aproximadamente 35,3 mil pessoas.
O comércio de artigos de uso pessoal e doméstico aparece em segundo lugar no ranking das demissões (20,6 mil), seguido do de material de construção (19,3 mil). Veja no quadro abaixo as demissões por ano e por setor.
O varejo brasileiro emprega aproximadamente 7,7 milhões de comerciários, um terço deles no estado de São Paulo.
De acordo com análise de Bentes, o comércio paulista exibiu maior resistência à crise. A participação do estado sobre o número de fechamento de vagas (28,5%) é inferior à fatia do estado em relação ao total de lojas do país (30%).
“Custa caro contratar e demitir. Os lojistas de São Paulo tentaram segurar até que não deu mais”, diz Bentes.
Cláudio Conz, presidente da Anamaco, a associação que reúne as lojas de material de construção, diz que o faturamento real do setor caiu 6% no ano passado em relação a 2015.
Muitas empresas não resistiram à queda abrupta de receita. De acordo com ele, cerca de mil lojas de material de construção fecharam as portas no país no ano passado.
No setor de vestuário, a situação não é diferente. Em 2016, quase mil confecções, entre elas muitas que operam também lojas, deixaram de pagar a contribuição sindical obrigatória para o Sindivestuário, sindicato que representa o setor, ou porque fecharam as portas ou porque estavam descapitalizadas.
No setor de veículos, o tombo também foi feio. De janeiro de 2015 a junho de 2016, 1.291 concessionárias encerraram as suas atividades no país, o que resultou em demissão de 126 mil funcionários, de acordo com a Fenabrave, a federação dos distribuidores de veículos.
Queda de receita foi também a principal razão do encolhimento no segmento, de acordo com a Fenabrave.
As vendas de veículos novos foram 20,1% inferiores em 2016 na comparação com 2015. As 2,05 milhões de unidades comercializadas representam o menor volume de vendas registrado pelo setor desde 2006.
Para ter uma ideia de como esses dois setores sofreram com a crise, basta percorrer ruas e avenidas que concentram as lojas de roupas e concessionárias de veículos e observar a grande quantidade de pontos fechados com placas de ‘aluga-se’ ou ‘vende-se’.
Mas há sinais de que que o pior da crise já passou. O movimento de vendas a prazo do comércio varejista paulistano aumentou 5,9% na primeira quinzena de fevereiro em comparação com o mesmo período de 2016. É o que registra o Balanço de Vendas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Para Bentes, a queda da inflação - o IPCA de janeiro, de 038%, foi o menor para o mês de toda a serie história do IBGE, iniciada em 1994 - abre espaço para cortes mais ousados da taxa de juros, o que pode vir a beneficiar os segmentos que mais dependem de crédito, como carros, eletrodomésticos e móveis.
LEIA MAIS: Como o varejo deve reagir ao terceiro ano de crise?
A tendência, de acordo com ele, é de que segmentos mais dependentes de preço, como alimentos e roupas, reagirão neste primeiro semestre, e os que dependem mais de financiamento, no segundo semestre.
O varejo de construção já sentiu uma reação do mercado neste início de ano. Em janeiro, de acordo com Conz, as vendas de material de construção cresceram 4% em relação a igual mês do ano passado.
“Se as vendas crescerem entre 3% e 4% neste ano não deverá haver mais fechamento de lojas e demissões. Pode haver até contratações”, diz o presidente da Anamaco.
Perspectivas melhores para o setor já foram identificadas em pesquisa que a associação faz todo o mês com cerca de 550 lojas de material de construção espalhadas pelo país.
A expectativa de Bentes é que o varejo obterá um desempenho melhor neste ano do que no ano passado e que as lojas paulistas possam ter resultado melhor do que a média nacional.
LEIA MAIS: Poder de compra dos brasileiros será limitado até 2026
FOTO: Fátima Fernandes/Diário do Comércio