Cacau Show tem o live commerce e a internacionalização como metas em 2025

Lilian Rodrigues, diretora de marketing da empresa, diz que está sendo preparado um estúdio ambientado como uma cozinha para as lives. No campo internacional, Colômbia e Estados Unidos são mercados prioritários

Mariana Missiaggia
27/Nov/2024
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Cacau Show tem o live commerce e a internacionalização como metas em 2025

O ano de 2024 para a Cacau Show foi marcado pela compra do Playcenter, inauguração do segundo hotel da rede, em Águas de Lindóia, negociações para a construção de um parque temático em Itu e pela reabertura da fábrica de Linhares, no Espírito Santo, atingida por um incêndio há um ano.

Somado a tudo isso, a previsão é que a rede feche o ano com 4.750 unidades e um faturamento de cerca de R$ 6,8 bilhões, mais de 30% acima do ano passado - mantendo um ritmo de inaugurações entre 500 e 1 mil franquias por ano.

Com a lição de casa em dia, a missão para 2025, segundo Lilian Rodrigues, diretora de marketing da Cacau Show, será focar nas vendas ao vivo, ou live commerce, e na internacionalização da marca, que deve começar pela Colômbia e Estados Unidos. 

Na empresa desde 2014, após uma passagem pelo O Boticário, Lilian ajudou a construir a seção de trade marketing na Cacau Show, passou pelo time de vendas diretas, produtos e outra dezena de áreas até assumir como diretora.

Em um retrospecto de como o negócio fundado por Alê Costa se tornou um dos principais players do setor de chocolates, a executiva detalhou ao Diário do Comércio os planos para fortalecer esse ecossistema.

Com o desafio de mapear e avançar em territórios inexplorados e entender qual o peso do lado Cacau e do lado Show da marca, que comercializam, respectivamente, chocolate e entretenimento, a diretora de marketing é taxativa ao dizer que também não perde a concorrência de vista.

"Queremos dar clareza para o consumidor porque se trata de uma categoria com baixa fidelidade. Os clientes navegam por algumas marcas de fácil acesso, como nos supermercados, onde há muitos preços e opções. É a força da marca que leva um cliente até uma loja especializada", diz Lilian.

Com 35 anos, a Cacau Show tem como principal concorrente a Nestlé, que em 2023 adquiriu uma participação majoritária no Grupo CRM, que controla as marcas Kopenhagen e Brasil Cacau. Mas Lilian garante que entrar no varejo e brigar por espaço nas prateleiras ainda não faz parte dos planos da rede.

Isso, claro, se restringe ao Brasil. Quando o assunto é internacionalização - uma das prioridades para 2025 -, a executiva diz avaliar possibilidades na Colômbia e outros países da América do Sul, especialmente pela proximidade física, legislação local, regulamentação de produtos e modelos de negócios.

No início de 2023, a marca passou a abastecer cerca de 50 lojas norte-americanas, um mercado para chocolates que a Cacau Show tem como referência, segundo Lilian. Por lá, percebeu que o consumidor é bem-disposto a provar marcas novas e, preferencialmente, opta pela linha de chocolates ao leite, como a laCreme.

Em alguns desses comércios norte-americanos, a Cacau Show possui um mobiliário específico que dá destaque à marca brasileira. Em outros, divide as prateleiras com a concorrência local. O plano, segundo a executiva, é testar a entrada em novos mercados de forma gradual e controlada, garantindo que seus produtos ganhem espaço junto ao público-alvo antes de uma expansão mais robusta.

Também é evidente o olhar da rede para a China, país que lidera a tendência de live commerce. Prioridade da Cacau Show para o próximo ano, a combinação de comércio eletrônico com transmissões ao vivo se tornou um fenômeno entre os asiáticos.

De acordo com o Ministério do Comércio da China, esse movimento despontou em 2020, quando foram realizadas mais de 20 milhões de sessões desse gênero, gerando um faturamento de cerca de US$ 150 bilhões. No país asiático, o que materializa a força desse comportamento é o surgimento de shoppings dedicados quase que exclusivamente ao live commerce. Em algumas dessas estruturas, 99% das vendas provêm de lojas que utilizam os espaços como estúdios para transmissões em tempo real, enquanto apenas 1% resulta do fluxo físico de visitantes. 

Com 4,5 milhões de seguidores no Instagram oficial da Cacau Show e outros 2 milhões na conta pessoal de Alê Costa, o grupo vê muito potencial no formato, que ainda não é praticado pela empresa, mas que já acontece pelas mãos dos franqueados que chegam a esgotar produtos com as transmissões ao vivo.

"Estamos montando um estúdio ambientado como uma cozinha e espaço para lives. Sem dúvidas, uma das estratégias para crescer fora do ponto físico está no live commerce. Temos hoje uma equipe dedicada a isso e será nosso grande foco em 2025."

O VALOR DA VENDA DIRETA

Em uma guinada de reinvenção, tem sido muito comum encontrar pessoas vendendo produtos nos moldes de venda direta, como Avon e Natura faziam no passado - um canal muito relevante para a Cacau Show, segundo a executiva. 

A empresa acumula mais de 100 mil MEIs na venda direta e há três meses explora ainda mais a modalidade por meio do quadro Até Onde Você Chega? Cacau Show. Durante uma hora, aos domingos, alguns revendedores da marca têm as suas histórias compartilhadas em rede nacional, no SBT, no programa Domingo Legal, junto com Alê Costa, fundador da empresa de chocolates.

Na dinâmica, os participantes respondem a perguntas de dificuldade crescente por meio de um painel com 100 algarismos e cinco níveis desafiadores. À medida que avançam, têm a chance de ganhar mais dinheiro com prêmio máximo de R$ 1 milhão.

O projeto, pensado para ampliar o alcance da marca, tem também o objetivo de atrair novos revendedores e reforçar a importância e o impacto da venda direta no Brasil. Na opinião de Lilian, são histórias de superação e sucesso que inspiram e fazem o modelo ganhar destaque no Brasil.

Para além dessa visibilidade, Lilian acredita que a força da rede, a segmentação de clientes, sistemas específicos, oferta de produtos e a condição comercial desses revendedores formam um desenho estratégico para o sucesso desse tipo de negócio.

"Estamos chegando perto de um limite de lojas físicas e a venda direta cresceu pouco mais de 50% em 2024. Muito do nosso crescimento ainda virá disso. Percebemos que o consumidor gosta muito desse tipo de relacionamento mais próximo e o revendedor capta um olhar muito mais apurado do que é tendência de consumo."

FEBRE DO PISTACHE

Nessa corrida pelo consumidor, Lilian conta que algumas decisões são basicamente impostas pelo cliente. Na moda, o pistache está no cardápio de praticamente todas as confeitarias e entre os ingredientes utilizados pelas grandes marcas de chocolate. Na Cacau Show, o maior uso do pistache pode ser percebido com facilidade nas gôndolas – assim como em boa parte do varejo – e já tem performado no faturamento geral da marca.

Além de ter sido o sabor de panetone mais vendido (e esgotado) em 2023, em outubro deste ano, a marca lançou um festival dedicado ao pistache. O plano era faturar R$ 100 milhões com os 10 produtos da linha em 20 dias. Hoje, os itens com a oleaginosa representam cerca de 1,5% do faturamento das operações ao longo do ano, mas passaram dos 6% durante a campanha.

Um fenômeno que já impacta até os dados sobre importação. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), foram importados 601 quilos de pistache em 2023. O valor é quase o dobro da média dos cinco anos anteriores, em torno de 340 quilos por ano.

Além de ajudar nas vendas, a adição de um novo ingrediente contribui para, de certa forma, driblar a elevação do preço do cacau, que encareceu em até 14% os preços de parte dos produtos. O índice está acima da inflação — o acumulado em 12 meses é de 4,77% —, mas menor do que a média do mercado de chocolates, de 18%, segundo a consultoria Kantar.

UM NEGÓCIO QUE NÃO TEM FIM

Com fazendas e empreendimentos que vão desde o plantio do grão de cacau, passam pela fabricação do chocolate e chegam a projetos que envolvem montanha-russa e resorts, Lilian não vê limites para a expansão da rede.

"Nossa história começou com um contato rápido com o cliente. Em nossas primeiras lojas, de 20 metros quadrados, os clientes ficavam cinco minutos. Com as cafeterias, isso passou para 1h30. Nas megas, chegam a ficar 3h e com os hotéis, passamos dias juntos. É o sonho de qualquer marca, é muita intimidade e responsabilidade", disse.

O primeiro hotel do grupo, o Bendito Cacao, em Campos do Jordão, onde a empresa também mantém uma fábrica, foi adquirido em dezembro de 2020, reformado em 2021 e inaugurado no ano seguinte. Em apenas um ano de operação, o hotel recebeu mais de 43,4 mil hóspedes.

O segundo, inaugurado em 2024 em Águas de Lindóia, começou a ser planejado em julho de 2022. Este empreendimento já recebeu mais de 18 mil hóspedes. Receitas com mel de cacau, fontes de chocolate, museu dedicado ao cacau, spas com esfoliações feitas com cascas do fruto e massagens com manteiga de cacau são algumas das experiências temáticas.

Tanto em Campos do Jordão quanto em Águas de Lindóia, a Cacau Show fica com o título de maior contratante da cidade. Para 2025, a expectativa é que as duas unidades gerem cerca de R$ 100 milhões em receita e já existem planos para que novas unidades sejam inauguradas nos próximos anos.

UMA NOVA IDENTIDADE E EXPERIÊNCIA MAIS FLUÍDA

Outro feito de 2024 foi o plano de reestruturação dos pontos físicos, que começou há dois anos, quando a empresa decidiu padronizar tudo, tendo como base as Mega Stores. Essas lojas possuem uma experiência completa da marca, onde o serviço de cafeteria tem uma relevância entre 25% e 30% nas vendas de bebidas, pães e sobremesas, como a unidade do Morumbi Shopping, em São Paulo.

A rede adotou uma paleta de cores que remetem ao fruto do cacau. A cenografia inclui também folhagens, cordas e outros adereços que lembram uma fazenda. Cerca de 40 lojas já operam no novo formato, sendo que dez delas são novas e já nasceram com o novo design.

O investimento tem trazido resultados na ponta, segundo a diretora. Os números de outubro mostram que as mesmas unidades que a rede tinha no mesmo período do ano passado cresceram 16,9%. Nas lojas reformadas, a alta chega a 27%. 

Levar tecnologia para dentro das lojas também faz parte desse pacote, diz Lilian. Um dos destaques é um avatar 3D interativo do CEO da Cacau Show, que recepcionará os clientes e apresentará a história da marca, interagindo com os visitantes de algumas lojas a partir do início de 2025. 

Essas lojas também foram projetadas para serem omnichannel. Essa gestão unificada de vendas, estoque e clientes, tanto no ambiente físico quanto no on-line, deve garantir, segundo a diretora, uma operação mais fluida. Toda conectada, a loja terá um sistema de análise de fluxo de clientes que utiliza câmeras e inteligência artificial para monitorar o comportamento dos visitantes, sendo capaz de identificar o perfil dos consumidores, como gênero, idade, humor, além de dados como o tempo de permanência e áreas de maior interesse dentro da loja, o que ajudará a medir a satisfação do cliente durante a jornada de compra no estabelecimento.

 

IMAGEM: divulgação

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