Chegada de montadora impulsiona investimentos em Iracemápolis
Como a pequena cidade do interior se prepara para oferecer mão-de-obra e receber novos investimentos e moradores

A 169 quilômetros da capital, Iracemápolis, na região de Piracicaba, vem se preparando para mudar seu perfil econômico. Com a construção de uma fábrica da Mercede-Benz, a prefeitura já prevê dobrar o orçamento da cidade e aumentar os postos de trabalho em 55% até 2016. E em até dez anos a população saltará de 20 mil a 31 mil habitantes.
Com uma economia hoje dependente do setor sucroalcooleiro e basicamente sem infraestrutura, Iracemápolis tem a sorte de uma localização privilegiada, que permite acesso direto as rodovias Bandeirantes, Anhanguera e Washington Luís. Além disso, o município está a 30 minutos de Piracicaba, com ampla variedade de fornecedores de autopeças. Está também a 40 minutos de Campinas, importante reduto de pesquisa e tecnologia e a 80 quilômetros do aeroporto de Viracopos. Tudo isso contribuiu para que a cidade se tornasse o mais novo endereço da multinacional alemã numa disputa com Salto (SP) e Joinville (SC).
Ao confirmar a presença da marca na cidade, a Prefeitura concedeu isenção de impostos até que o valor do tributo alcance o montante investido na planta física ou em até 20 anos. Até o primeiro semestre de 2016, quatro indústrias de grande porte e outras 50 pequenas irão se instalar próximas a Mercedes em um loteamento industrial, de acordo com o prefeito de Iracemápolis Valmir Gonçalves de Almeida (PT).
A nova sede da montadora, que deve começar a produção em 2016, já está em construção na altura do quilômetro 8 da rodovia Luís Ometto (SP-306), que liga Iracemápolis a Santa Bárbara d'Oeste, em uma área de 2,5 milhões de metros quadrados.
INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO
Outra novidade importante para o município é a construção de uma unidade do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) que deve abrir as portas ainda esse ano para cerca de 1.500 alunos, em 4.500 metros quadrados, totalizando um investimentos de R$ 33 milhões. Segundo Walter Vicioni Gonçalves, diretor regional do Senai-SP, a inauguração da unidade acompanha a forte migração das indústrias para o interior.
A escola irá oferecer cursos ao setor automotivo e sucroalcooleiro para atender diretamente a demanda da Mercedes e da Usina Iracema. Para Carlos Fernando Zanetti, diretor agroindustrial da Usina Iracema, do grupo São Martinho, a nova unidade do Senai contribui para a preparação de mão-de-obra especializada e amplia as oportunidades para o Grupo, que também administra a empresa Vale do Mogi, especializada em projetos residenciais e industriais.
A projeção de 4 mil novas vagas de emprego deve elevar o crescimento comercial e empresarial da região, que ainda é limitado. Sem hotéis, Iracemápolis tem apenas um restaurante em meio a quase 80 estabelecimentos comerciais. Um cenário que deve mudar bastante nos próximos anos, segundo a avaliação de Almeida, que almeja o crescimento de 80% no comércio da cidade nos próximos anos.
A abertura de dois novos hotéis, cujas bandeiras ainda são mantidas em sigilo, a recente inauguração de lojas como Cybelar e Magazine Luiza e o lançamento de dois empreendimentos imobiliários - com quase 100 apartamentos cada um - já sinalizam o tamanho do impacto na cidade. “Certamente, Iracemápolis terá um crescimento proporcional ao investimento que ela está recebendo”, diz Almeida.
MERCADO IMOBILIÁRIO GANHA FORÇA
No ano passado, a formação de dois novos loteamentos (um residencial e um misto) próximos à fábrica da Mercedes, atraiu compradores imediatos. Proprietário do único restaurante da cidade, João Elizandro Moraes Silveira, de 35 anos, tem planos de expandir seu negócio. Mesmo em uma cidade pequena, ele atende 350 pessoas diariamente, somente no almoço. Aos finais de semana, esse número chega a 550.
Ao saber da chegada da multinacional, Silveira comprou três terrenos (750 metros quadrados) próximos à nova construção e aguarda a liberação do loteamento para dar início as obras de seu novo negócio. “Essa notícia trouxe ânimo ao comerciante, e acredito que em agosto começamos a obra do novo restaurante, que terá 400 lugares”, diz. A intenção de Silveira é seguir o modelo atual de atendimento com rodízio (R$42,90), self-service (R$32,90) e por quilo (R$37,90).
Morador de Iracemápolis há 12 anos, Marlon Souza, 44 anos, biólogo, comprou dois lotes de 250 metros quadrados. O plano é construir e obter uma renda extra com a locação de imóveis. “Acredito que a procura por aluguel possa crescer no futuro”, diz. Na mesma área, Alan Fracção, 31 anos, engenheiro agrícola, optou por apenas um terreno na expectativa de vendê-lo nos próximos anos. “Acredito que em cinco anos terei um bom retorno, pois essa é a chance que a cidade tem para crescer e se valorizar”, diz.
Enquanto muitos querem comprar, poucos querem vender, à espera da supervalorização. Natural de Iracemápolis, José Reginaldo de Souza, 50 anos, agricultor, tem em mãos um verdadeiro tesouro - uma propriedade de 39 hectares. Apesar de já ter recebido boas propostas e das visitas semanais de dezenas de corretores, o agricultor prefere adiar a venda. “Não vamos barrar o progresso da cidade, mas estamos aguardando o melhor momento. Para isso, conto com a consultoria de um advogado e do próprio prefeito”, diz.
“Não vamos barrar o progresso da cidade, mas estamos aguardando o melhor momento", diz morador.
O mercado imobiliário da cidade confirma a expectativa do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) que prevê um crescimento do setor de 0,5% em relação a 2014. De acordo com o prefeito, após o lançamento de lotes no ano passado, atualmente, a cidade tem apenas 20 lotes comerciais disponíveis e está prestes a lançar um residencial fechado de alto padrão para atender aos diretores e executivos. “Temos que sair na frente e oferecer opções para que esses profissionais não as procurem em cidades vizinhas como Piracicaba e Limeira”, diz Almeida.
Para estimular o desenvolvimento do comércio, a ACIAI (Associação Comercial de Iracemápolis) oferece 20% de desconto em cursos de graduação e pós-graduação para os associados em faculdades conveniadas. Na opinião de Celso Sidnei Domiciano, de 59 anos, presidente da ACIAI, a ausência de boas opções de especialização na cidade desestimula os moradores a se qualificarem. Oferecer o desconto foi uma maneira encontrada por Domiciano para estimular os associados e também seus filhos a estudar. “É importante para a cidade ter moradores com qualificação. Já temos mais de cem alunos cadastrados”, diz.