Com recessão, grandes empresas buscam oportunidades lá fora
É este o caso da BRF, que reúne as marcas Sadia e Perdigão. Também as pequenas e médias empresas vêm sendo atraídas pela nova onda

A crise econômica, agravada pelo cenário político turbulento, tem acelerado os planos de expansão de empresas brasileiras no exterior.
Com o real desvalorizado, muitas companhias, sobretudo as de commodities, buscam ampliar as exportações. Boa parte também tem arriscado a abrir subsidiárias em outros países, como forma de diversificar receita e reduzir a dependência do mercado interno.
O fluxo maior de expansão no exterior, segundo especialistas ouvidos pelo Estado, é para os Estados Unidos, reflexo do maior potencial do mercado consumidor americano.
As consultas para investir nos EUA saltaram 70% no ano passado, para 7,6 mil, de acordo com a Câmara Americana de Comércio (Amcham), com base em downloads baixados no site da Amcham por interessados em fazer negócio nos EUA.
O mesmo movimento, um pouco mais contido, foi observado para o Reino Unido. No mesmo período, houve acréscimo de 30% em consultas para investir na região, segundo a agência britânica de comércio e investimentos (UKTI), que conta com 82 empresas brasileiras, de diferentes portes, e espera crescimento de 20% este ano.
TRANSFERÊNCIA
Não à toa, os dois principais bancos privados brasileiros (Itaú e Bradesco) transferiram sua sede na Europa para Londres. Antes em Luxemburgo, o Bradesco se mudou no ano passado para se aproximar dos investidores globais, diz Marcelo Cabral, executivo do Bradesco na Europa.
Em franco processo de internacionalização, o Itaú transferiu em 2012 a sede de Portugal para Londres. Renato Lulia, presidente do Itaú BBA Internacional, diz que a mudança foi estratégica.
De Londres, Lulia também coordena as operações da Ásia e Oriente Médio. "Vale lembrar que há mais estrangeiros interessados em investir no Brasil, porque o País está barato. Como um banco internacional, ampliamos daqui as operações de fusões e aquisições."
O exigente mercado europeu, mais protecionista, também está na mira das empresas de alimentos. No ano passado, o JBS avançou no Reino Unido com a aquisição da Moy Park, na Irlanda, que era do grupo Marfrig.
A BRF (dona de Sadia e Perdigão) anunciou no fim de 2015 a compra da Universal Meats, com foco em alimentação fora do lar na Inglaterra, por £ 34 milhões. "Entre os 28 países da comunidade europeia, a Inglaterra é o que mais importa carne de frango", diz Roberto Banfi, presidente da BRF na Europa. "O investimento na Europa responde por uma fatia importante do faturamento da BRF no exterior."
No processo de internacionalização, a BRF comprou ainda uma operação na Argentina e outra na Tailândia que, com a Universal Meats, vão dobrar a capacidade de produção fora do Brasil, para 8% do total.
PMEs
Empresas brasileiras de pequeno e médio portes estão avaliando ir para os Estados Unidos. A demanda já estava aquecida nos últimos anos, mas começou a crescer, a partir de 2014.
A indústria Marisol e a farmacêutica Biolab, uma das mais inovadoras do País, estão entre as que estudam entrar no mercado americano, apurou o jornal O Estado de S. Paulo.
"Já havia uma grande procura, mas as incertezas com os rumos da economia, após a última eleição presidencial, aceleraram o processo de decisão de alguns empresários", diz Pedro Drummond, advogado e sócio da empresa Drummond, com sede em Boston (EUA) e escritórios no Brasil.
A empresa presta consultoria para empresários que pretendem investir no território americano e tem o apoio da Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham).
Em 2015, a Drummond prestou consultoria para 120 empresas que investiram nos EUA. Em 2014, havia assessorado 85 companhias.
"Temos três perfis de investidores. O primeiro é formado por empresas que planejam a internacionalização para reduzir a dependência do mercado brasileiro. O segundo grupo é formado por empresas de tecnologia, que buscam acesso a financiamentos mais baratos fora, uma vez que o Brasil está com crédito restrito. O terceiro é formado por investidores pessoa física", afirma.
O laboratório farmacêutico Biolab, controlado pela família Castro Marques, é uma das empresas que procuraram a Drummond para colocar os pés nos EUA.
Cleiton de Castro Marques, presidente e um dos sócios do laboratório brasileiro, afirmou que já abriu um escritório em Miami para prospecção de negócios.
Segundo ele, o objetivo é adequar os dossiês de medicamentos com os órgãos reguladores americanos, o que poderá expandir o campo de atuação do grupo brasileiro. A Biolab ainda está investindo em um centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em Toronto, no Canadá.
A rede de lojas Marisol também analisa ir para os Estados Unidos para se internacionalizar. Esse projeto, contudo, está em fase inicial, segundo informações da empresa.
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A companhia está sendo assessorada pela WTC Business Club, que dá apoio a empresas que pretende disputar o mercado externo. "Não estamos restritos aos Estados Unidos", disse o presidente da WTC Business Club, Bruno Bomeny.
Segundo ele, há pelo menos 100 empresas que estão sob sua consultoria. "A WTC Business atua no Brasil desde 1995 e tem filiais em Belo Horizonte, Curitiba, Joinville e Florianópolis. Temos mais de 100 associados e promovemos cerca de 150 eventos por ano."
Na quinta-feira (25/02), a unidade do WTC Business Club do Brasil em Fort Lauderdale (Flórida) vai realizar uma reunião com cerca de 80 executivos dos EUA e da América Latina para discutir oportunidades de negócios no Estado da Flórida.
FOTO: Estadão Conteúdo